História : Uma ação de bandidos ocorrida no comércio da Pinda antiga

Bandidos teriam invadido estabelecimento comercial com a finalidade de levar o cofre. Delito ocorreu durante a madrugada. O curioso é que empregados da loja estavam dormindo no local e não viram nada

Na edição de 20 de outubro de 1901 a Folha do Norte (jornal local extinto na primeira metade do século XX) divulgou uma nota policial que deve ter sido o assunto do dia na pacata cidade de Pindamonhangaba daquele início dos anos 1900. Com o intuito de proporcionar aos leitores uma comparação referente à crônica policial de hoje com relação à de quase 120 anos atrás, assim como o modus operandis dos ladrões naquele tempo, transcrevemos na íntegra o comentário do redator da folha do Norte:
“Na noite de quinta para sexta-feira passada, audaciosos gatunos planejaram um roubo na casa comercial dos senhores Casemiro Braga & Cia.
Ao amanhecer, via-se sobre a calçada o cofre de ferro em frente a uma porta que tinha sido arrombada, fato este, que como era natural, despertou a curiosidade pública.
Os gatunos, munidos de um ferro próprio para abrir portas, conhecido pelo nome de pé de cabra, forçaram uma porta do estabelecimento, o que não levaram a efeito.
Frustrada essa tentativa criminosa, tomaram a deliberação de conduzir o pesado cofre para fora, o que dá a entender que a quadrilha era numerosa.
Lançando mão da força bruta e outros artifícios de ocasião, como seja forrar o soalho com peças de fazendas para evitar o barulho da queda do cofre, parece que tiveram que erguê-lo por cima do balcão para conseguirem deixá-lo na posição deixá-lo na posição em que se achava na calçada.
A conjectura mais aceitável é que procuraram colocar o cofre em uma carroça que estava perto e como esta estivesse sem a agulha que prende a mesa sobre os varais, o objeto caiu produzindo grande barulho.
Então despertado um negociante vizinho que acudiu para observar o que se passava, os audaciosos gatunos abandonaram a presa, lamentando talvez infrutífero trabalho empregado.
Apesar disso deram prejuízo aos proprietários do estabelecimento porque estragaram o cofre, diversas peças de fazenda e muitas garrafas de bebidas consumiram durante o longo trabalho.
O fato teve lugar de uma hora da madruga em diante, porque a essa hora, afirmam as pessoas de confiança que por ali passaram, não havia o menor movimento na casa comercial arrombada.
Os empregados estavam dormindo dentro e não presenciaram ou pressentiram coisa alguma, que leva a cismar que há por aí perigosos narcotizadores.
O que não resta dúvida é que temos na terra uma poderosa quadrilha disposta a matar para roubar.
Não causará grade admiração se a polícia descobrir uma sociedade organizada com gatunos de fora e gatunos da terra.
Previnam-se o povo pra defender a sua vida e propriedade.
Na mesma noite em que os gatunos penetraram na casa dos senhores Casemiro Braga & Cia., também arrombaram a porta da confeitaria do Sr. Izidoro Ayala Rodrigues, subtraíram algum dinheiro e uma mesa que deixaram na rua que segue à Mombaça, isto depois de ser aberta e saqueada.
Ao povo compete auxiliar a polícia, o quanto possível, para descobrimento da perigosa quadrilha.”

Cachorro preto
Um mês depois do ocorrido em sua loja, o senhor Casemiro Braga foi citado na seção livre da Folha do Norte em uma nota com o título “Cachorrada”. Alguém reclama que o mesmo estaria fazendo o trajeto de sua casa até o jornal acompanhado de um cachorro preto que avançava nos transeuntes, “mordendo e rasgando roupa de senhoras da vizinhança. Para o autor, que assina sob o pseudônimo de “valente”, seu Casemiro estava se divertindo com isso e reclamando providências por parte das autoridades, ressaltava: “O tempo não anda para brinquedo”.
O reclamante talvez não tenha levado em conta que o comerciante fora recentemente vítima de ladrões e que o cachorro preto era uma espécie de segurança canino.

“Ao Cavalo de Ferro”
No livro A Vida nos Balcões da Pequena Pindamonhangaba, de Eloyna Salgado Ribeiro ( Gráfica Ativa, Taubaté-SP, 1997) vamos encontrar que a loja de seu Casemiro se chamava “Ao Cavalo de Ferro”, ficava no final da rua Bicudo Leme e era um dos armazéns atacadistas de tecidos, secos e molhados. Segundo a autora, nos armazéns como o de Casemiro, “os fazendeiros lotavam seus carros de bois com suas compras do mês, desde da carne seca até o querosene, desde o açúcar refinado até o remédio para bezerros e outros animais da roça”.
Conta também que “No ‘Ao Cavalo de Ferro’ seu Cardoso, ou Cardosinho, era o guarda-livros. Mas, às vezes ajudava Jorge Ananias e outros caixeiros no atendimento da freguesia.”

  • Final da rua Bicudo Leme por volta de 1915