Vanguarda Literária : VIOLÊNCIA E OS FILÓSOFOS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a violência como o “uso da força física ou poder, em ameaça ou na prática,contra si próprio , outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte,dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação”. Sabemos que os animais agem instintivamente, seja para a busca de alimentos, na luta pelo território, na disputa pela fêmea ou quando se sentem ameaçados. Sempre pela preservação da espécie. No entanto, o homem, conquanto seja dotado do privilégio da razão, não só utiliza da violência para sobreviver, como extrapola os limites do que se considera natural, age violentamente contra sua própria espécie, colocando a mesma em risco de extinção. Aqui, ocorre um triste paradoxo: quanto mais se desenvolve em termos tecnológicos para o seu bem-estar, mais a humanidade cria instrumentos para a sua destruição. Explicar que a violência, no geral, é proveniente da desigualdade econômica, da miséria, da fragilidade das leis, da corrupção estamos mostrando que esses fatores representam fontes que a impulsionam, mas não constituem a sua base, uma vez que atitudes violentas sempre existiram nos diversos recantos do planeta e nas mais diferentes sociedades.
Como alguns filósofos interpretam esse fenômeno? JEAN -JACQUES ROUSSEAU (1712 -1778), um dos maiores nomes do Iluminismo, que escreveu “O Contrato Social”, tinha a idéia de que o homem é bom por natureza, sendo a vida em sociedade o grande fator da sua corrupção, tornando-o mal. Entretanto, THOMAS HOBBES (1588-1679), defensor do Absolutismo, autor de “Leviatã”, bem antes, já asseverava que o homem é mau por natureza e, apresentava três causas principais para explicar o seu pensamento: a competição, a desconfiança e a glória, dirigidas respectivamente para o lucro, a segurança e a reputação. Quem tem razão? Um fato é inconteste: a filosofia mostra, com muita clareza, que, ao contrário do que pensavam Rousseau e Hobbes que a sociedade civiliza o ser humano, tornando-o seguidor de leis, um ser mais cordato, em outras palavras: quanto mais me relaciono com as pessoas, mais me humanizo, mais passos dou na minha caminhada evolutiva,Os princípios filosóficos, segundo o maior filósofo italiano da primeira metade do século XX – BENEDETTO CROCE (1866-1952) mostram que a violência não é força, mas, fraqueza ,nem nunca poderá ser criadora de coisa alguma, apenas destruidora. Filósofos como o Existencialisa francês SARTRE (1905-1980), autor do “O Ser e o Nada” refletiram muito sobre a violência expressa na opressão de classes, na exploração do homem pelo homem, até reconhecida pelo sistema jurídico, representando um tipo de violência justificando-se a si própria, sendo que a parte que detém a força, a vencedora, determina aquilo que é legítimo, em nome da segurança e até da liberdade! Há que se romper com esse conceito, pois ela é destruição que desperta resistência que dá origem à perpetuação da referida violência.

  • Thomas Hobbes (ilustração acima) e Jean-Jacques Rousseau são filósofos contratualistas, isto é, instituem a figura do ‘contrato social’ como solução para os conflitos e a violência