História : Recordações da primeira escola de nível superior de Pindamonhangaba
Nesta edição trazemos algumas curiosidades referentes a estudantes e mestres da Farmácia e Odontologia de Pindamonhangaba, criada há 105 anos
Criada de acordo com lei municipal, em 1º de outubro de 1913 (assunto já abordado por esta editoria de história), a primeira faculdade de Pinda, devido a uma série de denúncias de irregularidades, teve seu reconhecimento suspenso por decreto de 29 de abril de 1929. Uma existência efêmera, porém marcante. A vinda de estudantes de outras regiões movimentou o município naquelas primeiras décadas do século XX. A animação estudantil era constante e contagiante.
Oswaldo Barbosa Guisard, taubateano, que se tornou o mais novo farmacêutico do Brasil ao se formar por essa escola superior com apenas 16 anos, na turma de 1919, recorda em seu livro ‘Taubaté no Aflorar do Século’, os “bons tempos” de estudante do mencionado estabelecimento. “Eram nossos professores, Raul Moreira Marcondes na disciplina de Farmácia Química; Antônio Gomes Xavier, autor da fórmula do licor de cacau e do conhaque de alcatrão. Xavier, alto, elegante, sábio e discreto, lente de toxicologia e de bromatologia e o capitão médico do Exército, dr. Oscar Varella Homem de Mello, sempre impecavelmente fardado, lente da cadeira de higiene”.
O autor relembra também que “muitas vezes ao ser aberta a porta da sala de aula, um grupo de colegas mais afoitos, mais brincalhões, 15 minutos antes, faziam o que chamavam a “ouverture musical da aula”. E era de se ver a “orquestra” original. Um tocava uma flautinha de folha de flandres; outro, gaita de boca; outro; pente coberto com papel de seda; outro dedilhava o lápis contra os sólidos dentes; ainda outro a caixa de fósforos e assim por diante. E tocavam mesmo! E podia se ouvir e ouvíamos mesmo.”
“Dessa turma saíram posteriormente alguns médicos, um engenheiro, vários prefeitos do interior de São Paulo, vários inspetores da fiscalização farmacêutica, laboratoristas, jornalistas…”
Eles movimentavam
a cidade
Em Vida nos Balcões da Pequena Pindamonhangaba – 1997, a escritora Eloyna Salgado Ribeiro faz alguma referência sobre a Escola de Farmácia e Odontologia, citando sua importância para o município. “Aquela escola trouxe vida à cidade, o comércio em geral girava em torno dos alunos”, relembra.
A Confeitaria São João, popularmente conhecida como Confeitaria do Vito Gallo, era o local preferido pelos estudantes. Segundo Eloyna: “seu Vito gostava daquela criançada longe de casa, com pouco dinheiro a maior parte das vezes. Gostava mesmo. Não lhes negava fiado. No fim do ano, um ou outro ia embora, esquecendo a continha pendurada, e o seu Vito acabava se conformando”.
“Meus filhos,
os estudantes”
Confirmando aquilo que registrou a escritora Eloyna a respeito do carinho do comerciante pelos estudantes de farmácia e de odontologia, encontramos no livro de João Martins de Almeida, Vultos de Pindamonhangaba (1ª série – 1957), na crônica intitulada “Meus Filhos, os Estudantes”, uma emocionante referência de Vito Gallo sobre os jovens alunos:
“Eram como se fossem meus filhos. Eram os donos da cidade. Eram a autoridade e ninguém podia com eles. Tomavam de assalto a confeitaria. Bebiam, comiam, faziam discursos e… não pagavam. No dia seguinte apareciam e resgatavam todo o estrago.”
Na mesma entrevista a João Martins, na crônica, o bondoso Vito Gallo relembrava:
“Ah! Meu amigo! Eles me ensinaram que a vida deve ser vivida com alegria. Que sou hoje? Um velho alquebrado, saudoso e triste! Minha única alegria é quando aparecem por aqui, todos os anos, religiosamente, para a comemoração da festa de formatura. Abraçam-me, fazem-me festa… Apenas alguns já estão mais calvos como eu ou de cabelos grisalhos, e o pior é que diminui ano a ano o número deles. A morte não permite que um ou mais de um participe da comemoração – e a gente vai vivendo, morrendo de saudade…”
Inesquecível reencontro…
Há 36 anos, no dia 20 de janeiro de 1974, em comemoração ao “Dia do Farmacêutico”, estiveram em Pindamonhangaba formandos de 1917, 1919, 1922, 1923, 1924, 1925, 1926 e 1927. O reencontro, organizado pelo dr. Hernor Salgado, contou com apoio do Conselho Regional de Farmácia, na época presidido pelo dr. Márcio Antônio da Fonseca, e com a cobertura dos jornais: Tribuna do Norte, Diário Popular e Folha de São Paulo.
O evento constou de missa celebrada pelo padre João José de Azevedo, que 50 anos antes também havia celebrada a missa de formatura da turma de 1924; visita aos túmulos de inesquecíveis colegas e professores da Escola de Farmácia e Odontologia; almoço no restaurante do Bosque (onde atualmente funciona a Biblioteca Rômulo Campos D’Arace); visita ao Palacete Visconde da Palmeira, antigo prédio da escola, atual sede do Museu Histórico e Pedagógico D. Pedro I e Dona Leopoldina. Ao responsável pelo museu, na época o dr. João Salles, foi entregue um livro com as assinaturas de todos os que estiveram presentes no histórico reencontro.