História : Os guerreiros pindamonhangabenses da Guarda do Príncipe

No ano de 1904, nas festividades comemorativas aos 82 anos da Independência do Brasil, o escritor pindamonhangabense Leôncio do Amaral Gurgel, apresentou, na sessão do dia 5 de setembro daquele ano, no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do qual era membro, um interessante trabalho histórico contendo dados referentes à origem e os patrióticos feitos de sua terra natal. Na leitura, destacou a importante participação de Pindamonhangaba na libertação da Pátria, mencionando um a um os integrantes da Guarda de Honra do Príncipe Pedro I naturais da “Princesa do Norte”.
Do trabalho de Gurgel, depois publicado no jornal O Estado de São Paulo e na Tribuna do Norte, reproduzimos nesta página (conforme os escritos do autor) a relação dos pindamonhangabenses (os dados dos integrantes estão conforme a realidade daquele momento) que honraram a farda da Guarda de Honra do Príncipe Regente:

-I-
Manuel Marcondes de Oliveira Mello, segundo comandante da guarda de honra. Foi capitão-mor, e, depois, primeiro barão de Pindamonhangaba. Casado, mas não deixou descendentes. Era irmão do monsenhor Ignacio Marcondes de Oliveira Cabral, que representou papel notável na política do Norte de São Paulo. Desde de capitão-mor conta-se que a primazia de ter dado o primeiro – “Viva El-Rei do Brasil!” – foi disputado por muito tempo entre ele e o padre Idelfonso Xavier, trazendo-os em constantes atritos. Havendo, porém, nesse sentido, opiniões de cronista a favor de um e de outro, parece-nos a única solução ao caso é atribuir a ambos esses ilustres paulistas os primeiros – “Vivas El-Rei do Brasil!”

-II-
Domingos Marcondes de Andrade, sargento-mor. Solteiro, mas deixa descendência.
-III-
Francisco Bueno Garcia Leme, tenente. Casado e deixou descendência. Deste Leme conta-se que, por ser um cavalheiro muito bem parecido, alto, esbelto e elegante, mandaram para Portugal, entre outros, o seu retrato, a fim de Dona Maria I, fazer uma ideia de alguns brasileiros importantes. Também conta-se que, possuindo rara ilustração para aquele tempo, numa ocasião certo estudante que mais tarde, na Monarquia, representou o papel saliente na política, vendo-o velho achacado e doente, modestamente trajado, pretendeu ridicularizá-lo. Garcia Leme, então, erguendo a fronte altivamente, exclamou: – “Menino! Não me conheces: tenho vinte anos de aula e quarenta de prática!”

-IV-
Miguel de Godoy Moreira e Costa. Casado e deixou descendência. Era tio do Dr. Miguel de Godoy Moreira e Costa, antigo e ilustrado ministro do Tribunal de Justiça. Pai dos doutores Antonio de Godoy, digno chefe de polícia de São Paulo, e Plínio de Godoy, ilustre deputado estadual.

-V-
Adriano Gomes Vieira de Almeida. Casado e deixou duas filhas que morreram solteiras, em avançada idade.
Eis um fato interessante, a propósito desse guarda:
O príncipe D. Pedro, devido a sua pouca idade, era de um gênero um tanto afoito. Quando ele, acompanhado de sua Guarda de Honra, se dirigia do Rio de Janeiro para São Paulo, antes do célebre 7 de setembro, ao chegar junto ao rio Paraíba, nas imediações de Jacareí, encontrou uma barca competentemente enfeitada, que estava a sua espera, para o transportar ao outro lado do rio. D. Pedro, porém impacientemente esperou o seu cavalo, que atravessou o rio a nado. Chegando o príncipe na outra margem, com os calções completamente molhados, o guarda Adriano Gomes de Almeida que na estatura, corpo, etc., igualava com D. Pedro, emprestou-lhe os calções, ficando com os do príncipe.

-VI-
Manoel Godoy Moreira. Casado e deixou descendência. Entre seus filhos, distingue-se o prestante e distinto cidadão major José dos Santos Moreira, residente em Pindamonhangaba.

-VII-
Manuel Ribeiro do Amaral. Casado e deixou descendência ilustre, entre a qual seus filhos Dr. João Ribeiro Marcondes Machado, formado em direito, antigo deputado provincial; e Dr. Manuel Ribeiro Marcondes Machado, médico distinto.

-VIII-
Antonio Marcondes Homem de Mello. Casado, mas não deixou descendência. Era irmão do Visconde de Pindamonhangaba, pai do nosso venerando consócio e ilustre historiador sr. Barão Homem de Mello.

-IX-
Benedito Correa Salgado. Casado e deixou numerosa descendência. Era irmão do finado Visconde da Palmeira e tio do Barão do Itapeva e da sra. Viscondessa da Paraibuna, que reside em Pindamonhangaba.

-X-
João Monteiro do Amaral, coronel. Casado e deixou numerosa prole. Este guarda de honra é um dos que os historiadores não mencionam, porque não esteve no Ipiranga no memorável 7 de setembro.

-XI-
José Romeiro de Oliveira, sargento. Casado e deixou numerosa e ilustre descendência, seguintes filhos: Barão de Romeiro, fazendeiro abastado, já falecido; Dr. José Vicente M. de Moura Romeiro, magistrado, depois fazendeiro, já falecido; comendador Ignacio Marcondes Romeiro, fazendeiro, já falecido; coronel José Moreira Marcondes romeiro, fazendeiro, importante, solteiro; Antonio Marcondes Romeiro, fazendeiro, falecido; Dr. Matheus de Moura Romeiro, magistrado, foi fazendeiro alguns anos; Dr. João Marcondes de Moura Romeiro, antigo deputado provincial, magistrado em disponibilidade e advogado atualmente; Dr. Francisco Marcondes Romeiro, médico abalizado, é deputado ao Congresso Federal. O sargento-mor José Romeiro teve mais três filhos, muitos netos que se formaram em direito, medicina, etc.
Também este guarda de honra não esteve no Ipiranga, e, portanto, seu nome não é mencionado por historiadores que se ocuparam dos guardas de honra de D. Pedro.

Filhos da terra

Naquela data o escritor historiador Leôncio do Amaral Gurgel encerrou seu pronunciamento no Instituto Histórico Geográfico de São Paulo exaltando com orgulho que “os habitantes de Pindamonhangaba sempre se destacaram nos diversos departamentos da atividade e do saber humano, honrando a terra onde nasceram”. Na conclusão, citou o elogio escrito pelo cronista e poeta Emílio Augusto Zaluar quando de passagem por esta terra: “Distante sessenta léguas da capital do império e mais de trinta da capital da provincia, encontram-se os costumes, a ilustração, a amabilidade e o bom gosto das brilhantes reuniões do Rio de Janeiro, no seio dessa população escolhida e fina, e cre-vos-ei transportado por encanto aos ruidosos salões do catete ou às vivendas deliciosas de Botafogo e Andarai. É este sem dúvida o ponto mais animado de todo o norte da província.”
(Fonte: Arquivo Tribuna do Norte, edições 11/9 e 18/9/1904 )

  • Manuel Marcondes de Oliveira Mello. Em Pindamonhangaba foi vereador, juiz de paz ocupando sucessivamente os postos de sargento-mor, capitão-mor e tenente-coronel da Guarda Nacional do município; chefe do Partido Liberal em Pindamonhangaba, apoiou a Revolução Liberal de 1842; Comendador da Imperial Ordem da Rosa, foi agraciado pelo Imperador D Pedro II no dia 5 de novembro de 1846 com o título de Barão de Pindamonhangaba, e no dia 11 de outubro de 1848 com o título de Barão de Pindamonhangaba com Honras de Grandeza (fonte: “Os Barões do Café” – José Luiz Pazin) - Créditos da imagem: Óleo sobre tela de Hélio Hatanaka
  • Créditos da imagem: Santhatela