História : “Pindamonhangaba através de dois e meio séculos”

Quinze anos depois de haver publicado a primeira edição de sua obra, originalmente lançada com a denominação “Pindamonhangaba”, Athayde Marcondes fez o relançamento deste que hoje se tornou um livro procurado por pesquisadores e curiosos dos fatos e feitos da “Princesa do Norte”.

Era o ano de 1922. O município se preparava para comemorar o primeiro centenário da proclamação da Independência do Brasil, com uma justa homenagem. Um monumento aos ilustres pindamonhangabenses participantes daquele grito de liberdade. Athayde Marcondes participaria das homenagens com a segunda edição de seu livro.
O autor e jornalista Athayde havia deixado fazia três anos, a direção da Tribuna em sua segunda gestão. O jornal então sob o comando Plínio Marcondes Cabral, dava lhe todo o apoio naquele histórico lançamento.

Prova disso foi a nota na Tribuna (edição 23/4/1922):
“O livro do nosso amigo Athayde Marcondes, ansiosamente esperado, deverá ser posto à venda dentro de poucos dias.
Não é sem grande sacrifício que o autor dessa obra, que conta mais de 600 páginas consegue levar avante a publicação; custou-lhe inúmeros dissabores e contrariedades, tal as dificuldades com que lutou por falta de numerário, apesar de ter sido auxiliado pela Câmara e pela Escola, porque a impressão inclusive os 263 clichês que a ornam, ficou-lhe em 9.984$000”. A “Escola” aqui mencionada, acreditamos fosse a de Farmácia e Odontologia.
O jornal sugeria aos leitores que pudessem a aquisição de um exemplar para ajudar o autor “pagar ainda cerca de cinco contos aos editores…”
A nota na edição de 21 maio daquele ano informa aos leitores que já se encontrava à venda o esperado livro, “…a segunda edição bastante aumentada dessa importante obra biográfica, genealógica do nosso ilustre confrade, companheiro de trabalhos, Athayde Marcondes”.
Seus colegas de Tribuna do Norte cumprimentavam Athayde pela vitória que fora o lançamento do livro, uma vitória de seu esforço. Revelavam as inúmeras dificuldades. Eram testemunhas da carestia dos materiais tipográficos com que Athayde Marcondes reeditara seu livro sobre a história de nossa terra. A esperança era que aquela obra, digna de louvor, encontrasse idêntica aceitação conforme fora sua primeira edição.
Na edição seguinte, em artigo de primeira página, um cronista da Tribuna (não assina) conta do motivo de sua preferência em falar do livro de Athayde, adiando as suas considerações referentes à nova e acreditada empresa editora “Monteiro Lobato e Companhia”, que tantas e tão úteis quão boas obras estava produzindo na época.
E explicava: “Como não ser assim, se essa obra é toda ela referente aos homens e tradições brilhantes de nossa terra natal? Estamos, por isso, plenamente convictos de que os ilustres e amáveis dirigentes da aludida empresa Editora Monteiro Lobato e Companhia saberão perdoar este gesto de tolerável bairrismo. O caso vertente não implica apenas interesse regionalista, mas mais que isso, permissível sentimento afetivo”
O cronista segue comentando a boa obra, lembrando que “Pindamonhangaba que teve a particularidade de possuir em seu seio, gerações que se notabilizaram pelo cumprimento do dever em todos os seus pontos principais, mereceu o monumento que é esse outro ‘Pindamonhangaba”, referindo-se ao livro.
Encerrando com cumprimentos: “Ao seu distinto autor endereçamos os nossos sinceros votos não só pela feliz colocação de seus livros sobre a nossa história, como também para que os mesmos encontrem por parte da imprensa estadual o acolhimento merecedor”.

Publicação divulgada
Como desejava o cronista da Tribuna, a divulgação ocorreu também na capital. O jornal “O Estado de São Paulo”, em sua edição de 24 de maio de 1922, assim registrou em nota intitulada “Livros Novos”: “Pelo senhor Athayde Marcondes foi nos enviado um exemplar do volume “Pindamonhangaba Através de Dois Séculos e Meio, de sua autoria, em 2ª edição, da Tipografia Paulista desta capital. É uma compilação de apontamento históricos, geográficos, genealógicos, biográficos, cronológicos, bibliográficos, estatísticos e noticiosos referentes ao município que lhe dá o título, e que vem disposto em ordem alfabética, fartamente ilustrados e oferecendo pronta e proveitosa consulta a quem o manuseie o volume. Este está excelentemente impresso, em bom papel, contendo cerca de 600 páginas de grande formato, constituindo pela matéria, uma valiosa contribuição para a história do nosso Estado.”
Em seguida foi a vez do “Correio Paulistano” publicar extensa e elogiosa crônica sobre o assunto, da qual republicamos os parágrafos seguintes:
“O livro do senhor Athayde Marcondes é digno de todos os elogios e os encômios que mereceu quando a primeira edição veio a público devem ser agora muito maiores ao infatigável estudiosos cuja obra aparece consideravelmente melhorada e aumentada. Inúmeros vultos de pindamonhangabenses ilustres são também de paulistas e de brasileiros ilustres. Inúmeros fatos da história de Pindamonhangaba são fatos da história do Brasil. O valor do trabalho do senhor Athayde tem, portanto, uma amplitude bem maior do que a princípio lhe dará o leitor mal avisado.
Iniciativas como estas merecem ser seguidas por todos os nossos municípios. quando estiver escrita a narrativa de todos os acontecimentos, que se prendem à vida de todas essas células do Estado ser completíssima, minuciosíssima a história do todo em que todas se integram constituindo a grande unidade da federação que é São Paulo.
Obra de consulta, imprescindível a todo bom pindamonhangabense, ‘Pindamonhangaba’ do Sr. Athayde Marcondes é também indispensável à estante de todo bom paulista”.

Homenagem de Athayde

Entre os inúmeros cantos de Athayde Marcondes à “Princesa do Norte”, publicamos a seguir, para apreciação do leitor, o soneto no qual ele revela e expressa o desejo de aqui deixar como lembrança também os seus restos carnais:

Pindamonhangaba

Vejo-te sempre encantadora e altiva
altiva, encantadora e prazenteira.
Cerca-te além cerúlea Mantiqueira
como se fosse dela uma cativa!

Ó Princesa gentil, ó hospitaleira
terra querida, esplêndida e atrativa.
– Mimo do norte, cidade feiticeira,
vejo-te sempre encantadora e altiva.

Foi aqui que eu, em toda plenitude,
passei cantando a minha juventude,
gozando dos amores e conforto…

Dá-me por isso em teu regaço amigo
o meu último leito – o meu jazigo
recebe-me também depois de morto!

  • Obra é leitura imprescindível para pesquisadores, professores, alunos e demais interessados em fatos e feitos de Pindamonhangaba - Créditos da imagem: Divulgação
  • Lançamento da segunda edição integrou as homenagens do município em comemoração ao 1º centenário da Proclamação da Independência - Créditos da imagem: Divulgação
  • José Athayde Marcondes, historiador, escritor, poeta, professor, músico, compositor, farmacêutico, político, jornalista e que foi um dos diretores e também ‘proprietário’ do jornal Tribuna do Norte, nasceu a 11 de outubro de 1863. Este incomparável pindamonhangabense, filho de Taubaté, encerrou sua missão neste plano no dia 13 de setembro de 1924 e, conforme sua vontade, aqui se encontra sepultado. Entre as diversas homenagens recebidas nesta terra que considerava filho, e era filho devotado e atuante, sua memória é também cultuada pela APL-Academia Pindamonhangabense de Letras, na qual é patrono da cadeira nº 13. - Créditos da imagem: Arquivo TN
  • Créditos da imagem: Arquivo TN