Nossa Terra Nossa Gente : Um passeio pela história de Júlia San Martin Boaventura

Neste domingo, fiz um percurso diferente pela cidade. Estava à procura da menina Júlia San Martin, na Pindamonhangaba em que ela nasceu aos 22 de agosto de 1.931! A Padaria San Martin e a Leiteria Avenida, de propriedade de seu pai, Augustin San Martin Filho, encontravam-se fechadas.
Na Praça da Cascata, a Banda Euterpe exibia seus dobrados sob a batuta do maestro João Antônio Romão. A menina Júlia, encantada com a atuação do pai saxofonista e dos tios músicos – Nicolau, Henrique e João -, apreciava a retreta no coreto após a celebração da missa das dez em louvor ao Divino Espírito Santo!
Às quatro da tarde, a festa seria só dela: dez anos! Na casa da rua Bicudo Leme, o bolo e o guaraná – e as irmãs Elza, Ignez e Dirce, as amigas Zenaide, Lia, Teresa, Ivonete, Enedina, Lorisse cantavam os Parabéns a você!
Eu bem queria participar da festa, entretanto, as alunas da professora Júlia San Martin chamavam-me para brincar no pátio do Grupo Escolar Alfredo Pujol. Um coro de meninas entoava cantigas de roda; outras crianças brincavam de pique-esconde, de peteca, de futebol. A jovem professora, com o coração transbordando de amor, apreciava o recreio de seus alunos…
Eu bem queria dar as mãos para as meninas ecirandar, mas uma casa linda estava sendo construída bem próximo dali, e eu fui chamada para ver o pedreiro assentar o mosaico de azulejos que retratavam uma das mais belas histórias de amor que eu já vi: rua dos Expedicionários, 200 – Rubens e Júlia! Nas quatro pilastras que sustentavam as grades dos portões, outros quatro conjuntos de azulejos adornados com arabescos azuis estampavam as letras R, A, K e B–as iniciais dos nomes dos filhos do abençoado casal.
Na espaçosa sala de visitas, os quadros e as fotos de família revelavam-me a Júlia mãe, a Júlia esposa, Júlia irmã, Júlia filha, Júlia amiga de tanta gente, Júlia professora, Júlia artista, Júlia escritora! Retratos de uma vida amorosamente colecionados pela autora de Coisas e coisinhas da Maythe, Uma família espanhola, Entre Lembranças e Saudade: a família Boaventura, Pirilampo e A Fiel Depositária Euterpe.
Seus livros revelaram-me a história de luta e de vitórias da família San Martin e dos Boaventura, com profunda beleza poética e, sobretudo, com a fidelidade de uma escritora de primeira grandeza que se deteve a pesquisar antigos documentos, entrevistar parentes e a narrar o que eles lhe contaram com beleza e perfeição!
Pelas mãos da célebre professora de Língua Portuguesa e Redação, vi em Pirilampos fotos de seus alunos, li os belíssimos textos que eles escreveram, percorri as escolas em que a professora Júlia San Martin Boaventura exerceu a sua profissão de amor maior, educando milhares de alunos ao longo de décadas de sua vida no magistério!
Pelas mãos da historiadora da Corporação Musical Euterpe, apreciei fotos antigas, li artigos de jornais e revistas que retratavam o nascimento e as conquistas de uma banda bicentenária que abrigou o talento dos músicos de sua família e de tantos outros pindamonhangabenses e, que Júlia, durante anos de exaustiva pesquisa, de escrita e reescrita, torna ainda mais célebre, magnum opus desta Cidade Princesa!
Ao sair do escritório em que ela escreve e prepara as palestras que ministra no Centro Espírita Bezerra de Menezes, vejo que a noite chegou de mansinho e os dois lampiões de entrada da casa da minha confreira na Academia Pindamonhangabense de Letras iluminam a Rua dos Expedicionários… Que pena! O inesquecível domingo de passeio pela história de Júlia San Martin Boaventura passou num átimo…
Pindamonhangaba se prepara para festejar, no dia 22 de agosto, os 196 anos da Corporação Musical Euterpe e, na casa dos San Martin Boaventura, outra festa ilumina os olhos dos filhos edos netos da menina pindamonhangabense que celebrará suas 90 primaveras na mesma data!
A banda programou alvorada, retreta e muitos fogos de artifício estourando na cidade. Na casa de Júlia, a mesa ornada com toalha branca e a prece de gratidão a Deus aguardam seus convidados!É domingo. A menina Júlia, tão querida de nossa terra e de nossa gente, celebra com a sua genuína alegria e o seu amabilíssimo sorriso nove vezes seus dez anos!

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