Tribuna do Norte – 135 anos – síntese de uma caminhada secular

Faltava um mês para a cidade de Pindamonhangaba completar os seus 177 anos de emancipação político-administrativa quando o jurista, político e poeta Dr. João Marcondes de Moura Romeiro, no dia 11 de junho de 1882, fundou o jornal Tribuna do Norte. “O aparecimento de mais um lutador na vasta arena do jornalismo, onde agigantam-se debatem-se e decidem-se todas as questões que interessam à sociedade não constituirá por si só um acontecimento que mereça os aplausos do público; mas seguramente significa que há quem esteja disposto a servir o seu país, e servir com sacrifício”.
Com um editorial de capa, iniciado pelo parágrafo acima, o jornal era apresentado à comunidade. Vindo à luz na tipografia que o denominou, a Typographia Tribuna do Norte, que funcionava em um sobrado da rua Independência nº 2. Essa rua, que antes era chamada rua Direita e também já foi rua José Bonifácio, é a rua Bicudo Leme (começa em frente ao Santuário Mariano – igreja Matriz de Pindamonhangaba).
Athayde Marcondes, em seu livro Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos (Tipografia Paulista, São Paulo-SP, 1922), cita que no ano de 1902 ele, Athayde, “adquiriu por compra as oficinas do jornal Tribuna do Norte”. Na mesma obra consta que em 1914 a tipografia foi adquirida pelo Dr. Claro César.
Em 1934, quando passou a ser órgão oficial do Partido Republicano Paulista – PRP, funcionava nos fundos do prédio do Clube Literário e Recreativo, que se localizava na avenida Fernando Prestes. No ano seguinte, em 1935, foi transferida para a rua Prudente de Moraes, esquina com a travessa Rui Barbosa, onde funcionou até fins de 1937. Até 21 de julho de 1942 pertenceu ao dr. Claro César, a partir dessa data seu proprietário passou a ser José Martiniano Vieira Ferraz. Após a morte de Martiniano, seu filho, Darcy Vieira Ferraz, tornou-se o responsável pelo jornal. Em 1948 foi arrendado pela União Democrática Nacional – UDN. Em 1955, pela Sociedade de Amigos de Pindamonhangaba.
Apesar dos arrendamentos, até junho de 1962 o jornal pertenceu a Darcy Vieira Ferraz, sendo então doado à Prefeitura. Pertencendo a Prefeitura, passou a circular como “Órgão Dedicado aos Interesses de Pindamonhangaba”, até que a Lei 1084, de 6/3/1969 – assinada pelo prefeito Dr. Caio Gomes Figueiredo – o legalizou como Imprensa Oficial para divulgações de leis e atos administrativos.
De 18 de março de 1978 a 19 de setembro de 1980 foi composto pelo sistema offset (impresso na gráfica do jornal Valeparaibano, em São José dos Campos), graças a uma iniciativa do jornalista Luiz Salgado Ribeiro. Infelizmente, por falta de condições financeiras, voltou a ser composto tipograficamente a partir da edição de 10 de outubro daquele ano.
Desde sua fundação, em 1882, até o ano de 1981 (salvo o período de 1978 a 1980, mencionado acima) foi composta tipo por tipo (letra por letra).
Quase 100 anos após sua fundação é que foi adquirida a primeira linotipo e a composição passou a ser a quente (chumbo). A impressão em máquina elétrica só ocorreu a partir de 1971, até então era feita à tração humana, numa “Alauzet” adquirida por um de seus proprietários, o dr. Claro César (essa impressora encontra-se no Museu Histórico e Pedagógico D. Pedro I e Dona Leopoldina, em Pindamonhangaba).

Fundação Dr. João
Romeiro
Em 1980, por intermédio da lei 1.672 de 6/5/1980, o prefeito de Pindamonhangaba na época, Geraldo Alckmin criou a Fundação “Dr. João Romeiro” (denominação em homenagem ao fundador da Tribuna). Criada com personalidade jurídica de direito privado e destinada ao exercício de atividades jornalísticas, culturais e turísticas, esta Fundação surgia com o nobre propósito de manter o jornal Tribuna do Norte.
Criada a Fundação mantenedora, Executivo e Legislativo municipais passaram a ter responsabilidades nos destinos da Tribuna do Norte, independentemente de partido ou posição política. O Executivo, de acordo com os estatutos da Fundação Dr. João Romeiro, além da subvenção anual, cede alguns servidores municipais para completar seu quadro de funcionários. Ao Legislativo cabe aprovar ou não a verba anual destinada à Fundação mantenedora do jornal.
Saindo dos porões
Em abril de 1986, deixou os porões da Prefeitura, que funcionava no Palacete 10 de Julho, na avenida Deputado Claro Cesar, e se estabeleceu na rua dos Bentos, 450 – bairro São Benedito, onde experimentou sua fase de jornal diário. Foi diário até dezembro de 1988, retornando à sua antiga condição de semanário em janeiro de 1989, permanecendo até março desse mesmo ano, quando passou a bissemanário.
A partir da edição de n.º 6.788, de 14 a 17 de março de 1997, deixou de ser composto pelo sistema a quente (chumbão), aderindo à informatização. Para isto, foi instalada rede de computadores com impressoras e scanners e programas para editoração eletrônica. O passo seguinte foi obter seu endereço eletrônico, e-mail tribuna@iconet.com.br. Prosseguindo sua caminhada secular lado a lado com a evolução, ingressou na internet, fato ocorrido em 2001, sendo seu site www.tribunadonorte.net

Na praça Barão
do Rio Branco
A edição do jornal Tribuna do Norte de sexta-feira, 18 de junho de 2010, foi a última fechada no prédio nº 450 da rua dos Bentos. A continuidade em sua caminhada secular passaria a ter como endereço a praça Barão do Rio Branco, 25 (Largo São José). A edição seguinte já foi fechada em sua nova casa: o histórico Largo São José. Considerado centro histórico do município, o local, que já contava com a igreja São José, construção de 1848; com o antigo prédio do Legislativo (Palacete Tiradentes), construído entre 1862 e 1865; prédio do Correio, inaugurado em 1960; Externato São José, fundado em 1924 (atual Bom Jesus Externato), ganhava outra entidade centenária como vizinha, o jornal Tribuna do Norte, fundado em 1882.
O prédio, suas atuais instalações, de acordo com o projeto n° 69/2010, de autoria do vereador José Alexandre Faria e subscrito pelos vereadores Ricardo Piorino, Toninho da Farmácia, Dr. Marcos Aurélio, Dr. Jair Roma. Martim César e pela vereadora Geni Ramos – Dona Geni,o prédio público recebeu a denominação de “Domingos José Ramos Mello”.
A volta à condição
de jornal diário
A edição de nº 8.289, de 21 de janeiro de 2014, marcou o retorno do jornal à condição de diário, passando a contar com edições às terças, quartas, quintas e sextas-feiras, sendo que as edições das sextas-feiras permanecem nas bancas sábados, domingos e segundas-feiras.

Por que Tribuna
O tratamento no feminino – a Tribuna – explica-se pelo fato que no tempo de sua fundação, jornal era denominado “folha” e geralmente possuíam um só caderno. A origem da denominação “folha” surgiu em 1566, em Veneza, Itália, com a iniciativa do governo veneziano de publicar folhas manuscritas, as espalhando pelas ruas. Para lê-las, a população teria que pagar uma pequena quantia chamada “gazetta”. Foi a partir daí que a palavra gazeta (também feminina) passou a ser utilizada para denominar todas as folhas escritas, as publicações políticas, doutrinárias, literárias ou noticiosas.
Retornando ao tempo da fundação da Tribuna do Norte, temos a informação de que naquela época havia um processo tipográfico por intermédio do qual se determinava o formato (altura e largura) e o número de páginas de um periódico de acordo o número de dobras verificadas na folha de papel de impressão.
A folha sem ser dobrada (in plano) formava duas páginas; dobrada ao meio (in fólio) formava quatro páginas; dobrada duas vezes (in quarto) formava oito páginas etc.
A edição nº1 da Tribuna saiu com quatro páginas (in plano), formato 30x46cm, diagramada em cinco colunas, exceto a última página, destinada aos anúncios.
Semanário publicado aos domingos, a folha liberal, depois republicana, do Dr. João Romeiro surgiu com a missão de ser um manifesto, uma “tribuna”. Não o lugar elevado onde os oradores falam, mas antes o púlpito modesto destinado à prática do bom jornalismo.

Por que “do Norte”
O complemento “do Norte” foi atribuído porque Pindamonhangaba, localizada no médio Vale do Paraíba, estava incluída num antigo itinerário dos bandeirantes denominado “Caminho do Norte”, por localizar-se ao norte da província de São Paulo, ou seja, da cidade de São Paulo, o ponto de partida dos Bandeirantes rumo a Minas Gerais.
Obs.: Pindamonhangaba recebeu o título de “Princesa do Norte” em 1860, quando o cronista e poeta Emílio Zaluar em “peregrinação pelo norte da província”, visitou a cidade e se encantou com o lugar. Não foi somente a beleza bucólica que impressionou Zaluar, mas também a vida cultural e social dos habitantes daquela Pindamonhangaba de títulos nobiliárquicos, brasões e palacetes.

Participação
na história
O jornal Tribuna do Norte participou e divulgou importantes acontecimentos históricos do país como: Abolição da Escravatura (seu fundador era abolicionista), Proclamação da República (a Tribuna foi republicana), 1ª Guerra Mundial, Revolução Constitucionalista de 1932, 2ª Guerra Mundial, e, ainda no século XX, a campanha das Diretas Já.
Como a última edição do Jornal do Commercio (Rio de Janeiro-RJ), fundado em 1/10/1827, segundo mais antigo do Brasil, foi às bancas em 29 de abril de 2016, a Tribuna do Norte, com seus 135 anos de existência, agora é quinto mais antigo do Brasil (destacada posição para um órgão de imprensa do interior). Confira a relação, conforme pesquisa realizada no site de cada jornal:
1º – Diário de Pernambuco – Recife/PE (7/11/1825)

2º – O Mossoroense – Mossoró/RN (17/10/1872)

3º – O Estado de São Paulo – São Paulo/SP (1º/1/1875)

4º – O Fluminense – Niterói/RJ (8/5/1878)

5º – Tribuna do Norte – Pindamonhangaba/SP (11/6/1882)

6º – Gazeta de Alegrete – Alegrete/RS (1º/10/1882)

7º – Diário de São Paulo (Fundado sob a denominação Diário Popular, mudou o nome em 2001) – (8/11/1884)

8º – O Taquaryense – Taquari/RS (31/7/1887)

9º – Gazeta de Minas – Oliveira/MG (4/9/1887)

10º – Diário Popular – Pelotas RS (27/8/1891)
A Tribuna do Norte atualmente
Noticiando acontecimentos diversos do município e as divulgações referentes às atuações das secretarias, departamentos e setores da Prefeitura, das demais entidades públicas ou privadas, comércio, indústria etc.,o jornal prossegue em sua condição de diário do cidadão pindamonhangabense. Suas páginas seculares – são 135 anos de existência ininterrupta – registram fatos e fotos relacionados ao cotidiano, educação, cultura, esportes, sociais e demais editorias, também divulgando o Legislativo Municipal (matérias previamente elaboradas pela Assessoria de Imprensa da Câmara junto aos vereadores).
Desde janeiro de 2017, encontra-se sob a direção da jornalista Jucélia Batista Ferreira, atual presidente da Fundação Dr. João Romeiro.