Nossa Terra Nossa Gente : GATO DE VITRINE

Entre os manequins, o gato dorme, na vitrine da loja. Um gato branco entre as roupas brancas de réveillon. Bem reparo a beleza dos vestidos e dos colares, das blusas e dos shorts e nada me encanta mais do que aquele modelo vivo, ou melhor, aquele modelo felino.
Retrocedo alguns passos e fotografo aquele instante para tentar capturar a sua paz. Ele ainda não sabe que eu existo e nem imagina que é alvo de meus “flashes”. O sol de verão resplandece e o gato, simplesmente, dorme. Como será o seu nome? Qual a sua história?
Movida pela curiosidade, espero a loja abrir às 9 horas. Dou bom dia à vendedora e, assim que ela me diz “pois não?” eu brinco que gostaria de comprar o gato da vitrine. Ela sorri e me informa:
– O gato não está à venda!
– Que pena! Adorei o bichano! Como ele se chama?
– Dio! Esse gato apareceu no quintal de casa. Eu nunca quis ter bicho de estimação, pois meus dois filhos têm asma e o pelo de animal faz mal. Tanto que não permiti que eles dessem água nem comida para o pobre coitado. Na verdade, queria que ele fosse embora. Mesmo com fome e sede, o bicho não “arredou pé” do quintal. No quarto dia, seu miado de desespero amoleceu o coração dos meninos e acabei consentindo que eles lhe dessem água e comprassem ração para alimentá-lo.
“Em pouco tempo, o gato conquistou o carinho de todos, entrava e saía de casa a hora que bem entendia e, na hora de dormir, a vitrine da loja era o seu lugar preferido. De manhã, quando eu abro a porta para os clientes, ele corre para o quintal. Só volta para a vitrine quando encerro o expediente.”
“Hoje, eu compreendo por que esse gato apareceu! Meu filho mais velho passava por um momento difícil de sua adolescência. Pedi muito a Deus que o ajudasse a encontrar um sentido para sua vida. Não é que esse bichano chegou para ajudá-lo?! Em gratidão ao alimento e à água que ele lhe ofereceu, se apegou de tal forma ao ‘seu salvador’ que o obrigava a sair do quarto para brincar com ele de bolinha no quintal. Era tanta insistência que meu filho, aos poucos, foi saindo de sua concha de solidão e, dia após dia, foi reencontrando a alegria de viver.”
“A chegada desse gato é um grande mistério. Ele teve e tem uma missão que nem eu como mãe havia conseguido cumprir. Até o nome que ele foi batizado revela a sua grandeza: – Dio! Escolhido por meu filho Luigi, em alusão a um dos personagens de um jogo de videogame.”
– Não conheço o tal jogo, mas Luigi, em italiano, é luz e, Dio, como você sabe, Deus. Que Dio ilumine a sua vitrine e a alma de seus filhos com essa paz tão macia e tão mansa que tanto me encantou! Já que o gato da vitrine não está à venda, a senhora pode rogar ao Dio bênçãos para a nossa vida? Ultimamente, os gatos têm me ensinado os mistérios de Deus e eu sou muito grata a Ele por nos presentear com Seus mensageiros felinos, expressão delicada de Seu Amor sem fim…