História : A figueira do Alto Tabaú
O tempo passa… leva consigo memórias, lendas e causos! Leva a história que não foi registrada, só foi contada… não foi recontada. É culturalmente sensato o município que reconta, reescreve, reedita, republica reminiscências. Desde os fatos históricos de extrema importância até os causos, a lenda, o porquê das denominações de certos locais ou, simplesmente, lembranças de pontos que ficaram conhecidos pela existência de um marco, tenha ele sido construído pela mãos do homem ou pela natureza… como uma árvore, como a figueira do Tabaú!
Em alusão ao 21 de setembro, Dia da Árvore, árvore que em tempos de agora deve ser cultuada como tesouro merecedor de respeito, atenção e sublime amor, recordemos então dessa velha figueira…
A figueira do Tabaú, árvore do gênero fícus, da família das moráceas, existiu pelo menos até a primeira metade do século XX. Ficava ali na rua São João Bosco, lado direito de quem segue em direção ao bairro de Santana, altura de onde hoje se encontra o número 276 e proximidades.
Em Athayde Marcondes (obra imprescindível nas bibliografias quando o assunto é a Pinda de antigamente), encontramos apenas sucinta nota a respeito:
“Figueira. Arrabalde da cidade situado no alto da rua Prudente de Morais, antiga rua Alegre. Há 40 anos era um dos lugares mais aprazíveis e divertidos dos nossos arrabaldes. De tudo que ali havia de poético só existe a grande árvore que lhe dá o nome.”
Desta referência de Athayde, podemos comentar alguma coisa. O autor cita como arrabalde o início do bairro Alto do Tabaú porque naquele tempo (2ª década do século passado) eram consideradas periferias até os bairros mais próximos do centro urbano.
Quanto às denominações “Prudente de Morais e “Alegre”, dadas anteriormente à rua São João Bosco, lembramos que houve um tempo em que a Prudente de Morais ia além de seu cruzamento com a Coronel José Francisco (aquela que vem da General Júlio Salgado em direção a Dino Bueno). Até 1868 chamava-se rua Alegre. Acredita-se que por causa do movimento que havia por ali, pois era a principal entrada da cidade para os viajores que chegavam e que partiam em direção à capital do Império (Rio de Janeiro). Depois de 1868 passou a se chamar rua Conde D’Eu em homenagem ao conde Gastão de Orleans e Bragança, que naquele ano visitara Pindamonhangaba com sua esposa, a princesa imperial Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Gonzaga de Bragança.
Com o advento da República, em 1889, as denominações alusivas à monarquia foram sendo substituídas. Então a histórica rua Alegre que havia se tornado rua Conde D’Eu, passou a ser rua Prudente de Morais, em homenagem ao terceiro presidente da República, cuja gestão foi no período de 1894 a 1898.
Já quando o autor ressalta que “…há 40 anos ali era um dos lugares mais aprazíveis e divertidos…”, calculamos que se referia ao ano de 1880, uma vez que teria escrito isso por volta de 1920.
Inesquecível árvore frondosa e bela…
Conta-nos a nossa leitora Beatriz Cunha Péres, pindamonhangabense que se radicou na capital paulista, mas que nunca deixou a Princesa do Norte (aqui residem seus familiares e ela sempre está por aqui), que seu pai era proprietário de imóveis bem em frente da figueira do Tabaú. A leitora relembra com saudade da frondosa árvore de sua infância. São dela as antigas fotos cedidas para ilustrar esta página. Segundo dona Beatriz, as fotos eternizam os momentos junto à figueira, possivelmente na década de 30 do século que se foi.
Procurando algo mais sobre essa árvore, localizamos na edição de 1º/8/1987 da Tribuna do Norte, uma providencial crônica e soneto de autoria de Geraldo Pires, o saudoso também pindamonhangabense, colaborador do jornal Tribuna do Norte, radicado na capital, por força de suas atividades profissionais.
Geraldo Pires assim recordava da figueira do Tabaú: “No Alto do Tabaú, lado direito de quem vai para Santana, por muitos e muitos anos imperou, altaneira, uma frondosa e linda figueira, cujos grandes troncos e sua espessa folhagem, atravessavam a estrada, proporcionando uma grande e reconfortante sombra nos dias de calor intenso.
Rainha em seu trono, cujas grossas raízes afloravam a terra batida, passou a denominar o nosso bairro, que passou a chamar-se Bairro da Figueira.
Na minha infância, no início da noite, costumava brincar de ‘pular a bota’ debaixo dela, juntamente com meus amigos: Caetano e Angelino Piorino, João do Amaral, Romeu Marcondes, Luiz Genésio, Benedito Ramalho, o “Lóca”, André Martinho e outros.
Homenageando a figueira, que assistiu passar a infância e adolescência de várias gerações, aqui fica registrado o preito da nossa saudade”. ( ver soneto em ‘Lembranças Literárias’).