Decreto municipal tomba Fazenda Coruputuba e propriedade poderá se transformar em centro cultural
Propriedade foi adquirida em 1911 pelo empreendedor Cícero da Silva Prado que veio para Pindamonhangaba com apenas 23 anos
Colaboração: Ocimar Barbosa (Texto e fotos)
Um decreto promulgado pelo prefeito Isael Domingues, em 7 de janeiro de 2020, aprovou o tombamento de uma área da antiga e tradicional Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba. De acordo com o Secretário de Cultura e Turismo, Alcemir Palma, a solicitação partiu de um representante da família proprietária (herdeiro da área).
“O processo começou quando o proprietário procurou o Conselho Municipal de Patrimônio, manifestando o desejo de tombamento de três prédios. Isso foi pautado no Conselho de Patrimônio que marcou uma reunião extraordinária no local para conhecer e saber mais detalhes com ele”, disse o secretário que também é presidente do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental do município.
Segundo ele, a área do escritório tem 452m², enquanto a casa branca – que hoje é uma residência – tem 377m². Outra edificação é a antiga tulha que tem 714m². “O conselho aprovou as informações e a importância histórica desses três prédios e, a partir daí, a gente encaminhou ao Jurídico [do município] pra que fosse feito todo o trâmite de elaboração do decreto, que culminou agora em janeiro.”
Cícero Prado,
o pioneiro da indústria
A propriedade foi adquirida em 1911 pelo empreendedor Cícero da Silva Prado que veio para Pindamonhangaba com apenas 23 anos. Prado, que viria ser o pioneiro na industrialização do município, comprou uma área de 1.000 alqueires de José Marcondes Rangel. O local era conhecido por Coruputuba, que em tupi-guarani significa “Rio de muitas pedrinhas”.
Durante boa parte do século XX, a Fazenda Coruputuba chamou a atenção pela força econômica impulsionada com a intensa atividade fabril da Companhia Agrícola Industrial Cícero Prado. Dentro da fazenda, uma grande comunidade vivia ordeira e seus chefes de família trabalhavam na empresa de celulose do “seu Cícero”.
Para os mais de cinco mil moradores da vila havia comodidades não vistas em muitas cidades como farmácia, padaria, escola para adultos e crianças, igreja, clube, cinema, futebol, represas, tudo cercado pelas belezas naturais da fazenda. No entanto, o mercado do papel passou a enfrentar turbulências a partir de um novo conjunto de regras imposto nos anos 80. A fábrica foi vendida, as residências demolidas e hoje o silêncio reina no local.
Em meados dos anos 40, Cícero Prado foi provedor da Santa Casa de Misericórdia, tendo sido ainda um grande benfeitor de diversas entidades sociais do município. Faleceu aos 80 anos, em 13 de março de 1969.
Novos tempos
e alternativas
O cenário da fazenda mudou e não se vê mais os eucaliptos. A área hoje é usada pra cultivos de diferentes sementes e plantas alternativas. Quem toca grande parte da fazenda nos dias atuais e é herdeiro da área tombada: o produtor rural Patrick Assumpção é da quarta geração da família e divide seu tempo entre Pindamonhangaba e as atividades que tem em São Paulo.
Assunção se dedica a um projeto para a formação, segundo ele, do chamado Polo Florestal de Usos Múltiplos do Vale do Paraíba. Ao mesmo tempo, tem um intenso trabalho desenvolvido na fazenda que é voltado para o uso tradicional de plantas nativas da região ou mesmo de plantas não nativas.
Com o sistema agroflorestal implementado por ele e uma pequena equipe, a fazenda é aproveitada com todos os seus recursos ao longo de todo o ano com o plantio misto, onde convivem árvores do tipo guanandi com palmeiras reais e bananeiras. Na fazenda também são colhidos milho roxo, mini abóbora, feijão caupi, feijão de fava, feijão guandu seco, tremoço, araruta, mangarito, açafrão da terra e cará-moela.
“A primeira casa aqui da fazenda Coruputuba, foi construída em 1911 pelo meu bisavô Cícero da Silva Prado, pra moradia dele. Posteriormente isso se tornou numa seção agrícola aqui da Fazenda Coruputuba. Então, é uma casa centenária, com seu valor histórico e a gente tem interesse de mantê-la em pé”, comentou Assunção.
Centro Cultural
em Coruputuba
De acordo com o proprietário, o tombamento abrirá caminho para o processo de restauração dos prédios, que passarão a ter um uso nobre. “Essa casa principal é a que vai iniciar o processo de restauração. Ela vai abrigar um centro cultural para abordar bastante o uso tradicional de plantas nativas da região e o interesse é abordar vários temas com instituições nesse tema cultural regional. Então, essa parceria com a Prefeitura é sempre muito bem -vinda. “, disse ele, lembrando que o local já abrigou com grande sucesso o 1º Festival Tropeiro do Vale do Paraíba”.
“O tombamento é da volumetria. A caracterização externa vai permanecer a mesma e na parte interna a gente tem condições de fazer alterações para abrigar o centro cultural pra ele poder ter todas as adequações, de bombeiro, sanitárias… A etapa em que a gente está agora é de aprovação da Lei Rouanet, e a gente está levantando esse recurso. A primeira etapa tem a formação do projeto físico mais o memorial descritivo da obra. E pra segunda etapa temos um segundo recurso para a execução dessa restauração”, informou Patrick.
Segundo ele, o espaço será voltado, portanto, para negócios, capacitação e educação com ênfase em vivências florestais direcionadas à cultura alimentar e, o futuro centro cultural tem todas as condições para isso devido às características que agregam riqueza cultural, histórica e ambiental. Ele pontua que o empreendimento é interessante para abrigar um ponto de alimentação valeparaibana com a comida regional tropeira e a fomentação da culinária regional. Seria uma grande conquista para a cidade e região.
O empreendedor esclareceu que está conversando com empresas para obter essa renúncia fiscal. “Quero aproveitar a oportunidade e falar com as empresas e apresentar a elas o projeto. Que despertem nessas empresas daqui do Vale, de Pindamonhangaba, principalmente, as grandes como a Novelis, a Confab e a Gerdau, que estão aqui no distrito de Moreira César, o interesse de trabalhar com a gente nesse centro cultural de Coruputuba”, finalizou.