História : A morte do barão de Lessa enlutou a Pinda antiga

Naquele final de 1922, quando Pindamonhangaba ainda se adaptava à vida pós áureos tempos da produção cafeeira, a cidade despertou com a triste notícia que mais um de seus ilustres filhos agraciados pelo rei Pedro II com título nobiliárquico havia partido. Elói Bicudo Varela Lessa, o barão de Lessa, filho do capitão Custódio Gomes Varela Lessa e da Viscondessa de Paraibuna, dona Benedicta Bicudo Lessa, tinha morrido…
Nascido a 1º de dezembro de 1844, Eloy Bicudo Lessa morreu no dia 30 de outubro daquele ano de 1922, a apenas um mês de completar 78 anos, quando se encontrava na capital paulista em tratamento de saúde no Sanatório Santa Catarina.
A Pinda cidade imperial dos antigos casarões e títulos nobiliárquicos e que agora experimentava carência econômica na administração do município, sentiu a partida de um filho atuante e prestativo, qualidades intrínsecas na família Lessa. Fazendeiro, político presidente do Partido Liberal em 1889, o barão de Lessa ficara nacionalmente conhecido pelos brasileiros por conta das vultosas doações feitas ao Governo Imperial, providencial auxílio no custeio da campanha do Brasil na Guerra do Paraguai.

A perda do estimado barão

A notícia do triste acontecimento mereceu registro na edição de 5 de novembro de 1922 do jornal Tribuna do Norte. Registrava a Tribuna que a sociedade pindamonhangabense perdia uma de suas mais respeitáveis e sociáveis figuras. “…uma dessas pessoas que, pela sua sólida cultura e afabilidade de trato, dão encanto e atrativo ao meio onde convivem”, assim ele era lembrado pelo jornal.
A matéria contava o tipo inesquecível que fora o barão, homem culto, inteligente e simpático a todos. Um cidadão que embora possuidor de fortuna jamais fez vistas grossas aos pobres, “sua bolsa estava sempre aberta para as instituições de caridade, era proverbial a prontidão com que concorria para toda e qualquer obra de beneficência…”
Além de homem bondoso e caritativo, o barão também era conhecido pela sua modéstia. Sobre isso, a TN relembra um fato relacionado à sua recusa em aceitar uma cadeira de senador ao Congresso do Estado. Cadeira oferecida pelo saudoso estadista político, jurisconsulto, escritor, abolicionista e republicano Américo Brasiliense de Almeida e Melo (1833/1896), e que ele recusou em favor de um amigo que lutara ao seu lado nas fileiras do Partido Liberal.
Outra passagem reveladora de seus sentimentos altruísticos e humanitários relatada pela Tribuna diz respeito à alforria espontânea que concedera aos seus escravos antes da Lei Áurea.
Segundo o jornal Tribuna do Norte no artigo referente à morte do barão, quando ele morreu já era viúvo de dona Antonia Maria Salgado. Em Athayde Marcondes (Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos – Gráfica Tupy-1922) encontramos que o barão Eloy Bicudo Varela Lessa e a baronesa Antonia Maria Salgado, filha dos Viscondes da Palmeira, tiveram quatro filhos: Coronel Custódio Salgado Lessa, casado com Cecília Bicudo Salgado, filha dos barões de Itapeva; Maria Eugênia Lessa, casada com o delegado Dr. Cornélio Lessa Júnior; Eloy Salgado Lessa, na ocasião solteiro, e Antonio Salgado Lessa , que morreu solteiro.

O sepultamento

Seu corpo foi transportado de São Paulo, no mesmo dia da morte, em trem da especial, chegando em Pindamonhangaba às 16 horas. Conta a Tribuna que na estação, “à espera do coche mortuário via-se nesta cidade o que a nossa sociedade tem de mais representativo, chamando a atenção o fato de irem prestar a sua última homenagem ao extinto pessoas de todas as classes sociais, desde o operário humilde até ao mais abastado capitalista”.
O féretro se destacou pelo número de coroas de flores naturais e artificias com dizeres profundos demonstrando a dor da perda. Após a “encomendação solene” na cerimônia realizada na igreja matriz “pegaram nas alças do caixão os parentes do finado, o Dr. Claro Cesar, Dr. Eloy Chaves e o professor Athayde Marcondes”. Foi numeroso o número de acompanhantes durante o trajeto da cidade ao cemitério.
Concluindo a matéria, o jornal Tribuna do Norte enviou “sentidos pêsames” à família Lessa.

  • À esquerda, o Palacete da Palmeira quando ainda era denominado “Solar do Barão Lessa” devido ao fato de tê-lo herdado a filha do visconde da Palmeira, dona Antonia Maria Salgado de Lessa, esposa de Eloy Bicudo Lessa, barão de Lessa - Créditos da imagem: Postais de Pindamonhangaba antiga