Lembranças Literárias : Soneto

Ontem, sorrindo, a virgem linda e flava,
tinha um fulgor no olhar, resplandecia!
Hoje, agourenta, veio a morte fria.
Que a levou, presa enfim, como uma escrava!…

Aquele rosto moço que lembrava
todo um poema de vida e de alegria
jamais verei, dizia (e aqui chorava
a minh’alma num grito de agonia)…

Ao longe, alveja entanto o cemitério,
todo tristeza e dor, todo mistério…
E a alma da gente, se confrange inteira!…

E aquele rosto lindo que ora passa
num sono azul, feliz, lirial, sem jaça,
há de ser uma pútrida caveira…

Cândido Dinamarco,
Tribuna do Norte, 3 de abril de 1921

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