História : A queixa dos presos da cadeia do Largo São José

Nesta edição, nem causo nem lenda, mas uma “cutucada” da antiga imprensa local, representada pela Folha do Norte (jornal extinto e que foi ferrenho adversário da Tribuna do Norte). O assunto diz respeito ao fornecimento de comida aos presos da Cadeia Pública de Pindamonhangaba no ano de 1903.
Com o título “Alimentação dos Presos”, o já citado jornal (edição de 19/4/1903) publicava, a pedido dos próprios presos, carta por eles enviada do xilindró. No apelo que faziam por intermédio da imprensa, queixavam-se da qualidade da alimentação e afirmavam estar passando fome, conforme revela o primeiro parágrafo da tal carta:
“Sr. Redator, desde o dia 12 do corrente – a carta havia sido escrito no dia 14 – que estamos sem comer nada, porque o alimento que nos é fornecido não se pode comer, ora por ser mal feito, ora por trazer imundície. Como dissemos, não comemos desde o dia 12; pede-se que seja substituído o fornecedor, porém até essa data não foram tomadas as providências, apesar do sr. Carcereiro ter feito muito esforço, porém nada consegue em nosso favor.”
Nos parágrafos subsequentes os “hóspedes” da cadeia solicitam ao jornal que “tome providência” junto aos fornecedores. Reclamam que o fornecedor teria dito que “brasileiro não come pão” e pedem que o jornal envie um representante à cadeia para “esclarecer o fato”. Assinam a carta Alfredo Arouche, José Maurício Bahia, José Ramirez e João Baptista.
O jornal Folha do Norte demonstra solidariedade com os queixosos e lembrando: “por mais de uma vez já temos reclamado contra o abuso, mesmo a pedido deles”. Anteriormente já havia sido publicada pelo jornal o “revoltante fato de ser intragável, desprezível e porca a comida fornecida aos presos. “O jornal ainda revela que o verdadeiro fornecedor era o agente do correio da cidade”, mediante a luva de dez mil réis mensais”.
“Bem sabemos que os presos pobres não podem contar com abundante e excelente comida, por falta de precisos recursos. Mas ninguém pode negar-lhes o direito de exigirem que seja limpo e suportável o pouco que lhes fornecem, ao menos por caridade. Se assim não acontece, onde está a autoridade policial, para acabar com o abuso, e a promotoria pública, para fiscalizar tamanha injustiça e impiedade”, conclui o redator da Folha afirmando ser “justa a queixa dos coitados”.
Três anos depois, o mesmo jornal (edição de 25/11/1906) publicava circular enviada pelo Secretário da Justiça e Segurança Pública do Estado recomendando que “fosse aberta concorrência pública para fornecimento de alimentação aos presos pobres durante o ano de 1907”. O delegado de Pinda, na época o dr. João Monteiro Salgado providenciou para que fosse publicado o edital para a concorrência pública. A “gororoba” deve ter melhorado.

Imagens: Arquivo TN
  • De 1864 até 1918, quando foi inaugurado novo prédio na esquina da Martin Cabral com a Campos Sales (praça atualmente ocupada pelo pátio da feira de produtos hortifrutigranjeiros), a cadeia pública de Pindamonhangaba funcionou nesse palacete histórico do Largo São José; as celas ficavam na parte dos fundos com frente para a rua Monticello e no andar superior funcionava a Câmara