Ativista pindense vai até Brumadinho para socorrer animais

Rosangela Coelho arrecadou recursos e participou de resgates na cidade mineira arrasada por lama

Colaborou com o
texto: Dayane Gomes

O calendário apontava o dia 25 de janeiro. Os números do relógio marcavam 12h28, tipicamente, um horário conhecido como o “do almoço”. A rotina de Brumadinho, município da zona metropolitana de Belo Horizonte (MG), seguia como de uma sexta-feira habitual. Nenhuma sirene tocou, nenhum aviso foi dado, nem qualquer tipo de alerta prévio se divulgou. De repente, os gados, os cachorros, as galinhas e a fauna da extensão do Rio Paraopeba, com seus sentidos aguçados, começaram a agir de maneira estranha, prevendo o que estava por vir. E veio. O mar de lama oriundo do rompimento da barragem de rejeitos da empresa Vale na Mina Córrego do Feijão marcava mais uma tragédia ambiental de autoria da interferência do homem na natureza. Em respeito a este meio ambiente, tão vítima da calamidade quanto os seres humanos, uma moradora de Pindamonhangaba se deslocou até o campo barrento para prestar ajuda de modo concreto e afetivo.
Rosangela Coelho é fundadora, presidente e responsável pelo “Santuário Filhos de Shanti”, um abrigo de animais localizado em Pinda. “Sou vegana há alguns anos e veganismo é movimento, atitude, engajamento. Os animais precisam ser ouvidos e nós que despertamos para uma consciência mais ampla de compaixão temos o dever de falar por eles, sobre eles”, enaltece a ativista. Ela e um grupo de nove pessoas, incluindo um jornalista, saíram do Vale do Paraíba aproximadamente uma semana após a ruptura da barragem , no dia 31 de janeiro, com destino a Brumadinho.
Na bagagem, a equipe tinha água, roupas, mantimentos, ração e medicamentos pra animais de pequeno e grande porte, além de material pra resgate. A solidariedade teve início na arrecadação dos recursos e se estendeu na ida até a cidade. O foco da viagem era claro: ajudar os animais que estavam nos arredores das áreas atingidas. E a lista de ações e atividades práticas foi intensa. “Nós organizamos as doações de medicamentos e ração no galpão, percorremos a margem do rio em busca de animais machucados, levamos doações até o acampamento do Movimento Sem Terra, cuidamos; medicamos e levamos ração, água, medicamentos para a aldeia indígena Pataxó. Além disso, prestamos auxílio a galinhas e galos e trabalhamos no resgate de gatos no meio de escombros”, contou Rosangela.
Os trabalhos da pindense e seus companheiros na jornada humanitária seguiram até o último domingo (3). O resultado numérico da atuação dos voluntários foi o resgate de, em torno, 30 animais. Sendo que, outra equipe, de Belo Horizonte, vai dar continuidade ao auxílio prestado na aldeia Pataxó.

“Um rio morreu, um rio sangrou. Com isso, incontáveis vidas foram devastadas. Famílias humanas e animais foram silenciadas, mas nós precisamos falar por eles. Basta de impunidade. Existe um crime, os criminosos precisam ser responsabilizados. A experiência na tribo Pataxó me fez entender ainda mais a importância da demarcação de terra indígena, eles são a verdadeira resistência, são os zeladores da mata”

– Rosangela Coelho, fundadora, presidente
e responsável pelo “Santuário Filhos de Shanti”

 

  • Rosangela Coelho (à direita) esteve na aldeia indígena Pataxó
  • Grupo levou medicamentos, ração e outros itens para área afetada
  • Gatos foram resgatados em meio aos escombros
  • Lama integra o cenário de destruição do local