História : O destemido capitão Marcondes do Amaral
Uma contenda entre mineiros e pindamonhangabenses por causa de limites entre as terras das capitânias de Minas e de São Paulo, teve início no final do século XVIII, se alongando até a segunda metade do século seguinte. Na época, os atuais municípios de São Bento do Sapucaí e Campos do Jordão faziam parte da área territorial de Pindamonhangaba, que, por conta disso, fazia divisa com o Sul de Minas Gerais. Sobre o assunto, encontramos em exemplar da Folha do Norte (jornal local extinto ainda na primeira metade do século XX), datado de 5 de julho de 1925, uma crônica exaltando a atuação do capitão-mor Ignácio Marcondes do Amaral, espécie de xerife, responsável pela segurança da então Vila Real de Pindamonhangaba.
Segundo o jornal, o fato teria ocorrido “…numa manhã remota do mês de março do ano da graça de 1815”, quando o burgo pindamonhangabense “foi cercado por numerosa força mineira de cavalaria ligeira comandada por um cadete”. Atacada de surpresa, a população “possuída de imenso pavor não ousou resistir”.
Narra o cronista que à noite, ciente da não resistência, a tropa mineira acampou numa localidade então denominada Porto Velho (atual Bosque da Princesa e imediações). E foi aí que se destacou a figura do destemido capitão Marcondes do Amaral, elogiado “pelo esplendor de seus feitos cívicos e entusiasmo valoroso em prol de sua pequenina Vila Real de Pindamonhangaba.”
No dia seguinte, o capitão tratou de reunir em sua chácara as principais pessoas da localidade para discutir qual seria a sua decisão a respeito daquela situação. Secretamente, acionou também o Corpo das Ordenanças da Vila, efetivo que dispunha pra manter a ordem e a lei no lugar.
O dia se foi e ia já alta a noite quando, sob o comando do capitão Marcondes do Amaral, os pindamonhangabenses “sitiaram os mineiros com um fogo cerrado de mosquetaria”. Na batalha, travada às margens do rio Paraíba, conta o redator, “sitiantes e sitiados fazem prodígios de valor, posto que nem uns nem outros se recomendem muito pelos seus talentos militares”, fazendo alusão ao despreparo de ambos com relação ao conhecimento de técnicas militares de ataque e defesa. No entanto, pela manhã, “o acampamento mineiro havia sido batido em toda linha e o resto da expedição invasora, horrorizado, havia se evadido pelos matos e várzeas…”
Triunfantes, os pindamonhangabenses retornam à Vila levando mortos e feridos de ambas as partes. Na igreja matriz, certamente ainda rústica, pois o início das notáveis reedificações só ocorreria em 1841, “repicavam festivamente os sinos” para receber o capitão e seus guerreiros. Com cruz alçada, o vigário, que se chamava Luiz Justino havia convocado as irmandades da Paróquia para darem graças pelo êxito da força local.
Prosseguindo a narrativa, o cronista registra que o governo paulista havia censurado asperamente o capitão “pelo modo enérgico e violento que repelira os mineiros. No entanto, ”estava salva a praça e a honorabilidade de seu chefe”, e a máxima de Cícero (filósofo): “Se ofendi a lei foi para salvar a república”, teria sido – acreditava o jornalista – uma inteligente resposta do bravo capitão ao governador .
“A posteridade louva o valor militar do humilde capitão-mor que em época acanhada colonial e sem recursos bélicos, soube desafrontar com denodo e coragem os direitos da sua Capitania”, concluiu a Folha do Norte.
O capitão
Dados biográficos colhidos no livro de Athayde Marcondes ((Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos, 1922), revelam que Ignácio Marcondes do Amaral foi casado com Anna Joaquina de Oliveira e pai de quatro filhos, entre eles os dois irmãos cujos feitos se destacam na história de Pindamonhangaba: Ignácio Marcondes de Oliveira Cabral, o Monsenhor Marcondes, padre, vereador, deputado pela província (estado), delegado de polícia e juiz de paz, líder pindamonhangabense na Revolução Liberal de 1842, perpetuado na denominação da praça central de Pindamonhangaba; e Manuel Marcondes de Oliveira e Mello, outro líder nato e ilustre cidadão, eternizado na história da pátria como o coronel comandante da Guarda de Honra de Pedro I e depois 1º Barão de Pindamonhangaba com Honras e grandeza. Observando a procedência se vê que a valentia “estava no sangue”.