Vanguarda Literária : KAFKA : UM ESCRITOR UNIVERSAL

Franz  Kafka , escritor checo, de língua alemã, ( 1883 – 1924 ) autor de “O Processo” ( 1925), “América” ( 1925), “Meditação”( 1913 ) e “Metamorfose”   (1916) deixou uma obra que é um campo muito interessante de surpresas, em que nos deparamos a todo instante com aforismos, parábolas e paradoxos que desafiam a compreensão imediata, conquanto falem-nos à sensibilidade, e despertem no nosso íntimo, um vulcão de reações e impressões.
Desvela-se um homem angustiado, exilado dos quadros da normalidade, preso a um misterioso e insondável “processo”. Presencia-se a  revelação de uma personalidade neurótica, entretanto, seria, de nossa parte, uma atitude inconseqüente e injusta, basear-se, para analisar um pouco a sua obra, nesse quadro negativo que se mostra à primeira vista.
É conveniente não esquecermos que a sua obra tem exercido profunda influência na literatura moderna e que a produção desse autor se ombreia com a de Proust, Joyce, Mann, próceres da literatura mundial.
A obra de Kafka é um documento importante da crise da sociedade ocidental. Autor judeu, de língua  germânica, de vivência num ambiente eslavo, escreveu antes e durante a Primeira Grande Guerra Mundial. Mostra-nos, nas suas reflexões, o drama das classes sociais atônitas, sem rumo, ante o desmoronar da velha ordem social vigente (naquela época), dos grupos sociais minoritários marginalizados, aniquilados e trucidados em sua personalidade cultural.
O genial escritor, com toda sua complexidade psicológica, ao usar uma linguagem carregada de simbologia, mostra um panorama do judeu, do intelectual e do homem de classe média da sua época. Nele, humanismo e realismo, filosofia e razão, êxtase e ponderação estruturam-se em movimentos contraditórios e complexos, em alento de genialidade, ultrapassando conceitos herméticos de escolas.
Em seus transes e momentos agônicos espirituais e morais, com uma peculiar criação artística, viveu os desajustamentos sociais e culturais de um período conturbado da história da humanidade.
A obra de Kafka, portanto, embora plena de motivação e lastro sócio-cultural, tem um aspecto muito peculiar e importante: não se coloca na tribuna da pregação doutrinária, aprofunda-se na sua psicologia individual, onde imperam os choques e os dilemas e surgem as encruzilhadas da vida em sociedade. Foi evidentemente, um tipo de literatura que influenciou muita gente, senão vejamos: o velho Machado de Assis, clássico da nossa literatura, diz em uma das suas crônicas à maneira Kafkiana : “O asilo que buscarei quando a vida for tão agitada como a desta semana, não é o céu, é o Hospício dos Alienados .
Não nego que o dever comum é padecer comumente, e atacarem -se uns aos outros, para dar razão ao bom Renan, que pôs esta sentença na boca de um latino: ”O mundo não anda senão pelo ódio de dous irmãos inimigos e é feito para desconcertar o cérebro humano”.
Eis, em rápidas pinceladas, um dos Grandes Escritores do nosso século, cuja existência, como pontuamos, se enveredou na terrível trama dos paradoxos e da incompreensões.
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