Lembranças Literárias : A órfã

A órfã

Pálida, entristecida, abandonada e só,
sem nunca mais fruir os beijos maternais,
sem ter da rósea vida os gozos divinais,
vivia numa angústia que fazia dó.

Sem pão e sem abrigo, à sombra d’uma cruz,
com o célico olhar num Cristo dolorido,
chorava de saudade um pranto entristecido.
E nunca mais brilhou nos olhos dela a luz

de um divinal sorriso. E triste soluçava…
E como as meigas aves de um funesto ninho,
suspirava, chorando maternal carinho.

Chorava ao pé da cruz de Cristo que mirava:
e, na alma dolorida, como vil fadário,
trazia as agonias todas do calvário.

André Brian Galasso,
Tribuna do Norte 26/5/1917