História : O poeta João Romeiro
Em um poema – ele também era poeta – denominado “Já morreu…”, João Romeiro conta a história de uma mesa, móvel familiar que, segundo Mateus Romeiro, “era guardado religiosamente, como evocação de pessoas queridas”. Nos versos, nos quais “sua sensibilidade e ternura podem ser avaliadas…” (Mateus Romeiro), o poeta descreve a trajetória da tal mesa a relacionando com as pessoas a ela envolvidas e que já haviam morrido, inclusive sua esposa Ana Francisca, identificada em sua poesia como santa criatura.
Já morreu…
Tenho no quarto em que durmo
E bem junto ao leito meu,
Uma mesa que está sempre
A me dizer: já morreu…
Noite e dia, a toda hora
Nunca de mim se esqueceu,
Na sua triste mudez,
Só a dizer: Já morreu…
O marceneiro que a fez,
Muito bem, lembro-me eu,
Um antigo conhecido,
Nosso amigo: Já morreu…
Pela obra executada
Boa paga mereceu,
Quem lhe havia encomendado
Foi meu irmão: Já morreu…
Queria para presente,
E um primor lhe pareceu;
Mandou, sinal de lembrança
À nossa mãe: Já morreu…
A uma santa criatura
Finalmente pertenceu,
As roupas das criancinhas
Cosia ali: Já morreu…
Deixem ficar essa mesa
Lá, bem junto do leito meu,
Até que um dia, de mim,
Também diga: Já morreu…
(O Dr. João Marcondes de Moura Romeiro morreu aos 73 anos, no dia 8 de julho de 1915, dezesseis anos depois da partida de sua esposa)