Nossa Terra Nossa Gente : CARMEN GALVÃO
Pernambucana de nascimento, Pindamonhangabense de coração!
Em Pindamonhangaba tenho encontrado os melhores presentes que a vida pode nos conceder: os grandes amigos. Entre eles, a poetisa e escritora Carmen Galvão! Quando nos conhecemos, foi amor à primeira vista, desses que a gente tem a certeza de que sempre existiu e de que nunca terá fim!
Entre nós, puro magnetismo: a paixão pela vida e o amor incondicional à literatura. De prosa em prosa, nosso encontro virou uma festa com a chegada dos personagens de Rachel de Queiroz, com as casas chilenas de Pablo Neruda, com a poesia de Drummond, com o universo árabe de Malba Tahan!
Essa “menina grisalha” de olhos azuis nascida em Bezerros – PE, no dia 19 de julho de 1930. Filha de João Anúncio de Medeiros e de Francisca da Silva Medeiros, viveu a infância e a juventude em sua cidade natal, ao lado das irmãs Enilde, Ivete e Cleomar. A escolha de seu nome, Carmen, revela pura sintonia com os caminhos literários que haveria de percorrer.
Carmen significa poema, poesia, versos.
A paixão pelos livros, segredou-me, teve início aos quatro anos, quando precocemente aprendeu a ler e a escrever. A expressão em versos chegou aos treze, ao metrificar a glosa “A medicina não cura os males do coração”:
Há certa dor que perdura/que maltrata e faz sofrer
e esse eterno padecer/ a medicina não cura.
Leva até a sepultura/ a dor de uma ingratidão
ódio, saudade, paixão/ quando no peito irmanados eles mesmos são chamados/ os males do coração.
Casou-se aos 17 anos com José Correia Galvão, com quem teve dez filhos: Benjamin, José, Alexandre Magno, Henrique, Romeu, Maria da Glória, Carmen Maria, Maria Valéria, Maria da Conceição e Maria do Rosário. Confidenciou-me que sua paixão pelos livros era tão intensa que até enquanto amamentava os filhos, lia e relia as obras prediletas! A sua maestria com a escrita, certamente, advém de suas leituras. Inicialmente, escrevia-os e jogava fora; passou a guardar apenas aquelesagraciados em concursos ou veiculados em jornais e revistas.
Ao propor a edição de seus escritos em livro, vi o brilho do céu em seus olhos azuis… Ela abraçou a idealização desse sonho como se organizasse a sua festa de debutante! Procurou seus escritos em cadernos e agendas, selecionou documentos e fotos de família, pediu ao neto Bruno que criasse a capa da obra e a mim confiou, segredos e recordações de sua história que fortaleceram, ainda mais, a trama amorosa que nos unia.
O conjunto de sua obra – crônicas, poesia e trovas, foi editado em 2013, meses antes de seu falecimento, em maio de 2013. É a Vida!, título escolhido pela poetisa, tem muito a contar e a encantar com a narrativa elegante e vigorosa, poética e criativa dessa pernambucana de nascimento e pindamonhangabense de coração. Sua obra registra não só o nascimento da poetisa e escritora Carmen Galvão em nossa “Princesa do Norte” como também oseu ingresso como membro honorário da Academia Pindamonhangabense de Letras – seu grande e terno amor!
Quando a saudade de seus olhos azuis me visitam, abro ao acaso uma das páginas de É a Vida! E de seus escritos vem a certeza: poetas como Carmen Galvão não morrem. Eles apenas ficam “encantados”, como bem disse Guimarães Rosa!