qual é o seu talento? – Uma mão na roda

Conheça a história do morador de Pindamonhangaba que reforma cadeiras
de rodas e doa para todo Brasil

Onde a maioria vê lixo, ele enxerga matéria-prima. Entrega. Doação. Ajuda ao próximo. Recomeço…
Em meio ao entulho de ferros – para grande parte das pessoas, materiais inservíveis –, o funileiro por profissão reconstrói cada peça e dá nova vida às cadeiras de rodas para doar a quem precisa.
Muitas vezes, este gesto significa um recomeço para quem recebe a doação.
Em quase uma década de dedicação a este ofício, já foram cerca de 200 cadeiras reformadas e doadas a moradores de Pindamonhangaba e de cidades do Nordeste, do Norte, do Sul e de onde quer que venha o pedido.

Restaurando possibilidades

Quem passa pela rua São Miguel, 71, no bairro Cidade Nova, em Pindamonhangaba talvez nem saiba que há uma oficina de restauração de carros antigos.
Funileiro há cerca de 40 anos, Dásio Alves vê em sua principal profissão uma alavanca para a reforma e a adaptação das cadeiras de rodas – algumas ganhadas e outras, que ele garimpa no Ferro Velho Maciel, localizado nas proximidades.
Ao ser questionado sobre a origem dessa vocação e talento em consertar cadeiras de rodas para doações, Dásio refaz toda a sua trajetória desde que era muito pequeno e morava na capital paulista e via os seus pais ajudarem outras famílias com moradia, alimentação e até “construção de creches” para abrigar menores sem lar.
“Eu cresci vendo meus pais fazerem o bem. Acolher. Dar abrigo, alimento, estudo e lar a quem não tinha… Temos várias histórias de crianças que cuidamos em casa até que elas tivessem uma moradia fixa. Acredito que seja de família essa missão”, conta Dásio.
É assim que ele encara este papel, como uma missão: olhar para a dor do próximo. Enxergar uma nova função ao que era inservível. Dar possibilidade a quem não tem acesso.

Uma missão familiar

Dásio afirma que conta com apoio dos familiares para seguir tocando este projeto de ajuda ao próximo e que tem um incentivo mais que especial: seu filho Danilo Alves – falecido há cerca de seis anos, vítima de atropelamento – pediu a ele que não deixasse esse projeto morrer. Projeto que Danilo tinha orgulho em fazer parte.
Também por este motivo, Dásio trabalha com afinco para cumprir o que prometeu ao seu amado filho. A lembrança do filho o emociona na mesma proporção em que o estimula a continuar a luta por essa causa.
Além de restaurar a parte de metal, o funileiro também se arrisca em costuras para reformar os assentos de cadeiras, de macas hospitalares e também de muletas. Todo material que chega até ele ou que ele descobre no ferro velho e que valha a reforma, ele aproveita.

O projeto não pode parar

Atualmente, além da sua oficina de funilaria, Dásio conta com um terreno ao lado da sua residência – local onde armazena as cadeiras usadas para reformar. Contudo, o proprietário do terreno pediu, recentemente, o local, pois fará uso dele.
Por isso, Dásio faz um apelo a quem puder e tiver condições de oferecer um espaço, de preferência que seja próximo a sua oficina, que colabore com este projeto que tanto contribui para pessoas que não têm condições de adquirir uma cadeira de rodas.
Ele acrescenta que quem puder contribuir com tinta automotiva, tecido, lona de carreta, lixa, líquido anti-ferrugem e outros materiais para o restauro das cadeiras são bem-vindos.
Mais informações em seu perfil: facebook/dasio.alves.79

Fotos: Jucélia Batista

  • Habilidoso na restauração, o funileiro confessa que ainda não “domina o celular”, mas exibe com orgulho as publicações na internet sobre seu trabalho
  • Para Dásio, cada cadeira tem uma história e as peças reformadas também terão novas histórias e novas funções
  • Local onde ficam as cadeiras foi solicitado pelo proprietário. O funileiro precisa de um novo espaço para armazenar as peças