Especial “Mês da Mulher” – Mulheres que inspiram
Confira, a partir de hoje, quatro reportagens da série “Mês da Mulher”:
Ela é estudante de Engenharia. É vaidosa. É palestrante. Tem quase cinco mil seguidores nas redes sociais.
Ela é toda “família”, mas também gosta de baladas, de praia e de viajar.
Ela nem sequer chegou aos 30 anos de idade, mas tem uma vivência que “deixa muitos sexagenários no chinelo”.
Devota de Nossa Senhora, ela preferiu “enxergar o copo meio cheio”. Ela escolheu ser feliz!
Quem é ela? Jéssica Claro, uma pindamonhangabense cheia de vida e de histórias.
Enxergando a luz na escuridão
O dia era como qualquer outro. 10 de outubro de 2014. Jéssica seguia feliz para seu trabalho com sua motocicleta, quando foi surpreendida por um carro que vinha em sentido contrário. Com a colisão, ela teve sua perna esquerda instantaneamente dilacerada. Com 5% de chance de vida, teve perda total do fêmur e mais três fraturas graves na bacia. Ela ficou 15 dias na UTI e mais de dois meses internada. Chegou a perder quase todo o sangue do seu corpo e foram necessárias 39 bolsas para estancar a hemorragia.
Nos dois dias em que durara a hemorragia, “não por coincidência” – ela assim acredita –, sua mãe intercedia, incansavelmente, por ela. Foi quando no dia 12 de outubro, a hemorragia foi interrompida. “Eu tenho certeza que Nossa Senhora intercedeu por mim e pela minha vida”, revela Jéssica – que teve a perna esquerda amputada na tentativa da equipe médica salvar sua vida.
Com a vida “poupada”, Jéssica ainda precisou vencer uma bactéria grave que adquiriu durante a internação. Foram necessárias mais de 40 sessões de câmera hiperbárica (tratamento que, entre outras funções, inibe a proliferação de bactérias).
A recuperação foi lenta, alterando toda a sua rotina e de seus familiares mais próximos, incluindo o namorado Gabriel César. “Ele é um anjo de Deus na minha vida. Um amigo, um parceiro, um ser humano incrível”, disse Jéssica.
Quando uma pessoa tem sua vida “virada de ponta cabeça” de uma hora para outra ela tem duas opções: “Sentar e lamentar” ou “Levantar e seguir”.
“Ou eu me trancava num quarto e ficava depressiva ou encarava a vida com leveza… Eu fiquei com a segunda opção”, conta.
Mobilizando pessoas
E foi depois dessa tragédia que Jéssica se transformou na mulher que é hoje: um exemplo de superação, de persistência, de fé e de coragem. É preciso ter muita coragem para acordar todos os dias e notar que sua limitação física é bem menor do que sua vontade de seguir em frente.
“Na vida, a gente costuma se preocupar com as pedras no caminho e se esquece de enxergar a paisagem”, argumenta Jéssica.
E foi por pensar assim, que ela decidiu que, enquanto pudesse, lutaria para que outras pessoas não passassem pelo que ela passou. Como? Sendo palestrante, conscientizando pessoas e mais pessoas, até que elas possam perceber que mais vale a vida do que o tempo e os compromissos materiais. Mais vale a família e os amigos, do que trabalho frustrado, mal humorado e insatisfeito.
“As pessoas precisam colocar mais leveza em suas vidas. Dar valor ao que é simples. Ao fato de ter duas pernas, de andar, de falar, de sorrir, de ira à praia, de viajar. Enfim, não espere perder algo para agradecer pelo que temos”, aconselha a palestrante – que já tem dezenas de ministrações em seu currículo.
Em suas palestras, como não poderia deixar de ser, ela fala sobre segurança, sobre trajeto seguro, sobre o cuidado com o outro, sobre a empatia; mas ela também fala sobre diversidade, acessibilidade e representatividade.
Uma nova mulher
Paralelo a vida profissional, segue a vida familiar. E em 2016, ela se descobre grávida. Jéssica daria luz a um menino. O Rafael, que hoje está com 10 meses.
“Quando eu descobri que estava grávida foi um misto de emoções. Mas uma coisa eu tinha certeza, no que dependesse de mim, eu levaria até o fim… E hoje, quando vejo o ‘Rafa’, quando pego ele no colo, é impossível descrever a alegria dessa bênção”, relata. “Depois que eu me tornei mãe, passei a compreender muita coisa na minha mãe… A preocupação dela comigo, com minha recuperação, com meu bem-estar, sabe? Compreendo a preocupação dela comigo quando pratico esportes, compreendo a insegurança dela. É normal. As mães são assim.”
Jéssica conta que, além do Gabriel, sua mãe é seu grande porto seguro. E que ela, à maneira dela, é uma das grandes responsáveis por sua força e por sua forma de ver a vida. “Eu sou tão grata a Deus e à Nossa Senhora pela minha vida e pela transformação que eu passei. Sou tão grata pela mãe que tenho, pelas oportunidades, pelas conquistas e por minha família e amigos”.
Outro aprendizado dela foi fazer valer direitos como “vaga especial”; “ser preferencial em filas”, entre outros. Ela garante que não “vê problema algum nisso e que vai atrás e faz valer mesmo”.
Jéssica é virginiana – considerado um dos mais realistas dos signos – se isso tem influência, não sabemos. O que sabemos é que a filha da dona Isaura não floreia os dissabores não. Ela os enfrenta diariamente. De maquiagem no rosto e fé no coração. “É que eu carrego uma grande certeza comigo: na vida, a gente nunca perde, ou ganha ou aprende!”
Quem ganha somos nós, Jéssica, por ouvir e por poder contar um pouco da sua linda história de vida!
“A pior amputação é a intelectual. É a limitação que as pessoas têm em fazer algo, em se arriscar, em viver. Isso para mim é frustrante.” – Jéssica Claro