História : Aconteceu na Pinda de antigamente

…quando Virgílio trocou a gloriosa Euterpe pela Banda lá do Céu

História de hoje traz mais uma interessante publicação do jornal Tribuna do Norte, anos cinquentas. O autor era o colunista que se identificava pelas iniciais J.B.J. As colaborações desse cronista, por certo um pindamonhangabense morando longe da terra natal, vinham do Rio de Janeiro.

Na crônica, a qual o leitor confere abaixo na íntegra, J.B.J. conta mais uma de suas doces recordações do tempo em que residia em Pindamonhangaba. Relembra a secular Corporação Musical Euterpe, destacando um integrante da banda em especial.

Com o título “Lá vem a banda”, há 68 anos, na edição da Tribuna de 11/12/1955,assim recordava o colunista colaborador…

“Faz uns vinte anos. Muita gente se deve lembrar. Era um negro simpático. Tocava na banda. Primeiro tocava pratos. Depois foi subindo. Era esforçado. Tinha ambições. Chegou ao bumbo. Com a mesma compenetração solene com que tirava sons metálicos do prato, agora tirava sons surdos do couro esticado do bumbo.

E talvez já estivesse se preparando para fazer Û-Û-Û û no baixo quando desapareceu da banda.

Quem daqueles tempos não se recorda do Virgílio? Sempre sorrindo, sempre amável, popular mesmo.
De dia trabalhava no matadouro municipal. E trabalhava duro. Numa grande carroça fechada vinha entregar a carne nos açougues. Nos momentos de folga era músico. Tocava pratos na banda…

Pra todos era o Virgilio. Pra nós era o Quiti. Viera de escravos de nossos avós. Era como se fosse da nossa família. E mais que isso. Era filho da velha e boa Felícia.

E dava gosto quando se ia a Pinda… e vinha a banda de música. Vinha imponente. Cada um orgulhoso do seu instrumento. Tocando bonito que nem orquestra sinfônica é capaz de tocar.

E lá vinha o Quiti. Quase sempre de roupa branca. Porque naquela época a banda não tinha uniforme. Nem tinha instrumentos novos. Mas tocava da mesma forma. Com o mesmo entusiasmo. Com o baixo remendado de solda e o trombone tapado com cera de abelha…

Tocava tudo e até o Guarani também. Era só o João Antonio ver outra banda perto. E, então, o maestro João Antonio se transformava e pegava no baixo…
Ninguém podia com a banda!

Um dia veio a banda. Tocando aqueles dobrados. No mesmo passo apressado. Com o prato fazendo ‘tchim’ e o bumbo fazendo ‘bum’… Porém o Quiti não veio. Porque Quiti, tão esforçado, subiu tanto que foi tocar clarim na Banda do Céu!…”