Proseando : ACONTECEU COMIGO NO PARQUE DA CIDADE

Domingo passado fui caminhar no Parque da Cidade para pausar a vida sedentária e combater a tristeza. Antes, passei pelo comércio central e comprei um boné. O sol estava musculoso.

O Parque é um local onde a natureza se manifesta com exuberância. Nele há jabuticabeiras, ameixeiras e outras frutíferas. Há também árvores longevas de várias espécies; algumas que se abraçam afetuosamente.

Várias trilhas se conectam ao centro do parque, onde um riozinho perambula entre o arvoredo, assoviando canções, sonhando ser mar. Borboletas florescem de surpresa, como pétalas, ressuscitando algum galho, provisoriamente, despido. Passarinhos de várias famílias colorem as árvores em recitais à alma. O ar puro rejuvenesce os pulmões.
Durante as três primeiras voltas pelo parque, encontrei um menininho no mesmo lugar, sentadinho num banco. Parecia familiar. Quando me via inventava sorrisos para disfarçar a carinha de choro. Na quarta volta não resisti.
— Oi, menino. Está perdido?
— Não.
—Cadê seus pais?
— Viajaram.
— E quando voltam?
— Não voltam mais.
— Você está sozinho?
—Estou com os passarinhos.
Ao casal que estava passando, perguntei se podiam me ajudar a encontrar o responsável por aquele menino.
— Que menino?
Apontei para a criança.
—O senhor é maluco ou tá tirando uma com a nossa cara? Não tem ninguém sentado aí. O sol deve ter afetado os seus miolos.
O menino se levantou e se enfiou numa das trilhas. Fui atrás dele.
— Espera!
Pertinho dos bambus gigantes ele se sentou, admirando o riozinho.
—Quem é você?
Ele bateu a mãozinha no chão, sugerindo que me sentasse ao lado dele. Foi o que fiz.
— Não se lembra de mim?
Investiguei a memória e, por mais familiar que me parecesse, não conseguia me lembrar.
— Você me abandonou.
— Eu? Jamais abandonaria uma criança.
— Promete não me abandonar nunca mais? Promete me fazer a pessoa mais importante de sua vida?
Eu não sabia o que dizer. Tive vontade de pegá-lo no colo.
Ficamos em pé. Ele correu na minha direção e, antes de mergulhar dentro do meu peito, falou:
— Eu sou você.

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