As mil faces de um humorista

Ele é Músico. Instrumentista. Compositor. Ator. Produtor Audiovisual. Roteirista. Pintor de paredes (mas também seria quitandeiro). Humorista e uma daquelas pessoas que você conversa durante horas sem perceber o tempo passar.
De nascimento é taubateano, mas tem fixado residência em Pindamonhangaba, e a cada semana percorre todo o Vale do Paraíba – pelo menos em seus posts – para satirizar “de leve” o povo vale-paraibano. Estamos falando do Júnior Guimarães, do “Tapa Olho Experimental”.
“Meu humor é muito suave, é meio ‘café-com-leite’, sabe? Não tem palavrão ou apelação. É aquela ‘pegada’ tranquila”, afirma o artista.
Sua página de entretenimento na internet tem mais de 32 mil seguidores. Seus vídeos alcançam cinco mil visualizações na primeira hora de postagem e em 2016, sua página ultrapassou a marca de 1 milhão de views. Isso se deve ao talento, à técnica e muito estudo sobre “os maiores comedores de içá do mundo, os criadores do bolinho caipira e os maiores tomadores de cachaça do planeta”, os moradores do Vale do Paraíba (interior de São Paulo).
O sotaque peculiar, as festas, os costumes, as tradições, a religião, as “mazelas” e as polêmicas são ingredientes fundamentais para os vídeos “Reações Valeparaibanas” – que têm sido compartilhados na internet há cerca de cinco anos (desde 2012).

Rir é sempre o
melhor remédio

Com um humor inteligente e perspicaz, ele vem conquistando um grande público a cada novo trabalho. Para suas produções, Júnior conta com a parceria de outro profissional, o jornalista João Justi: “O João é meu grande parceiro e um excelente profissional. Estamos juntos desde o comecinho”, disse.
Antes de se aventurar no “Tapa Olho Experimental”, Júnior chegou a participar de pod cast (programa de áudio ou de vídeo, que permite a distribuição ou o download automático do conteúdo) no “Senhor Trompeteiro”.
Uma das perguntas que ele mais ouve é de onde tirou o nome “Tapa Olho”. Sem cerimônias ele revela que teve toxoplasmose aos 18 anos, perdendo a visão do olho direito e aproveitou a situação para “zoar” com ele próprio. “Acho que a gente tem que começar por ‘zoar’ a nós mesmos, né? Se é pra satirizar podemos começar por nós. Ter essa postura de encarar a vida com bom humor é essencial”, ressaltou.
Durante a entrevista Júnior se mostrou “sem cerimônias”. Simples. Calmo. Falando tudo de bate e pronto. Uma pessoa “tranquila” e “sem definição”, características sugeridas por ele. Mas dá para tentar definir, sim: um humorista nato. Um pai de família que entende que viver de humor no Brasil não dá para pagar as contas, por isso, ele também trabalha como pintor de paredes (segunda profissão) e é músico – arte que tem desde o início da adolescência, quando começou a compor e a tocar instrumentos, sozinho.
“Na verdade, eu comecei a trabalhar como músico, a tocar em eventos por volta dos 20/ 22 anos. Mas já arriscava umas composições e alguns instrumentos com 14 anos. Depois, fiz aulas para me aperfeiçoar e entrar no mercado”, comenta. “A desvalorização da arte no Brasil faz com que nós, humoristas, tenhamos duas ou três profissões para agregar ao salário principal. Mas independentemente disso, eu gosto muito de fazer humor.”
Sobre o humor politicamente correto, Júnior foi enfático: “Eu acho que tudo é um processo evolutivo. É necessário evoluir, mudar e refletir sobre o que ofende ou desrespeita. O humor do ‘Tapa Olho’ é suave, então não somos atingidos diretamente. Eu, particularmente, gosto de uma boa sátira. Mas não vamos trabalhar com aquilo que o público não quer ver”, completou.
E o público tem crescido e ganhado outros formatos. Isso porque junto com os amigos Anderson Gago e Romarinho, Júnior vem fazendo stand-up (gênero da comédia geralmente apresentado como monólogo, onde o comediante não usa acessórios, cenários ou caracterização, como no teatro).
“O stand-up é desafiador porque tem lá 200 pessoas te esperando falar e você ali sem nada. Sem um violão, uma guitarra ou bateria. É você e o público, apenas.”, argumenta Júnior. “Quando a gente percebe que a risada não vem, tacamos logo a melhor piada e pronto, a partir da primeira gargalhada, começamos a nos sentir seguros e confiantes. Mas fácil não é.”
Se há um humorista para se inspirar, Júnior dispara: “eu admiro muito o Mazzaropi pelo todo. E não é ‘puxasaquismo’ do Vale não, é pelo artista mesmo. O cara que ele era: roteirista, ator, cineasta, cinegrafista. Enfim, um cara genial”.
Em 2016, na vida real, Júnior deixa o papel de filho para também tornar-se pai. Se algum dia sua filha (hoje com apenas um ano), quiser seguir seus passos ele até incentiva: “acho a profissão de humorista muito bonita. Uma profissão que faz com que as pessoas possam rir, refletir, superar e, sobretudo, aliviar seus problemas. Seria bom demais ver minha filha nesse ramo também”.

  • O bom humor é de família, garante Júnior Guimarães, do “Tapa Olho Experimental”
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  • Júnior Guimarães fala sobre os desafios e as alegrias da profissão
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