História : Grandes pindamonhangabenses: O juiz Rodrigo Marcondes Romeiro
Há 69 anos, morria um dos ilustres filhos de Pindamonhangaba. Juiz de Direito, político, jornalista, professor e produtor agrícola, Rodrigo Marcondes Romeiro era, antes de tudo, um benfeitor da humanidade. Morreu em Pindamonhangaba, aos 89 anos de idade, no dia 15 de fevereiro de 1952, deixando viúva dona Júlia Giudice Romeiro (esposa de seu 2º casamento) e uma filha, Virginia Giudice Romeiro. Rodrigo Romeiro foi casado em primeira núpcias com Gertrudes Anhaia Romeiro. Eram seus irmãos: Olímpio Romeiro, Cecília Romeiro Giudice e Angelina Romeiro de Godoy.
No dia seguinte ao falecimento foi sepultado no cemitério do Santíssimo, tendo o féretro saído da rua São João Bosco, nº 504. Nos momentos que antecederam o sepultamento, não faltaram oradores para exaltar as virtudes e os feitos do ilustre jurista pindamonhangabense.
Entre as homenagens que recebeu nos municípios onde atuou, destacamos a perpetuação de seu nome na denominação do Posto de Puericultura e do Fórum de Bauru; na rua que liga a avenida São João Bosco à avenida Monsenhor João José de Azevedo, no início do bairro do Crispim; na escola estadual localizada no final da Prudente de Morais e na cadeira nº 19 do quadro de acadêmicos honorários da APL- Academia Pindamonhangabense de Letras.
Durante sua incansável existência terrena foram inúmeros seus feitos em prol dos municípios por onde passou.
A profícua vida de Rodrigo Romeiro
Rodrigo Marcondes Romeiro nasceu em Pindamonhangaba no dia 16 de março de 1864, filho do comendador Ignácio Marcondes Romeiro e de dona Balduína de Godoy Romeiro. Fez seus primeiros estudos no colégio Redenção, em sua terra natal, e nos colégios de São Paulo, Maméde e Norton, sendo que neste último ele também foi professor.
Na capital paulista ingressou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, colando grau em 26 de fevereiro de 1885. Durante o curso, em 1883, foi um dos fundadores de um clube no qual só podiam fazer parte os estudantes naturais de Pindamonhangaba, o Clube Acadêmico União Pindamonhangabense. Foi como redator do jornal publicado por este clube que Rodrigo Romeiro começou a praticar também o jornalismo.
Ainda na capital, por ocasião da Revolta Armada (1893/1894) e da Revolução Federalista (1893/1895), teria se alistado nas fileiras dos defensores da legalidade, assentando praça no Batalhão Patriótico de São Paulo.
Político republicano
Seu ingresso na política ocorreu em Pindamonhangaba. Foi um dos sócios fundadores do Clube Republicano, instalado na cidade em 29 de julho de 1888; lutou pela campanha republicana ao lado de seu pai e do Dr. Emílio Ribas; foi membro do Conselho Municipal de Intendência, em 1891; vereador e presidente da câmara eleita para o período 1893/1895. Também em sua terra, dedicou-se à lavoura, à advocacia e ao jornalismo (no jornal Tribuna do Norte).
Em 1895 mudou-se para Jaboticabal, onde havia adquirido uma propriedade agrícola. Nesse município fundou e presidiu o Clube da Lavoura. Em seguida, aceitando a presidência do partido oposicionista local que seguia a orientação do general Glicério, sustentou, nas urnas, as candidaturas daquele velho propagandista da República e de Washington Luiz.
De promotor a Juiz de Direito
Retornando a Pindamonhangaba, deu sequência ao exercício da advocacia e, em 1901, ingressando no Ministério Público, foi nomeado promotor de São Bento do Sapucaí.
Em 1906, por força do decreto de 22 de novembro daquele ano, foi removido para Sertãozinho, sendo o primeiro promotor daquela comarca.
Em 23 de janeiro de 1911 foi nomeado, após concurso, juiz de Direito de Bauru. Pela forma brilhante com que conduziu o magistrado no cumprimento de seu dever, no primeiro aniversário da instalação daquela comarca, em 12 de março de 1912, foi homenageado pelo povo de Bauru com uma estátua de bronze e uma caneta de ouro. Seu ânimo forte e a sua energia inabalável na tarefa de impor justiça onde antes imperava a força, foram qualidades que o tornaram conhecido como “o disciplinador dos sertões da Noroeste”.
Grande benfeitor de Bauru
Em Bauru, além de se dedicar à aplicação da lei, foi vanguardeiro do progresso moral e material. Em 1911 fundou a Santa Casa com os limitados recursos que conseguira, instalando-a, provisoriamente, em modesto prédio da antiga rua 1º de Agosto e, dois anos depois, a transferindo-a para os altos da cidade, em ampla área onde surgiu o primeiro pavilhão em terreno que obtivera por doação.
Sensível aos apelos da população bauruense, empenhou o prestígio de sua força moral pela construção do grupo escolar da então avenida Alfredo Maia (depois Rodrigues Alves) e da Cadeia Pública, na Praça Marechal Bittencourt.
Em 1915 reconstruiu as obras da Igreja Matriz do Divino, como presidente de sua comissão executiva, entregando, pouco depois, o templo ao bispo D. Lúcio, em solene ato de contrição dos bauruenses que haviam deixado derrubar violentamente a primitiva igreja do antigo Largo Municipal, mais tarde Praça Rui Barbosa..
Colocando-se à frente de elementos de valor, entre eles Machado de Mello e Vergueiro de Lorena, outros grandes incentivadores do progresso, garantiu o êxito da fundação do Banco de São Paulo e Mato Grosso, que mais tarde se tornaria base da agência do Banco do Comércio e Indústria.
Outro feito que perpetua a memória do Dr. Rodrigo Romeiro em Bauru, refere-se ao combate à lepra, com a construção do pavilhão que serviu de marco inicial da Colônia Aimorés, de imprescindível importância no tratamento do “mal de hansen”.
Ainda em Bauru, prestigiou a ampliação do Centro Católico, origem do Colégio São José e do parque educacional e liderou uma cooperativa de crédito que resultou no surgimento do Banco Popular e Agrícola.
Um reformatório para menores, em área de Val de Palmas, que o grupo da Antartica Paulista prometia doar à Cia Cafeeira de São Paulo estava nas suas cogitações, quando teve que ceder, em 1929, à insistência com que Júlio Prestes desejava-lhe entregar a direção da Justiça Criminal de Santos, que se desmembrava pela criação de uma vara especial, na qual se aposentou em 1931.
Incansável e bom filho à casa torna
Regressando a Pindamonhangaba, em 1932, não se recolheu à sua chácara para descansar e gozar do prêmio de uma honrosa aposentadoria. Atirou-se novamente à luta para conseguir uma posição melhor para sua terra natal. Suas atividades caracterizaram-se então pela vontade de uma agremiação política chamada Partido Municipal, cuja finalidade era reunir os elementos mais atuantes da cidade para, num só bloco, trabalhar pelo progresso de Pindamonhangaba, organizando o eleitorado para a eleição da Constituinte.
Em 1936 foi eleito vereador e presidente da Câmara Municipal pela segunda vez. Nessa ocasião foi votado por eleitores de todas as correntes partidárias, tendo sido o primeiro presidente do Legislativo Pindamonhangabense na 1ª e na 2ª República.
Não se limitaram ao âmbito político sua atuação em favor de Pindamonhangaba. Verificando a necessidade de melhor amparar a pobreza, interessou as senhoras da sociedade local pela idéia da fundação da Sociedade Protetora dos Pobres, cuja finalidade principal era a edificação de uma vila residencial para os necessitados.
Na Câmara também trabalhou no movimento para a instalação do Curso Profissional Ferroviário desta cidade.
Atento às necessidades dos irmãos menos favorecidos, quando chegava o inverno ele distribuía agasalhos para os alunos das escolas públicas, entre elas a que o homenageava com o próprio nome, o Grupo Escolar Dr. Rodrigo Romeiro.
Para o Centro de Saúde, adquiriu o equipamento necessário para a instalação de um lactário, que em homenagem a sua esposa foi denominado Lactário Dona Júlia Giudice Romeiro.
A Escola de Comércio Dr. João Romeiro, extinto Colégio Comercial, instalada em 1937, também contou com o braço amigo do Dr. Rodrigo Romeiro, sendo ele o paraninfo de sua primeira turma.
Foi instituidor de vários prêmios escolares que eram distribuídos anualmente aos estudantes das escolas primárias (grupos escolares), dos inesquecíveis Núcleo de Ensino Ferroviário e da Escola de Comércio.
Contribuiu com significativo apoio moral e material à escola que hoje perpetua sua memória. Custeou os estudos de pindamonhangabenses oriundos de famílias pobres e também foi incentivador da prática esportiva à juventude pindamonhangabense.
Piloto depois dos setenta
O professor, escritor e poeta João Martins de Almeida relembra em seu livro de crônicas “Vultos de Pindamonhangaba (1ª série), no artigo intitulado “O 1º solo”, que o Dr. Rodrigo Romeiro não era homem de recuar. Na mencionada crônica, narra que a passagem mais interessante da vida do Dr. Rodrigo Romeiro foi quando resolveu aprender aviação.
“O aeroclube local ameaçava fechar-se. A morte do senhor Antonio Giudice, ocorrida em plena pista, quando o ‘teco-teco’, glissando (descrevendo um facão) se converteu numa fogueira ao chocar-se com o solo, deixando irreconhecível, completamente carbonizado o piloto, arrefecera a concorrência de candidatos à aviação. O dr. Rodrigo Romeiro então se apresentou ao instrutor. Seria o 1º aluno da nova turma. Possuia mais de 70 anos, na ocasião.
João Martins conta que o gesto do idoso teria animado nos jovens o entusiasmo pela aviação, tendo Rodrigo Romeiro como o “vovô da turma”. Entretanto, depois de meses de curso, Astério Braga, na época instrutor de voo do Aeroclube, teria dito a Rodrigo Romeiro:
“- Dr. Rodrigo, o ‘solo’ lhe será negado. O senhor já pilota muito bem, mas não poderá tirar o brevet devido à idade, devido ao solo, principal prova. Não posso infringir regulamentos, deixando alçar voo sozinho. O senhor compreende…
Dr. Rodrigo sorriu:
– Já consegui mais que isso, meu amigo. Despertei o entusiasmo nessa rapaziada boboca de minha terra que tinha medo de subir num avião.
Dr. Rodrigo está agora nas últimas. Irá ganhar os céus, fazer o ‘solo’”, concluía João Martins.
Aqui são oportunas as observações: o “mais de 70 anos” que se referia João Martins, na realidade eram quase 80, levando-se em conta a data em que ocorreu o tal acidente, em 1942, e a data de nascimento do Dr. Rodrigo Romeiro, 1864. O “teco-teco” ao qual se referia João Martins em seu artigo era na verdade um Tiger Moss, avião que havia sido doado ao aeroclube de Pindamonhangaba pela Marinha Brasileira. Astério Braga foi um dos primeiros instrutores do aeroclube local e “voo solo” é quando o aluno consegue voar sozinho no avião sem a presença de instrutores.
Até pontapé inicial em partida de futebol
Para concluir está página dedicada a este dinâmico e eclético pindamonhangabense, garimpando curiosidades sobre os filhos de Pinda que brilharam em outras terras, encontramos no Blog do Norusca – ‘Memória da Bola’, assinado pelo historiador João F. Tidei Lima, uma passagem pitoresca a ele relacionada.
Primeiro Juiz de Direito da comarca de Bauru, onde residiu por quase 20 anos, o Dr. Rodrigo Romeiro foi homenageado em 1950, no derby regional amistoso entre as equipes do XV de Jaú e a do BAC-Bauru Atlético Clube sendo convidado a dar o pontapé inicial na partida. Jogo realizado no Estádio Arthur Simões, até então o estádio do XV de Jaú.
O Bauru Atlético Clube, carinhosamente conhecido com BAC ou Baquinho ficou conhecido mundialmente por ter sido o primeiro time profissional onde Pelé atuou antes de chegar ao Santos Futebol Clube, em 1956. Fundado em 1919 com o nome de Luzitânia Futebol Clube, mudou de nome em 1946, em homenagem ao Cinquentenário de Bauru. Ano em que tinha no elenco um centroavante poderoso, de nome Dondinho, o pai de Pelé, apelidado de “O Maleável”, pela forma como se curvava para alcançar a bola.
Fontes de pesquisa do assunto de história desta edição:
1- Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos, obra de Athayde Marcondes, 1922, Tipografia Tupi, São Paulo-SP;
2- Justificativa do projeto de lei nº 820, de 1961, de autoria do deputado estadual Avalone Júnior referente à denominação do Fórum de Bauru (publicada no jornal Tribuna do Norte, edição de 17/12/1961);
3- “Republicanos da Velha Guarda”, artigo assinado por Nabor Nogueira dos Santos (recorte da edição de 16/3/1949 do Jornal de Notícias);
4- Texto cedido pela Escola Estadual Dr. Rodrigo Romeiro;
5- Nota publicada no jornal (extinto) Sete Dias, edição de 17/2/1952;
6- Vultos e Pindamonhangaba (1ª série), obra de João Martins de Almeida, 1957, Gráfica e Editora Tupy, Rio de Janeiro-RJ.
(Fontes referentes à nota esportiva envolvendo Rodrigo Romeiro: Blog do Norusca – Memória da bola; Wikipédia – A Enciclopédia Livre; História do BAC – Vivendo Baurú www.vivendobauru.com.br/ história)