Nossa Terra Nossa Gente : QUALQUER DIA, AMIGO, EU VOLTO A TE ENCONTRAR

Amigo é coisa para se guardar / debaixo de sete chaves / dentro do coração”, diz a Canção da América, de Milton Nascimento que traduz nossa amorosa amizade. Éramos alunos da Faculdade Salesiana de Lorena e, até hoje, tenho a vívida lembrança de como nos conhecemos. Ele descia uma das escadas do pórtico e eu teria de acessá-la para a sala de aula. Confesso: fiquei hipnotizada por aquele moço que trazia no olhar o brilho de uma luz que eu conhecia, não sabia de onde nem de quando, eu simplesmente conhecia!
Quando ele abriu a porta de acesso ao Seminário Salesiano, percebi: ele é seminarista! Mas a vida, como um oceano profundo, sempre nos leva ao “sítio que nos espera” (Saramago) e, para minha surpresa, cursávamos disciplinas comuns. A nossa amizade se deu depois que a nossa irmandade literária e filosófica se estabeleceu. Líamos e discutíamos os mesmos autores. Tínhamos os mesmos sonhos. Nossa alma era tecida do mesmo fio, a espiritualidade.
Apósa formatura, meu amigo seguiu para São Paulo, onde iria cursar Teologia e, eu,Pós Graduação.Reencontramo-nos tempos depois, na Escola Caetano de Campos, na atribuição dos professores efetivos da Rede Estadual de Ensino de São Paulo. De novo, a vida como um oceano profundo, nos aproximava. Éramos jovens educadores, apaixonados pelo exercício do magistério na “E.E. Padre Leôncio”, em Lorena.
Em 1987, ingressamos como docentes na instituição de ensino em que estudamos. Juntos, idealizamos o Projeto Político Pedagógico dos cursos de formação de professores, escrevemos artigos, publicamos livros, mantínhamos acesa, no espírito de nossos alunos e dos colegas de trabalho, a chama do amor à Educação. Também dividimos salas na Universidade de Taubaté e na gestão da Universidade Metodista de São Paulo.
Sem eu menos esperar, a vida trouxe-me para residir em sua terra natal e, mais uma vez, sob o teto de uma mesma instituição, honra festejada por nós com imensurável alegria e gratidão: éramos educadores-escritores e membros da Academia Pindamonhangabense de Letras.
Um dia, o amigo alçou o voo digno dos educadores de grande envergadura: tornou-se catedrático da Universidade Federal da Paraíba. Assim como ondas do oceano, às vezes, a vida nos distancia de quem amamos. Entretanto, os três mil quilômetros de distância até João Pessoa inexistiam para nós. Os e-mails traziam as boas novas e levavam notícias do Vale do Paraíba e de sua Pindamonhangaba, na tentativa de apaziguar a sua“saudade de casa”.
Entre os filhos ilustres de Pindamonhangaba, Elydio dos Santos Neto é astro de primeira grandeza: doutor em Educação, professor consagrado no cenário educacional brasileiro, seu maior legado não se encontra no seu exímio currículo acadêmico ou nos livros de sua autoria. No coração de seus amigos, ex-alunos e irmãos de alma está grafado o que de mais precioso ele generosamente nos presenteou: sua inteireza humana e sua profunda comunhão com o Sagrado!
Infelizmente, ao final da tarde do dia 3 de outubro de 2013, fomos surpreendidos pela notícia de sua partida. Como águia, o “Mestre dos mestres”. voou para as alturas celestes… Desde então, ao contemplar o maciço de montanhas que enlaça a“sua” e, hoje, “minha Pindamonhangaba” falta o seu abraço amigo e a amorosa luz do seu olhar. Mas a vida, como um oceano profundo, sempre nos conduz “ao sítio que nos espera”. “Qualquer dia, amigo, eu volto/a te encontrar”!

  • Elydio dos Santos Neto