História : Pinda no tempo do “merréis” e do vintém

Com base em uma crônica de Balthazar de Godoy Moreira (1898/1969), publicada no ano 1963 no jornal Tribuna do Norte a página de história desta edição relembra o dinheiro de antigamente, réis, vintém, meia pataca e pataca e meia…
A nossa moeda de tempos que já longe vão, era assim comentada pelo escritor, considerado o maior dos sonetistas pindamonhangabenses… “Circulavam vastamente as moedas de vintém e dois vinténs – os patacões – uma ou outra de dez réis, do 1º Império, de cobre. As mais antigas traziam a efigie do imperador num lado e no verso o escudo do Império. As mais novas traziam as armas da República. Eram moedas bonitas, bem feitas. Feita a féria, nos dias de movimento, os negociantes as empacotavam em rolos de cinco ou dez mil réis.”
Em pesquisa sobre o assunto encontramos em artigo de Newton Freitas (www.newton.freitas.nom.br/artigos.) referente à história do sistema monetário brasileiro, que o primeiro dinheiro do Brasil foi a moeda-mercadoria. “As primeiras moedas metálicas (de ouro, prata e cobre) chegaram com o início da colonização portuguesa”, conta Newton e explica que a unidade monetária de Portugal era o real. Foi essa moeda que o Brasil usou durante o período colonial. “Tudo se contava em réis (plural popular de real) com moedas fabricadas em Portugal e no Brasil. O real vigorou até 7 de outubro de 1833”, acrescenta.
Ao nosso saudosista leitor cabe aqui relembrar a trajetória da unidade monetária brasileira do réis ao real… Depois que deixou de vigorar o real português, entrou em vigor o mil-réis, de 1831 a 1942; em 1942, o cruzeiro; em 1967, cruzeiro novo; 1970, novamente o cruzeiro; 1986, o cruzado; 1989, cruzado novo; 1990, novamente o cruzeiro; 1993, cruzeiro real; de 1994 até o momento, o real.
Feita a observação, retornemos às reminiscências de Balthazar sobre o tempo do merréis e do vintém – aqui é necessário que nos atentemos ao fato de que a descrição do autor e suas comparações são feitas em artigo escrito há quase seis décadas:
“Seguiam-se as moedas de níquel de tostão, duzentos e quatrocentos réis – um cruzado. Muita gente ainda se referia ao dinheiro à moda antiga e passada: meia pataca, pataca e meia, um cruzado etc. Minha avó só entendia os valores trocados em velhos termos: uma pataca e um vintém, um cruzado e meia pataca, um cruzado, pataca e meia e um vintém… Mencionava esses valores com incrível rapidez, sabendo o que representavam. Vinha depois as moedas de prata, lindas moedas que hoje, sem retoque, podem e devem ser transformadas em joias, abotoaduras, alfinetes, broches e braceletes. Moedas de 500 réis, 1.000 réis e 2.000 réis. As de dois mil réis eram espetaculares. Uma ou outra vez surgia um soberano de ouro. Depois a moeda má sempre afugentando as boas, as pratas, os níqueis, até os cobres, vieram as de latão, as de alumínio e hoje uma tampinha de garrafa vale mais que uma nota de dois cruzeiros
Foram-se os belos tempos dos mil réis. Cédulas havia no comecinho do século, ainda as de 500 réis. Quando ganhava uma, presente de alguém, de uma tia ou de minha madrinha, sentia-me rico. Com 500 réis comprava muito. Eram 25 vinténs, 25 doces. Podia comprar até um canivete Roger ou 25 folhas de papel de seda e fazer quantos balões!? Uma nota de 200 mil réis – grande, pois o tamanho da cédula crescia com o valor – era rara. A de 500 mil réis, raríssima, uma coisa quase que utópica para muita gente. Circulavam mesmo até ficarem poídas, pois as emissões não se sucediam como hoje, as de um, dois até cem mil réis. Com dez mil réis uma família modesta fazia todas as compras para a semana. Com vinte alugava uma casa, com duzentos podia passar uma temporada em São Paulo.”
Sobre as patacas e patacões, este pesquisador (de “meia pataca”), foi ao site Moedas Populares no Brasil (www.moedasdobrasil.com.br/tostao) e trouxe as explicações seguintes:
Pataca. Moeda portuguesa de prata, com o valor circulatório de 320 réis, emitida até o século XIX. O nome originou-se das patacas mexicanas (8 reais mexicanos). As patacas foram as moedas que por mais tempo circularam no Brasil. A série era composta por moedas de 20, 40, 80, 160, 320 e 640 réis. O valor de 320 réis – pataca – deu nome à série de patacas.
Meia-pataca. A moeda de 160 réis, da série de patacas, está na origem da expressão popular de meia-pataca (320 réis = 1 pataca; 160 réis = 1/2 pataca), que designa alguma coisa de pouco valor ou de má qualidade. “Isso não vale meia-pataca!” corresponde a “isso não vale nada!”.
Patacão. Em Portugal, era a moeda portuguesa de cobre de 10 réis, de D. João III. No Brasil, ficou muito popular esse nome para as moedas de 960 réis, inicialmente cunhadas sobre moedas de 8 reales das colônias e posteriormente produzidas oficialmente pelas Casas da Moeda do Rio de Janeiro e da Bahia entre 1810 e 1834. 960 réis são 3 patacas, um verdadeiro patacão. No Rio Grande do Sul, os colecionadores chamam de patacão à moeda de 2$000 (dois mil réis), do Império.

  • “Uma nota de 200 mil réis – grande, pois o tamanho da cédula crescia com o valor – era rara. A de 500 mil réis, raríssima, uma coisa quase que utópica para muita gente...”