Vòila!

Quando em 1993 o deputado federal pelo estado de Minas Gerais, o médico Carlos Mosconi, através da lei número 8.689 extinguiu o Ministério da Previdência Social, a qual o Inamps se submetia, fiquei estarrecido porque vislumbrei de início que essa lei vinha de encontro ao interesse das Multinacionais de saúde que tentavam implantar-se em nosso país. O Ministério da Previdência Social englobava a assistência médica pelo Inamps e a previdência pelo INPS e aprimorava-se a cada dia, melhorando de todas as formas imagináveis para a época a assistência médica à população brasileira.
Vimos como alguns outros, poucos, é verdade, que essa lei só traria benefícios ao capital médico internacional tentando implantar-se no Brasil.
O Ministério da Previdência Social aprimorava-se a passos largos, para uma melhor assistência à população desassistida. Havia uma central de medicamentos que distribuía graciosamente medicamentes básicos a patologia de cada paciente. Vimos a universalização da assistência médica, levando atenção básica à saúde mesmo àqueles que não tinham direito à previdência social. Vimos a fiscalização enérgica e eficiente feita por alguns médicos dos quadros do ministério, que fiscalizavam os desmandos cometidos contra a Previdência.
Não foi a assistência médica a responsável pelos estouros e superfaturamentos e mesmo roubo praticados na previdência social. Lembram-se do caso Georgina e de um juiz do estado do Rio que superfaturaram em cima do sistema de saúde? Apesar de todas essas incongruências, funcionava melhor do que o Sistema Único de Saúde implantado pelos “papagaios” médicos a serviço do regime.
O Inamps, repito, aprimorava-se a cada dia, oferecendo o que de melhor tinha de assistência médica para a época e o único problema grave e insolúvel era o superfaturamento da rede conveniada ao instituto, capitaneada pelos médicos donos das casas de saúde particulares e clínicas especializadas que superfaturavam de todas as maneiras possíveis à custa do Inamps sob a complacência de dirigentes do próprio instituto.
Eu mesmo levei provas irrefutáveis dos abusos econômicos praticados pelos malabaristas e marginais de branco que capitaneavam essa orgia financeira em cima do órgão. Cansei de fazer denúncias e levar provas e me vi afastado do cargo de fiscal do Inamps na área do Vale do Tietê.
Poucas vozes protestavam contra esses abusos, roubalheira organizada com o fim de desmoralizar o instituto e esvaziar a assistência médica no país. Conseguiram.
A emenda foi pior do que o soneto, pois hoje vemos pelos órgãos da imprensa a triste e deplorável situação que se transformou a assistência médica no país. “Tudo continua como dantes no quartel de Abrantes” e pior ainda pois a classe à qual tenho a honra de pertencer não percebeu o embuste e hoje os postos de assistência médica funcionam a título precário com pessoas leigas e muitas vezes não bem intencionadas nos postos de mando.
Mas o pior foi a substituição do médico como responsável pelos postos de atendimento que são dirigidos por enfermeiras, formadas pelas mil espeluncas criadas pela quartelada de abril de 1964 cuja função precípua era de nivelar por baixo todos os profissionais da área de saúde. Estão caminhando para isso.
Dizer que os órgãos dirigentes dos médicos não sabem desse fato é conto da carochinha, pois a assistência médica piorou, a direção inexiste e a prestação de verbas não é feita a ninguém.
É preciso que os médicos reúnam-se em assembleias patrocinadas por entidades responsáveis, que não estejam a serviço do poder dominante para que essa situação seja mudada.
Quando em 1917 a revolução bolchevique dizimou a família real russa para a implantação do regime que não teve pernas para sobreviver ao tempo, na plataforma, os revolucionários russos prometiam assistência médica aos povos daquela nação. Mas devido a população enorme e a imensidão territorial da nova república não permitia-se levar assistência médica a todas as regiões da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Resolveram então fazer cursos médicos de três anos, onde os formados iriam para os grandes centros urbanos atender a população rural somente nas áreas de pediatria, clínica médica de adultos e partos. Eram os “feldshers”. Quem desobedecesse a esses desmandos, já sabe, exílio na Sibéria. Outros países imitaram a Rússia já desmembrada e também resolveram um problema seríssimo de assistência médica pública formando “feldshers”. Cuba foi um país que formou médicos nesse sistema e logo não tiveram mercado de trabalho naquele pequeno país da América Central, então resolveram exportá-los para quem quisesse recebê-los.
Os irresponsáveis, atuais detentores do poder no Brasil, resolveram acolher os “feldshers” cubanos a preço de ouro, pagando mais do que a um profissional brasileiro. Como são “feldshers” e não médicos têm uma capacidade intelectual médica restritiva e não podem exercer a profissão em qualquer país da América Latina.
Seria interessante que os donos do poder consultassem ele e seus familiares com esses médicos cubanos para que sentissem na própria pele o que é ser enganado, ludibriado e servir de campo de experimento para quem não tem prática médica.
Mais ainda, o Brasil com a enorme proliferação de escolas médicas despreparadas para formar profissionais na área da saúde, estão formando “feldshers” de seis anos que é parada dura com os outros “feldshers” dos demais países. Só que aqui são seis anos e oficializados.
Gostaria muito que os dirigentes políticos que trouxeram esses médicos para o país se consultassem e se tratassem com os mesmos. Duvido muito.
Um lembrete: não são só médicos que temos que formar, temos também de lutar contra a célebre “lei do Quinto” e pela extinção das medidas provisórias para voltar a ser realmente uma democracia.

Colaborador: Dr. Luiz Roberto da Silva Lacaz (CRM-SP 11714 e ABP 218)