História : Uma banda toca em nossos corações…

No jornal Tribuna do Norte desde 1986, foram muitas as notas, matérias e artigos que fiz divulgando a Corporação Musical Euterpe, para homenageá-la na edição de hoje desta página de história recordo uma crônica escrita em 1993.
O leitor mais jovem talvez estranhe os pontos de referência citados no artigo, há estabelecimento comercial
que nem existe mais… o cenário hoje é outro, 25 anos já se passaram!

A quem na alma ainda abriga mínima parcela de humana sensibilidade é impossível não se enveredar pelas poéticas trilhas do saudosimo ao ouvir a briosa Corporação Musical Euterpe apresentando diversas e magníficas obras musicais… A executar dobrados, valsas e prelúdios que liberam emoções e espagem romantismo através de suave encantamento.
Numa noite de fim do mês de maio, quando o inverno principiava incontinenti, caminhávamos pelo centro da cidade e quis o itinerário proposto que passássemos pela Martiniano Ferraz, sentido centro-bairro. Logo que atravessamos a Gustavo de Godoy, bem ali entre a casa de ferragens e a casa da bolacha, o som que começamos a ouvir foi deveras gratificante… Era dia, ou melhor se expressando, era noite de ensaio para os componentes da centenária Euterpe!
O quadro ao qual nos deparamos era de uma grandiosidade sentimental sem par. Não eram ainda nem 21 horas, mas a noite fria tornava semidesertas as ruas… Um ou outro transeunte passava aqui e acolá, enquanto a Euterpe ensaiava animada.
Da janela do sobrado onde o grupo de músicos praticava, a luminosidade das lâmpadas, mescladas talvez ao fulgor etéreo das notas musicais, proporcionava harmonioso contraste com a luz das ruas por onde caminhávamos…
Enquanto íamos nos distanciando daquele local íamos releembrando dos tempos de recruta, da parada militar, das festas juninas, dos eventos cívicos, dos encontros e desencontros amorosos ao som da banda no coreto.
O apelo heroico sugerido pelo ensaio da Euterpe conduzia-nos a formidáveis devaneios…
Queira a Divina Providência que o bom senso, a honestidade e a capacidade de trabalho permaneçam a favor das entidades tradicionais de nossa Pindamonhangaba. E que, apesar da realidade difícil dos competitivos dias atuais, não nos tornemos insensíveis a prazeres como o de ouvir uma banda tocar… ainda que seja “Uma música ao longe!”