Editorial : Sociedade está denunciando violência contra mulher

Ainda existe uma barreira muito grande a ser superada, mas dados recentes revelam que a população está menos tolerante em relação à violência, especialmente contra a mulher.
Os dados de 2016 do Ligue 180 mostram que houve um crescimento no número de familiares, vizinhos e amigos que ligaram para relatar violências sofridas por mulheres, ao mesmo tempo em que diminuiu o número de registros feitos pela própria vítima. Essa mudança no perfil de quem denuncia é um indicativo de maior conscientização da sociedade de que a violência contra as mulheres é crime e desconstrói a ideia de que violência doméstica é um assunto privado.
Segundo a Secretaria de Políticas para as Mulheres isso se deve ao fato de a sociedade estar cada vez mais envolvida na luta pelo enfrentamento da violência, das políticas públicas e das campanhas.
Além disso, as pessoas também estão mais conscientes de que podem denunciar no Ligue 180 de forma anônima, o que explica o aumento no número de denúncias.
Em março deste ano, o Ligue 180 passou a ser um disque-denúncia, o que permitiu que as denúncias apresentadas nas ligações seguissem direto para o órgão de segurança do município onde a agressão foi identificada, e se transformassem em um boletim de ocorrência. Antes, a central apenas registrava a denúncia.
O conhecimento da lei também é fator importante para o aumento no número de denúncias e no afastamento do agressor da vítima. De acordo com o relatório do Ipea – Instituto de Pesquisa Aplicada, Avaliando a Efetividade da Lei Maria da Penha, divulgado em março deste ano, mais de 95% dos entrevistados disseram que conhecem ou já ouviram falar da Lei Maria da Penha. Quase 85% acreditam que a Lei pode evitar ou diminuir a violência contra as mulheres.
Outro ponto que contribui com o sucesso são os resultados efetivos de julgamentos, tornando de conhecimento popular alguns casos.
Sabemos que ainda tem muito o que ser feito, mas só com a plena participação das pessoas é que esse quadro pode ser mudado. Esperamos também que as próprias vítimas façam a denúncia da agressão, que não é só física, pode ser verbal, por exemplo.
De todo modo, o que buscamos é o fim da violência contra a mulher e contra toda a sociedade. Especialmente contra mulher, vale relembrar aquele ditado: “quem bate em mulher é covarde”.