Lembranças Literárias : Taça Maldita

Esse que vês na rua alcoolizado,
como o palhaço a que a plateia acena,
não causa às turbas impassíveis pena.
É uma vítima imbele: cumpre o fado.

O pai bebera tanto, e o desgraçado
pega impulsivo a taça que envenena,
parte aos pedaços, ruge como hiena!
Pulsa-lhe o coração acelerado.

Jorra, às vezes, o sangue do seu crânio
quando tropeça e cai; e logo à frente
erguendo-se a tragédia continua…

Mas um vulto aparece subitânio:
É a mãe que vem chorosa, e, meigamente,
rompendo a multidão, beija-o na rua!…

Marcondes Cesar, publicado no
jornal Tribuna do Norte em 22/6/1958