Mês da Mulher – Eva Andrade: “Todo ser humano é um contador de histórias”

Alguém já disse que todos nós devemos “plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho”. Pois bem, se essas são nossas grandes missões no mundo, Eva Andrade já cumpriu a sua parte com louvor. Aos 37 anos, ela tem três filhos; sete livros publicados e um oitavo que será lançado em abril; e vive cercada e em harmonia com as árvores plantadas e cuidadas pela comunidade rural de Nova Gokula.
Mas longe de se sentir satisfeita e já realizada, Eva busca mais a cada dia. Desde muito nova fascinada pela leitura e pelos livros, ela quer escrever muitos outros títulos, bem como deseja disseminar a leitura a quem possa alcançar. “A partir da leitura é possível estimular várias coisas desde muito cedo. A primeira delas é a imaginação, onde trabalhamos o cérebro sobre o que é real e o que é irreal, mostrando às crianças que elas podem ir além. Basta imaginar, querer e fazer acontecer”, destaca ela.
A escritora também defende que todos nós somos autores em potencial. “Todos somos dotados de imaginação e o ser humano carrega em si essa capacidade de dialogar, contar histórias, seja sobre si mesmo ou sobre as coisas ao seu redor. Basta que cada um exercite essa vocação que é nata”. Como exemplos, ela cita a força e a importância das redes sociais na atualidade. “As redes sociais nada mais são que pequenos fragmentos de livros que cada um de nós escreve”, afirma.
Para Eva, que é formada em Letras e lecionou por alguns anos, incentivar e aguçar esse “dom natural” é papel da família e da escola. Ela avalia que o acesso aos livros ainda é limitado, mesmo com a maioria das escolas e cidades contando com bibliotecas, onde o jovem pode emprestar o livro e fazer a sua leitura de forma gratuita. “Como educadora, percebo que, muitas vezes, os livros disponíveis são colocados como parte da grade curricular. Há uma obrigação de se ler este ou aquele título. A leitura se torna obrigatória e parte de um esquema de aprendizado. Perde-se o prazer e a espontaneidade que a leitura deve ser”, pontua.
“O jovem deve apreciar o livro. Cada história deve lhe prender e despertar sua imaginação. Para isso, os pais devem começar cedo, contando as famosas ‘histórias para dormir’, contando com a participação do filho, criando enredos. E depois, na escola, é papel do professor apresentar a leitura de uma forma lúdica, criativa e participativa. Acredito que essa é a melhor forma de fazer com que a leitura seja parte da vida deste jovem”, opina Eva.

Mil e uma coisas
ao mesmo tempo

Como a maioria das mulheres, Eva se desdobra para assumir vários papéis no seu dia a dia. Nascida e criada em Pernambuco, ela veio parar em Pindamonhangaba em 2006, quando participou de um intercâmbio de sua segunda graduação à Fazenda Nova Gokula. “Neste período que passei na comunidade eu me apaixonei pela vida rural, pela filosofia vivida aqui e também pelo homem que se tornou meu marido”.
Assim, após encerrar os estudos, Eva veio morar na fazenda. Nesta época, ela já gostava de escrever seus rascunhos e tinha algumas poesias publicadas.
Em 2009, quando lecionava numa escola da cidade, passou a desenvolver um projeto de incentivo à leitura e isso a levou a escrever o esboço de seu primeiro romance.
Assim, em 2010 nasceu seu primeiro filho e também seu primeiro livro, “Grãos de Areia”, publicado em 2013. De lá pra cá, ela teve mais dois filhos e publicou outros seis livros, sendo três infantis.
Paralelamente, ela deixou de lecionar para se dedicar ainda mais à vida da comunidade na Fazenda Nova Gokula. Lá, junto com o marido, criou uma “Área de Soltura de Animais Silvestres”, espaço que recebe, ampara e reinsere na natureza animais, principalmente aves, apreendidos pelo IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – em situação de risco ou tráfico e que precisam voltar à seu habitat natural.
Mas Eva vê sua rotina com naturalidade. “Toda mulher precisa se dividir em mil tarefas. Faz parte de nossa natureza. É claro que é cansativo, às vezes. Mas eu gosto e sinto necessidade de estar sempre em atividade. É a vida que eu levo que ajuda também a criar e escrever, sendo que uma coisa complementa a outra”, ressalta.
Novo lançamento

Em abril, Eva Andrade lançará seu oitavo romance, “Pai, eu estou aqui”. “Na obra, a preocupação de reflexão e tomada de consciência a respeito da paternidade e da maternidade é um fato. Sem almejar uma reflexão absoluta, o enredo levanta conteúdos do repertório geral, mas que, abordados de forma envolvente, trazem à baila a necessidade de recordação de qualidades que nos tornam mais humanos. Num momento em que a família ganha novos formatos e dinâmicas, tratar com sensibilidade do aspecto relacional se torna relevante para a sociedade, como um todo”, conta a autora.
O livro será lançado no dia 7 de abril, no restaurante Confraria Vegana, na Fazenda Nova Gokula.