História : O jornal Tribuna do Norte e a adesão à república
A editoria de história desta edição é alusiva ao dia 15 de novembro de 1889, data em que o Brasil deixou de ser governado pela monarquia. Com um artigo escrito, provavelmente, por seu fundador, o político Dr. João Romeiro, o jornal Tribuna do Norte reafirmava em sua edição de 28/11/1889, a adesão à República. Nascido folha liberal, o semanário de João Romeiro se tornou folha republicana, ideal que suas páginas já vinham pregando com artigos favoráveis ao fim da Monarquia. Com o título “O passado e o futuro”, deixava-se claro que a Tribuna haveria de ser antes de tudo favorável à evolução, respeitando o passado e acreditando no futuro do Brasil. Em seu pronunciamento abordando a nova forma de governo, João Romeiro expressou certa desconfiança com relação àqueles que, de ferrenhos monarquistas, andavam a aplaudir o novo sistema de governo. Alertava também o fundador da Tribuna, para que houvesse certa cautela por parte dos mais eufóricos. Segundo Romeiro, só depois que ‘o governo do povo pelo povo’ se achasse perfeitamente consolidado é que poderiam considerar a pátria perfeitamente garantida. Seu discurso, registrado naquela edição histórica, merece ser apreciado na íntegra, ainda que na grafia atual:
“Aplaudindo a proclamação da República e aderindo sinceramente à ordem de coisa criada pela benéfica revolução de 15 de novembro, damos por completamente extinta toda solidariedade política que havia entre nós e os membros do velho Partido Liberal, sob cuja bandeira temos militado.
Fazemos esta declaração porque queremos que saibam os nossos ex-correlegionários, entre os quais contamos tantos amigos particulares, que um único empenho temos hoje como político, é auxiliar por todos os modos o governo provisório na consolidação das instituições proclamadas e fazer o que for possível para que no novo regime, o povo possa ser livre de direito e de fato.
Não contestamos que os velhos partidos, sem exceção de um só de seus membros, poderiam e deveriam caminhar com essas mesmas disposições e seguir essa mesma orientação. Mas, porque não dizê-lo? Não temos a menor confiança na sinceridade daqueles que até ontem supunham que o povo não podia governar-se, e que hoje, por não terem outro remédio, abraçam-se entusiasticamente com a bandeira vencedora e querem ter a honra de meter guarda à porta da cidadela que não queiram entregar e que foram forçados a fazê-lo.
Não confiamos neles, como político e adepto da democracia mais adiantada, e dizendo-o com franqueza, acreditamos não ofender pessoalmente a ninguém.
Ou andavam a enganar miseravelmente o país, impedindo, por interesse exclusivamente pessoal que este fosse declarado em estado de reerguer-se livremente, ou, como queremos supor, estavam de feito, e sinceramente convencidos que o governo puramente democrático, a República, era uma desgraça; e a deposição da Monarquia a maior calamidade que cairia sobre a nossa pátria. Ou por falta de patriotismo ou porque as suas ideias não estejam de acordo com o pensamento que se deseja realizar, o que é certo é que esse proceder dos velhos partidos tirou-lhes o direito à confiança do povo.
Pensamos também que o maior inimigo das liberdades públicas ainda aí está, com os olhos chamejantes e a espera de ver se empolga a presa.
Criados pelo regime monárquico e já adaptados a uma política que era o instrumento de exploração da pátria, dificilmente se submeterão os chefes depostos à vontade do povo, a quem tanto contrariaram.
Não é a monarquia que deve carregar exclusivamente com a responsabilidade dos males que pesaram sobre a pátria durante o 2º Império.
E onde estão os seus cúmplices?
Tão depressa regeneraram-se?
Tão depressa suas ideias, sentimentos e medo de ver as coisas transformaram-se tão profundamente, a ponto de já poderem merecer plena confi ança do povo a que combatiam até a última hora?
Olhemos imparcialmente para o passado e procuremos garantir nosso futuro. É nossa opinião que pouco teremos feito em benefício da liberdade, se, sob a bandeira republicana, os novos partidos políticos se deixaram infl uenciar pelos preconceitos, vícios e defeitos dos que se educaram na Monarquia!
Não nos iludamos com a família imperial, não foram todos os adversários da democracia, temos ainda muito que lutar. E só depois que o governo do povo pelo povo se achar perfeitamente consolidado, poderemos considerar a pátria perfeitamente garantida.
Aproveitemos os ensinamentos do passado e garantias para o povo que ainda pode sofrer.
Nunca precisamos tanto da sinceridade dos homens e da lealdade dos chefes.
A politicagem é astuciosa, esta avezada a todas as tricas, e não se deixará facilmente aniquilar ao novo regime.
E que será de nós se ela empolgar o poder e continuar na exploração da pátria?
Olhemos para o passado e acautelemos o futuro.”