História : Coisas da Pinda antiga: a passagem de ano de 1936

Nesta edição trazemos duas crônicas que descrevem acontecimentos relacionados à bucólica e poética Pindamonhangaba do final da 1ª metade do século XX.

Referindo-se ao novo ano que se iniciava, um cronista do jornal Tribuna do Norte que se identificava sob o pseudônimo João de Pinda, descrevia os festejos com um artigo intitulado “Últimos instantes de 1936”.

O autor, um jornalista poeta, como sempre o jornal os teve desde seu fundador, que também fora um deles, inicia poetizando o movimento na Praça Monsenhor Marcondes naquela noite de virada de ano… “O jardim regurgita de povo que rodopia contornando os canteiros; o Éden vomita na avenida uma golfada de gente que acaba de assistir a última sessão”.

Depois, se referindo ao antigo sobrado dos irmãos Marcondes, histórico prédio no qual o príncipe Dom Pedro pernoitou antes da partida rumo à proclamação da Independência do Brasil e, naqueles tempos então conhecido como o solar do barão de Taubaté, Antônio Vieira de Oliveira Neves (15/8/1815 – 9/7/1905), assim comentou: “No alto do sobrado do Barão de Taubaté (que por verdade dali a pouco ia entrar em seu primeiro centenário), em cujos salões vetustos se instala a sede do Comercial Futebol Clube, o rádio enche o espaço com suas notas alegres…”, e prosseguiu: “Na Matriz se acotovela uma multidão de fiéis, na guarda da Hora Santa, agradecendo os favores recebidos no ano expirante e implorando novas graças para o ano que vai se iniciar. “Festa e baile no Clube Literário, bailes em diversos pontos da cidade, alguns de primeira classe e outros de tipo Trocadero, Colomy ou Penacho! (?!!!) “Depois de doze badaladas cadenciadas da meia-noite, marcando uma etapa de trezentos e sessenta e cinco dias no exercício findo do Tempo… sinos bimbalhando, automóveis buzinando, locomotivas apitando estridentemente, tudo conjugado com um brado espontâneo e uníssono do populacho.”

Complementando a crônica sobre a virada de 36 pra 37, surge o personagem criado pelo autor chamado “Dr. Pindólatra”, espécie de cidadão ufanista que ainda vemos em nossa Pinda atual.

Sua fala revela seu entusiasmo pelas coisas de sua cidade: “- Viva Pindamonhangaba, verdadeiro pedacinho do Rio de Janeiro! – Ora essa, doutor! Pedacinho do Rio de Janeiro, por quê? – Porque o pindense, como o carioca não tem mágoas e sabe achar a alegria até no fundo negro de suas tristezas… A política ferve e referve, os impostos crescem, os gêneros alimentícios sobem de preço, mas o povo pindense é o mesmo e o de sempre – alegre, mordaz, folgazão, que não dá margem a quem quer que seja destacar de sua margem quem é pobre e quem é rico, quem está de estômago repleto e quem está em jejum.” Concluindo, o bairrista Dr. Pindólatra questiona João de Pinda: “E você João de Pinda, que como eu quer bem as pedras e a tiririca de Pindamonhangaba; você que conhece um pedaço do Brasil, seja franco: há no mundo, povo melhor do que o pindense, terra ’mais boa’ do que a nossa terra? – Não há. – Toque então nestes ossos e venha de lá um abraço pela nossa felicidade e de Pindamonhangaba!”