Editorial : Varejo esboça reação econômica, porém ainda discreta
Não dá para afirmar que a crise econômica brasileira acabou ou que isso ocorrerá nos próximos meses. Entretanto, alguns levantamentos apontam para uma possibilidade de melhora no cenário. Atribuir essa tendência apenas ao momento político ou situação da indústria nacional ou a influências internacionais é bastante vago, no entanto, ao que tudo indica, a fusão entre vários fatores tem contribuído de forma impactante para que a economia comece a tirar os pés da lama.
Um recente estudo divulgado esta semana pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), com base em informações da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo (Sefaz-SP), dá um tom otimista para a situação do varejo, por exemplo.
O faturamento real do comércio varejista paulista voltou a crescer em julho e atingiu R$ 46,9 bilhões – elevação de 0,8% em relação ao mesmo mês de 2015. Foi a segunda elevação consecutiva na comparação anual, fato que não acontecia desde 2014. No acumulado do ano, porém, houve retração de 1,4% e em 12 meses, a queda foi de 4,9%.
Entre as 16 regiões analisadas pela Federação, 11 apresentaram crescimento no faturamento em julho, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Destaque para as regiões do Litoral (7,8%), Marília (7,3%), Araraquara (6,9%) e Sorocaba (5,3%) que registraram os melhores desempenhos. Já as regiões de Osasco (-6,8%), Guarulhos (-2,6%), Bauru (-2,5%) e São José do Rio Preto (-1,1%) foram as piores do mês.
Das nove atividades pesquisadas, apenas três apresentaram crescimento em julho na comparação com o mesmo mês de 2015, porém, foram expressivas e suficientes para alavancar o faturamento de todo o varejo paulista: farmácias e perfumarias (11,5%), supermercados (7,6%) e o grupo outras atividades (5,2%). Essas três altas contribuíram positivamente para o resultado geral com 4,4 pontos porcentuais (p.p.).
Em contrapartida, as maiores retrações foram registradas pelas lojas de eletrodomésticos, eletrônicos e lojas de departamentos (-16,0%); lojas de móveis e decoração (-14,1%), concessionárias de veículos (-9,2%) e lojas de vestuário, tecidos e calçados (-9,1%). Em conjunto, essas quatro atividades pressionaram negativamente o resultado geral com 3,4 pontos porcentuais.
Segundo a assessoria econômica da FecomercioSP, os resultados positivos de julho consolidam a avaliação de que existe uma reversão do ciclo recessivo. Mesmo que os resultados não estejam embasados na melhoria dos determinantes básicos de consumo (renda e emprego), o que limita a expansão do comércio, há uma consistente recuperação nos níveis de confiança do consumidor nos últimos meses, precondição para permitir a saída de um cenário de baixa intenção de consumo. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) demonstra uma tendência de recuperação, registrando novo crescimento em setembro, desta vez de 25,1% em comparação ao mesmo mês do ano passado.
Ainda há forte assimetria de comportamento entre os segmentos ligados aos bens essenciais e os de produtos duráveis. Enquanto não houver a redução desse desequilíbrio, de acordo com a Federação, será difícil a consolidação de um verdadeiro ciclo de recuperação das vendas varejistas em sentido amplo. Isso somente se dará com a melhoria da renda e do emprego, mas também com um cenário de crédito menos hostil para os consumidores. Nesse sentido, caso persista a tendência da recente redução do nível da inflação mensal, isso pode criar as precondições necessárias para o início de um ciclo de queda nas taxas de juros.