Pindamonhangaba valoriza mestres da Cultura Viva
A riqueza cultural de um povo se mede não somente pelo patrimônio histórico, arquitetônico e outros bens materiais de uma cidade ou país mas, acima de tudo, pelas manifestações artísticas e culturais dos fazedores de cultura. O Prêmio Mestres da Cultura Viva foi criado para valorizar e homenagear esses cidadãos que tanto fizeram e ainda fazem para manter as tradições e manifestações artísticas vivas ao longo dos anos na cidade.
A iniciativa da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura de Pindamonhangaba teve sua primeira edição em 2019 e agora, em 2020, mesmo em meio à pandemia, vai continuar premiando e valorizando esses artistas. Os cinco vencedores desta edição são: Sergio Callipo (Mestre Escultor de Figuras em Barro), Benedicta Correa de Jesus Prado (Mestre de Folia de Reis), Walter Leme (Mestre de Marchinhas), Yolanda Vinagre (Mestre Acordeonista) e Maria Tereza de Jesus Teixeira (Mestre Benzedeira).
Para participar, os concorrentes precisam ter mais de 60 anos e que se reconheçam ou sejam reconhecidos por sua própria comunidade como herdeiros dos saberes e fazeres da tradição oral.
Neste ano, foram 12 inscritos, e a Comissão de Seleção do Edital de Concurso Cultural foi formada por: Ana Beatriz Borrego, Elda Varanda Dunley e Pércilla Márcia da Silva. O resultado foi feito após avaliação da documentação apresentada pelos inscritos.
Uma das vencedoras, Benedicta Correa de Jesus Prado, está muito feliz pelo reconhecimento. “Para mim o prêmio representa muita coisa, me sinto muito feliz por ter pessoas simples sendo homenageadas. É um grande prazer, estou muito contente”, disse.
Outro vencedor, Walter Leme também está grato pela homenagem. “Eu estou super feliz, me sinto gratificado por tudo que fiz parte e quando criei o festival de marchinhas, e agora me sinto recompensado por tudo que fiz nessa área”, declarou.
Yolanda Vinagre, outra das vencedoras, ficou emocionada. “Eu estou muito feliz, é muito gratificante receber esse prêmio. Falei para meu filho mais novo que tem tanto sanfoneiro em Pinda! Para mim é uma grande honra”, afirmou.
O secretário de Cultura e Turismo, Alcemir Palma, lembra da importância de se valorizar os saberes populares, pois são eles que contribuem para a formação de nossa identidade cultural. “Normalmente, a história e a cultura acabam lembrando pessoas que são renomadas e, culturalmente falando, temos personagens e em nossa comunidade que precisam ser valorizados, que trazem consigo tradições e costumes que foram formando nossa identidade ao longo das gerações, como o vendedor de biju ou a benzendeira, entre outros saberes populares, e que não podem ser esquecidos”, destacou. “Parabenizo os vencedores, que, cada um em seu ofício, trazem um significado muito grande e de muita importância para a formação de quem somos hoje”.
Conheça os vencedores
SERGIO CALLIPO
Mestre Escultor de Figuras em Barro
Paulista, com 65 anos, criado no Bairro da Mooca, é autodidata, suas obras estão distribuídas por vários países, como França, Alemanha, Espanha, Itália, Portugal e outros. Em Pindamonhangaba possui vários monumentos, dentre eles o Amácio Mazzaropi, da rotatória do Mazzaropi, um São Benedito na Paróquia de Nossa Senhora da Assunção, dentre muitas outras obras. Em sua longa carreira artística, já ministrou aulas de modelagem e argila na Faculdade Santa Cecília, no Cerâmica, Bosque da Princesa e Museu. Atualmente está voltado para a Arte Sacra, o que não lhe impede de esculpir o que lhe for solicitado.
WALTER LEME
Mestre de Marchinhas
Nascido em São José dos Campos, Walter Leme, agora com 71 anos, é escritor, poeta, empresário e, quando aos 19 anos começou a pesquisar e estudar a história das marchinhas, passou a ser também compositor de Marchinhas. Algumas de suas obras são: “Vou para Pindamonhangaba”, “Fica só quem quer”, “A marcha do chifrudo’, “Festa no Céu” e “É Carnaval”. Ganhou muitos concursos de marchinhas e também ajudou a criar, em 1971, o Festival de Marchinhas Carnavalescas de Pindamonhangaba, evento que acontece até hoje em nosso município. Festivais como esse difundem a cultura das marchinhas, trazendo alegria e diversão para toda a família.
BENEDICTA CORREA DE JESUS PRADO
Mestre de Folia de Reis
Dona Benedicta, hoje com 76 anos, conheceu seu marido em cantorias e festejos de Folia de Reis, há mais de 60 anos. Juntos formaram uma dupla sertaneja onde tocaram também em festas e eventos. Em 1995 criaram a Folia de Reis do Vista Alegre e percorreram muitos bairros da cidade, como o Ribeirão Grande, Feital, Jd. Eloyna, Centro, Crispim, Alto do Cardoso, Piracuama e o Distrito de Moreira César, atendendo a pedidos do Natal ao dia de Santos Reis, transmitindo muita fé e alegria, entoando Folias “enquanto Deus der energia”, conforme afirma Dona Benedicta, cantora, tocadora de triângulo e bandeireira no grupo.
YOLANDA VINAGRE
Mestre Acordeonista
Dona Yolanda nunca estudou música em escola formal, aprendendo a tocar olhando o seu irmão Stephano Eugênio. Sua vida foi de muita labuta na roça, onde lidou desde cedo com plantação e gado. Sua diversão eram os bailes e encontros para tocar e cantar. Com muito orgulho de sua origem rural, Dona Yolanda criou seus filhos com muita luta onde o acordeom e a música sempre foram uma forma de alegria e satisfação. Hoje aos 85 anos, perdeu seu marido e dois de seus filhos, mas se orgulha em ser a matriarca de uma família de músicos e pessoas da lida rural.
MARIA TEREZA DE JESUS TEIXEIRA
Mestre Benzedeira
D. Tereza começou a benzer ainda criança no Bairro do Goiabal, aprendendo com sua mãe, que aprendeu com sua avó as orações. Sua mãe a ensinou a benzer utilizando um copo de água e brasa de fogo. Se a criança estivesse com quebrante, a brasa afundava. No entanto, só depois de casada ela aprendeu a benzer também “bicha”, quebrante, ódio, inveja, ambição, malefícios e espíritos ruins, usando um ramo de arruda, alecrim ou guiné, em alguns casos indica também banhos ou chás. Já perdeu as contas do número de pessoas que já foram bentas, suas orações atravessaram gerações, onde atendeu crianças que quando cresceram levaram seus filhos, netos e bisnetos. Atualmente só atende crianças, parou de atender adultos porque estes exigem mais força, concentração, orações mais fortes e isso lhe causa muito cansaço. Dona Tereza, em seus 86 anos de vida, nunca cobrou nada para benzer ninguém, sempre benzeu por amor, carinho, compaixão e fé. Fé essa que a emociona ao falar, que não se explica, se sente.