A premiada Uspp, de bloco à escola campeã de 1980

Altair Fernandes

Dos antigos carnavais festejados em Pindamonhangaba relembramos hoje o de 1980, quando ainda era competitivo. Foi um carnaval em que houve polêmica no resultado. Recursos levaram o Conselho Municipal de Turismo a nomear comissão especial para dar veredicto final. Isso atrasou a apresentação da classificação final.
Naquele ano participaram do carnaval de rua, cinco escolas e cinco blocos. As avaliações dos jurados com as respectivas notas haviam sido feitas nos desfiles de segunda-feira, 17 de fevereiro, por um júri composto por carnavalescos de Taubaté e de Lorena; na terça-feira (18), pelos carnavalescos cariocas da Rio Tur, empresa de turismo do município do Rio de Janeiro.
A Tribuna do Norte, presente na cobertura do evento, apresentou aos seus leitores (edição de 23/2/1980) a classificação. Na categoria blocos: campeão – Cacique Pindense, 65 pontos; vice- Os Bruxos, 22; 3º lugar – Camisa Verde, 27; e 4º – Os trogloditas, 25 pontos.
Na categoria escolas de samba: Turunas do Tabaú, 164 pontos; Uspp (Unidos Sambamos Por Pindamonhangaba), 161; 3º – Clube Atlético Pindense, 158; 4º – Mocidade do Campo Alegre, 141; e 5º – Mocidade Unida do Chafariz, 136.

A polêmica e o novo campeão

Embora a escola do Turunas liderasse, dois recursos impediam que fosse aclamada como campeã do carnaval e 1980 em Pindamonhangaba. Um recurso era o da Uspp, alegando que sua porta-estandarte havia desfilado na noite de segunda-feira, o que tentava provar. Segundo a matéria publicada naquela edição da Tribuna, a Uspp havia somado 86 pontos na noite de segunda-feira, porém de acordo com o regulamento, a escola que se apresentasse sem alguns de seus figurantes perderia 20 pontos e na papeleta do jurado constava que a referida escola não havia apresentado o quesito porta-estandarte naquela noite, o que acarretaria na dedução dos 20 pontos previstos. Com isso, a Uspp, ficaria com apenas 66 pontos, os quais somados aos 95 obtidos na terça-feira perfaziam um total de 161 pontos, número inferior ao obtido pela escola do Turunas, que havia somado 164. Por outro lado, um segundo recurso tinha sido apresentado, era o do Clube Atlético Pindense, exigindo que se tirasse 40 pontos da escola do Turunas devido ao fato de não ter carro alegórico. Já o Turunas alegava “que o carro alegórico fazia parte da coreografia e sua escola havia recebido nota neste especial”.
Pelo sim pelo não, o Conselho Municipal de Turismo designou uma Comissão Especial para julgar os recursos referentes ao resultado do concurso de escolas de samba. A comissão, formada por Alarico Corrêa Leite Filho, Rosemil da Costa Sampaio e os doutores José de Oliveira e Ernesto Alves Vivona, após três horas de reunião, chegou à conclusão que na categoria escolas de samba o resultado seria: Campeã – Uspp (Unidos Sambamos Por Pindamonhangaba) ; vice – Turunas do Tabaú; 3º lugar – Clube Atlético Pindense; 4º – Mocidade do Campo Alegre; 5º – Mocidade Unida do Chafariz.
Resultado publicado na edição de 1º de março de 1980 do jornal Tribuna do Norte.

Escolas de samba e blocos do carnaval de 1980

Sobre as escolas de samba que desfilaram no carnaval de 1980, a TN registrou os seguintes comentários:
Uspp. Estreava como escola de samba e foi a campeã. Na categoria blocos não havia mais concorrente para ela. Foi a mais rica e mais luxuosa na avenida. Sua bateria trouxera um toque diferente, do estilo da “Padre Miguel”, do Rio. Seu enredo foi “Pinceladas do Brasil”. Desfilou com 500 figurantes em cinco alas. Era presidida por Hélio Camargo.
Turunas. Seu enredo foi “Carmem Miranda – 25 anos de saudade”. Destaque para a comissão de frente, considerada a mais bela daquele carnaval e para o trio Piolho, Betão e Wilson com seus malabarismos à frente das mulatas. Participou com 500 figurantes distribuídos em 12 alas. Seu presidente era o Rugilo.
Pindense. Seu samba enredo, interpretado pela cantora Celinha foi o mais acompanhado pelo público. Seu enredo exaltava nossa lavoura, raça, folclore. Levou 500 figurantes para a avenida, distribuídos em 8 alas. Chamou a atenção do público a ideia de colocar a bateria no centro; com isso, os componentes ouviam melhor e melhor desenvolviam o ritmo. O presidente era o Catarino.
Campo alegre. Com o enredo “Tributo a Orlando Ferreira”, um dos carnavalescos de Pindamonhangaba, foi para avenida com 300 figurantes distribuídos em sete alas. Era presidida por José Luiz Ferraz.
Chafariz. No carnaval de 1980 também desfilou pela primeira vez como escola. Seu enredo foi “Primavera”. Destaque para as crianças (abre alas) vestidas de margaridas e borboletas. O presidente era o Mirabeau Pini.

Blocos e o incomparável Celso Guimarães

Entre os blocos o campeão, Cacique Pindense, segundo a Tribuna foi “disparadamente” o melhor (naquele ano o Dr. Profeta havia passado a direção do bloco para Carlinhos Bodinho). Os Bruxos “foi aquela brincadeira de sempre”. O Camisa Verde, que, obviamente saiu com calção branco e camisa verde, apresentou bom ritmo na bateria, já o bloco Trogloditas não teve nem bateria.
Com justiça o jornal destacava mais uma brilhante participação do carnavalesco Celso Guimarães no carnaval pindamonhangabense. Naquele ano ele completava dez anos de destaque no carnaval de rua, se apresentando com a fantasia “Filho de César e suas escravas” (caracterizava as escravas suas sobrinhas Rosana e Cléia). Celso também havia desfilado como mestre-sala na escola do Pindense, tendo a Rosana como porta-bandeira.

Samba enredo da escola campeã do carnaval de 1980

Lendas, misticismo e tradição
Autoria: ala dos compositores da Uspp

Mais uma vez
A Uspp vem para a avenida
Disputar mais um carnaval… carnaval
Índios, misticismo e tradição
Deste país tropical

Senzala em festa
Herança africana que se apagou
E as estórias
Que a preta velha contou:
Eu vou fazer cabeça
Pra me segurar
Eu vou fazer o santo
Pra ninguém me derrubar!
(Que beleza)

Frevo, maracatu e reizado
São festas tadicionais… tradicionais
Bumba-meu-boi… Bumba-meu-boi
Meu-boi-bumbá!
No Maranhão é folguedo popular
(Oh! Bahia!)

Bahia… Oh! Bahia!
Dos canjerês e dos acarajés
Ôi segura a saia baiana
Traga a palha da cana
Venha dançar seu candomblé
Bota pimenta
Nesse vatapá
Traga a baiana
Pra mexer e temperar
Mais uma vez…