Internet e ironia social rendem sucesso ao “Vale Humor”

Com mais de 1 milhão de visualizações e 6 mil inscritos, canal online conta com a autoria do pindamonhangtabense Júnior Vaccari e populariza capacidade humorística do Vale do Paraíba

Colaborou com o
texto: Dayane Gomes

Ciente de sua firmação como produtor de conteúdo, ele prefere ser chamado pelo nome artístico. Júnior Vaccari reside em Pindamonhangaba e, desde cedo, se vê interessado e participante das tendências proporcionadas pela popularização da internet. Tanto que, aos 21 anos de idade, o jovem utiliza de sua consciência societária como aliada da criatividade para propagar humor e reflexão social. Seu projeto, que surgiu de uma esquete para a escola, atraiu companheiros de Taubaté, Caçapava, Tremembé, Roseira e municípios da região até se consolidar como um produto audiovisual com temporadas regulares. Atualmente, o canal “Vale Humor” tem uma média de 50 vídeos publicados por temporada, lançados aos pares semanalmente. A expectativa é de 60 novos episódios para a terceira fase, embalada pela marca geral de 6 mil inscritos e mais de 1 milhão de visualizações. Somente o vídeo “Patrão e Empregada” bateu este número com a produção e o roteiro característicos do grupo valeparaibano.

Entrevista:

TN – Quando e como surgiu o canal “Vale Humor”?
O Vale Humor surgiu muito antes de o canal entrar no ar, em 2016. Eu sempre fui muito conectado a internet, fui colunista de alguns blogs e sites, participei de fóruns de debate. Tudo isso em meados de 2010, 2011.
Então, em 2013, eu decidi realmente começar o projeto. As primeiras gravações foram praticamente testes, ainda estávamos buscando um estilo, um jeito de fazer. No fim do ano, em outubro, conheci uma diretora de escola, em Taubaté. Ela me reconheceu de alguns comerciais que fiz como ator. Começamos a conversar e ela me convidou para fazer um projeto em parceria com a escola, gravando uma esquete de conscientização sobre as drogas.
Por conta do prazo de realização do projeto, que era atrelado a Secretária de Educação, e questões burocráticas, tivemos cinco dias para escrever, gravar e editar a esquete. Foi uma correria, mas fizemos. O curta-metragem foi exibido aos alunos da escola e gerou uma grande roda de bate papo, pois além da comédia levantava discussão sobre diversas questões sociais.
Passamos os anos seguintes fazendo oficinas para formar mão de obra qualificada nessa área audiovisual, pois faltavam pessoas com experiência. E fomos acumulando conteúdo, gravando e guardando as esquetes, descartando as que não estavam boas. Quando o canal foi ar, em agosto de 2016, a primeira temporada já estava praticamente pronta, com mais de 50 vídeos.
TN – Por que o canal tem este título?
Júnior – O nome “Vale Humor” surgiu na correria da realização desse primeiro trabalho oficial. Tínhamos que finalizar o curta no prazo e precisávamos criar um nome para o grupo. Como seria a primeira exposição pública do projeto, ainda não tínhamos certeza se ficaria realmente engraçado, então o nome era como uma pergunta: “Será que Vale Humor?”. Além, obviamente, da clara associação com o Vale do Paraíba. Afinal, todo o elenco tem uma forte relação com a região.

TN – Quem esteve envolvido na criação do “Vale Humor”?
Júnior – O “Vale” Humor foi uma idealização minha. Mas, desde o começo, sempre tive o apoio dos meus pais, Márcio Vaccari e Andréia Moreira Lima, que também são artistas, além de amigos muito talentosos, como Manuel César Pereira, Idiane Dias, Joana Rodrigues, João Marcelo e Tony Marmo. Esse pessoal que esteve presente no início do projeto foi fundamental para criação do que é o canal hoje.

TN – Quais são suas referências para realização deste trabalho?
Júnior – Nossa, muita coisa. A referência mais óbvia, e que eu sempre cito para que as pessoas consigam compreender o que é o “Vale Humor” é o “Porta dos Fundos”. Como referência na comédia, gosto de “Monty Python” e “Mr. Bean” no humor inglês e das sitcoms americanas como “Seinfeld”, “Dois Homens e Meio” e “Eu, a Patroa e as Crianças”.
Quanto ao conteúdo nacional, pesquisei muito sobre humor, vi muita coisa espalhada ao longo dos últimos 60 anos. Acredito que tenha me influenciado, de alguma forma, desde os stand-ups de Chico Anysio e Zé Vasconcelos, passando por “TV Pirata” e “A Grande Família” até chegar nas produções para internet, como o canal “Anões em Chamas”. Além desses nomes notoriamente da comédia, tenho algumas referências um tanto diferentes, como o humor irônico do Antônio Abujamra, as charges do Angeli e as crônicas do Luís Fernando Veríssimo.

TN – Atualmente, quais são os membros da equipe do canal?
Júnior – O elenco foi se renovando ao longo dos anos, com chegadas de novos atores e algumas saídas por questões de agenda e outros projetos. Ainda não está fechado o elenco fixo da terceira temporada, mas estão gravando conosco os atores: Márcio Vaccari, Manuel César Pereira, Andy Trevisan, Tony Marmo, Renato Ângelo, Andréia Moreira Lima, Idiane Dias, Ádila Naves, Gabriel Petronilo, Vítor Gouvêa, Tiago Souza, Giulia Melo e Lud Sayuri. Além, é claro, do pessoal que faz parte da equipe técnica.

TN – Quais são as temáticas trabalhadas nos vídeos?
Júnior – Os temas são sátiras sociais do cotidiano, piadas feitas em cima de situações comuns do dia a dia. Discussões de casal, questões relacionadas à política, segurança pública, saúde, futebol, etc. E nós seguimos três conceitos na hora da criação do roteiro: abordar o tema de maneira nacional, de forma que seja compreensível para pessoas de qualquer lugar do Brasil; escrever de modo atemporal, fazendo com que o vídeo possa ser assistido hoje ou daqui cinco anos e ainda faça sentido; e que além da comédia haja também uma discussão social por trás. Pode ser algo sutil, mas que, ao olhar com atenção, esteja ali.

TN – Normalmente, como vocês conciliam a agenda de gravação?
Júnior – É uma dificuldade, pois os atores, quase sempre, têm outras atividades. Mas, por contar com um elenco grande, um vai suprindo a ausência de tempo do outro. Quem está com mais tempo livre em determinada época do ano acaba gravando mais. E damos um jeito de gravar muito (risos). Em média, são oito vídeos produzidos por mês, dentre trabalhos que vão para o “Vale Humor” e outros projetos que estamos realizando.

TN – Como você se sentiu ao atingir a marca de 1 milhão de visualizações e de 6 mil inscritos?
Foi uma conquista absolutamente grandiosa. São números extremamente relevantes para a região do Vale do Paraíba. Todos os integrantes ficaram muito satisfeitos ao ver que o trabalho de anos resultou nesse nível de retorno do público. Temos total consciência que ainda estamos engatinhando a nível nacional, mas ver esses números mostra que estamos no caminho certo. É possível fazer arte na região e ter seu trabalho visto por pessoas do Brasil inteiro. Isso é algo mágico.

TN – Daqui para frente, quais são os planos do “Vale Humor”?
Queremos seguir produzindo conteúdo. Isso significa continuar com o lançamento das temporadas na internet, diversificando cada vez mais os formatos, fazendo séries e episódios mais longos. Além disso, pretendemos que, nesse ano, ocorra um desenvolvimento comercial maior da marca “Vale Humor”, pois o canal já atingiu números muito relevantes para os padrões da região. Vamos explorar isso. Depois do 1 milhão, não sabemos onde podemos chegar, o céu é o limite. O certo é que seguiremos fazendo nosso trabalho com a maior qualidade possível. Afinal, foi isso que nos trouxe até aqui.

  • “Vale Humor” tem moradores da região em seu elenco
  • Episódio “Patrão e Empregada” alcançou 1 milhão de views
  • Com duas temporadas produzidas, terceira já está sendo gravada
  • Filmagens dos vídeos acontecem durante todo o ano