Mês das Mães: A chegada de um filho
Na terceira reportagem da série “Mês das Mães” abordamos
o sublime papel das doulas: a ponte entre a equipe
técnica, a mulher e a família
Há relatos que desde os remotos povos gregos onde existia uma mulher parindo, existia uma doula apoiando. A doula era uma pessoa conhecida da gestante, outra mulher experiente no mundo do nascimento, mas não uma profissional. Eram as comadres, as primas, a avó ou a mãe da própria parturiente, que desempenhavam o papel de servir à gestante durante o trabalho de parto.
Apesar da figura da doula no parto ser tão antiga quanto a existência da própria humanidade, ainda há muitos debates e divergências em relação à sua função e ao tema “Parto Humanizado”. Isso porque um dos maiores desafios refere-se à falta de informação.
“Há crenças enraizadas entre algumas mulheres e alguns médicos de que a mulher não consegue parir. É preciso fazer uma ‘limpeza’ dessas crenças e a melhor ferramenta é a informação. Às vezes, as crenças parecem estar bem resolvidas, mas no fundo, elas estão debaixo do tapete”, destaca Ana Paula Pereira – professora de yoga e doula desde 2015. Ela se formou doula para atender a uma característica natural. “Desde muito nova eu sempre escutei muito minhas primas e amigas. Sem buscar, isso sempre aconteceu na minha vida. Quando descobri esta profissão, pensei que queria saber mais sobre, e que poderia ter a ver com esta característica natural minha. Além disso, muitas amigas me diziam: é a sua cara”.
O papel das doulas
O dicionário define doula como “uma assistente de parto, sem formação médica, que acompanha a gestante durante o período da gestação até os primeiros meses após o parto, com foco no bem-estar da mulher”. Para Milena Fondello, a definição vai além: “A doula é aquela que, por entender o parto como um evento não apenas físico, mas psicossocial, acolhe os medos e as incertezas da gestação, trazendo um novo olhar para o processo do nascimento. É ela quem ajuda a ressignificar a dor das contrações, favorece o acesso às informações seguras e estimula a mulher em sua caminhada rumo à tomada de decisões responsáveis e conscientes para a chegada do seu filho. A doula é uma das figuras mais importantes quando se fala no novo modelo de assistência ao parto”, afirma.
Doula e sócia-proprietária da Clínica Mátria (Pindamonhangaba), Milena acompanha mulheres (e homens) de toda a região; levando informação, experiência e acolhimento às famílias que optam pelo parto natural. “A clínica nasceu da ideia de reunir, em um só lugar, profissionais que acreditam no modelo de atendimento interdisciplinar, que enxergam o ser humano de maneira integral e que entendem a importância da informação como ferramenta para o autoconhecimento, o autocuidado e o empoderamento”, ressalta Milena. Para ela, assim como para Ana Paula, a falta de informação firma-se como a principal barreira a ser ultrapassada.
“Em cerca de um ano de clínica, pudemos notar um crescente envolvimento, não apenas das mulheres, mas também dos homens nesse modelo que preza por uma postura equilibrada e responsável para a construção da ‘maternidade/paternidade’ ativa e consciente, desde a gestação até a criação dos filhos. As rodas de gestantes e de amamentação, e até as rodas de homens têm estado cada vez mais cheias e com um público cada vez mais conectado com a nossa proposta”, conta Milena.
“Do Ventre ao Peito”
No dia 10 de dezembro de 2017 chegava à família do Luis e da Letícia Castro o pequeno Francisco. ‘Pequeno’ é apenas carinho, porque ele veio ao mundo com 4,405 quilos, por parto natural.
“A verdade é que desconstruímos vários mitos porque eu tive diabetes gestacional, que ficou controlada apenas com dieta, só tomei medicamento no último mês; meu filho nasceu bem grande, com mais de quatro quilos; eu tive o períneo íntegro; e meu trabalho de parto durou cerca de cinco horas”, relata Letícia – que garante: “Eu li muito, busquei informações e participei de rodas de conversas como o ‘Do Ventre ao Peito’ que me muniu de informações e de certezas. Somente com informações sólidas é que ficamos mais fortalecidas.”
Ela conta que acompanhou a gravidez de uma amiga que teve filho por parto natural e achou “aquilo tudo tão especial” que decidiu: “Quando eu engravidei, eu tinha duas certezas, queria que fosse por parto natural e queria ter meu filho comigo após o nascimento.” Hoje, com cinco meses de vida, “Chicão”, como é carinhosamente chamado, é a alegria da família, que indica a opção pelo parto natural. “A dica que deixo às futuras mamães é: ‘se informem o máximo que puderem’, pois quando estamos munidos de informações corretas não nos deixamos influenciar pelos mitos.”
Algumas dicas de leitura sobre o tema
“Parto Ativo” – de Janet Balaskas
“Entre as orelhas – Histórias de Parto” – de Ricardo Herbert Jones
“Filhos da Primavera – Histórias de Parto” – organizado por Camila Capacle Paiva, Celso Monari Paiva e Luiza Paim
“Quando o corpo consente” – de Marie Bertherat, Therese Bertherat e Paula Brung