Nossa Terra Nossa Gente : MARIA, MARIQUITA, QUITA… DO “DONA MARIQUITA – CAFÉ & DOCES”

Conheci Dona Mariquita num quadrinho disposto na parede. Ela e o esposo, bem juntinhos, guardadinhos entre o vidro e a moldura dourada, as fitas e os pompons que adornam a fotografia do jovem casal.

Naquele espaço da sala em que, à época em que se casaram, era o Cartório de Registro Civil de Pindamonhangaba, estão eles eternizados pelas mãos do neto, Ricardo Valise, proprietário do “Dona Mariquita– Café & Doces”.

Saboreei o meu capuccinno com chantilly na companhia de uma coleção de objetos antigos, espalhados sobre móveis e paredes: tacho de cobre, pedra mó, saco de estopa contendo sementes de café, latões de leite, gamelas, balanças, pesos de cobre, ferros de passar roupa, rádios, cadeira suspensa na parede com trompete em seu apoio, jarra com bacia de ágata, espelhos, máquinas de escrever, de costura, de moer café…

Meus olhos fotografavam cada objeto da decoração retrô enquanto minha alma filmava com profunda ternura aquele espaço revestido de tijolos (de 1886!) à vista, contrastando com o adorável papel de parede com estampa botânica!
– Meu Deus, quanta história a ser contada só neste pequeno grande espaço!

A poesia, com suas mãos de fada, lustrou cada objeto ali exposto e, com sua magia, encantou meu coração. Aproximou-se da minha mesa e me conduziu ao retrato da Mariquita e de seu esposo… Olhei aquele jovem casal, e, para além daquele instante da fotografia, havia um passado e um futuro que eu desconhecia completamente.

Havia a história de uma menina, filha do Capitão Avelino, chamada Maria Aparecida Alves, mineira de Rio Preto, que aqui chegou aos oito anos, nos idos de 1920, casando-se aos 30 de abril de 1932 com Sebastião Machado de Andrade.

Havia a mãe de cinco filhos naturais e de outros adotivos que ela ajudou a criar, a educar, a propiciar-lhes estudo e profissão (dentre eles, seu neto Ricardo).

A mãe, tia, avó, esposa, amiga estavam reunidas na mesma Mariquita que alimentava a numerosa família com saborosos quitutes da cozinha mineira (tutu de feijão, pernil assado com cebola caramelizada, feijoada…)einesquecíveis docescaseiros (cocada, doce de leite, figo, mamão, banana, goiaba, abóbora…).

A casa da Dona Mariquita (ou o seu coração?) abrigava as moças que vinham da roça para estudar, o sobrinho que veio trabalhar, o neto órfão de mãe, as muitas crianças que vinham brincar, estudar ou se divertir com seus filhos atraídos, também, pela piscina de água natural, pelo lago de peixes, pelo arvoredo e pelo caprichoso jardim do enorme quintal da residência dos Andrade na Rua Marechal Deodoro!

Mariquita, como toda mulher sábia, soube se eternizar no bordado da vida!Como nos mais finos bordados -quanto mais imperceptível o avesso, mais beleza o direito adquire -,Mariquita bordou o risco de sua história, com esmero… Os nós? Os infortúnios da vida? Ela soube, como exímia bordadeira, torná-los invisíveis…

Teceu o bordado de sua vida até 1993, falecendo, infelizmente,aos 81 anos…
A história dessa mineira-pindamonhangabense de primeira linha, dessa quituteira de mão cheia, de modo singular, está eternizada por seu neto-filho, Ricardo Valise, na casa em que a ‘vó Quita’ deixou de herança para ele e que, hoje, abriga o “Dona Mariquita – Café & Doce”.

O virtuoso artista de alma de poeta – é ele quem assina a decoração do Mariquita Café! -, dedicou versos de gratidão à avó eque tomo emprestado com sua prévia autorização, para reverenciar em nossa terra, essa querida de nossa gente!

VÓ MARIQUITA
Das montanhas de Minas Gerais,
numa trouxinha de filó,
entre força e coragem
trouxe sonhos de menina.
Tachos de cobre,
colheres de pau,
receitas de vida escritas com doces de leite
embrulhados em rendas de crochê.

Das janelas da sua história
semeou cinco filhos
e das portas que abriu
colheu e acolheu outros muitos.
Maria, Mariquita…
Ora Mãe, Tia, Dona, ora Vó Quita,
mas sempre, na soleira da bondade,
entre roseiras e saudade, GRATIDÃO!

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