História : A pescaria no rio Paraíba de antigamente
Aqueles que tiveram o privilégio de desfrutar de uma pescaria no rio Paraíba nos bons tempos em que isso ainda era uma prática comum para os pindamonhangabenses irão se identificar com esta crônica publicada na Tribuna de 7/10/1956, assinada apenas pelas iniciais J.B.J:
O Zé Luiz combinava comigo durante a aula do seu Carlos (naquele tempo ninguém dizia professor). Quando a sineta do Grupo tocava, nós exultávamos. Depois de um almoço rápido, corríamos para a rua do Porto (“Amador Bueno”). Lá morava o Brasílio. Tão bom, tão manso, que a gente nem o chamava de tio.
O Brasílio, velho pescador, tinha um montão de varas em todos os cantos da casinha modesta.
Pacientemente, escolhia duas das mais adequadas para lambari, enquanto de enxada procurávamos minhocas no quintal.
E os dois moleques, de varinhas nas costas, rumavam ao Paraíba.
A gente tinha certo escrúpulo de pescar “no cano”, mas, no fim, pescava mesmo. Era, indiscutivelmente, o lugar que dava mais peixe. Acabava-se esquecendo o que saia do cano…
Sentadinhos no barranco, cobrindo os anzóis com pedaços de minhocas, íamos tirando da água pequenos lambaris prateados que eram espetados na fieira.
Às vezes a gente parava um pouco, acendia um cigarrinho e ia na ponta do pé espiar do outro lado do bambu. Lá estava sempre o Dr. Bastos, silencioso, com uma vara comprida, à espera das piabas…
Tempo bom; quanta saudade!
Uma pescaria com vara no rio Paraíba, para muitos, mais que instantes de lazer e diversão, significava a mistura do almoço ou do jantar. Seus praticantes foram desaparecendo com o tempo e à medida em que foi diminuindo a piscosidade do rio, causada pelo desinteresse e desrespeitos praticados contra a preservação ambiental.
Nos tempos dos dourados e pintados
Na Tribuna de 30/1/1955, um artigo de Newton Lacerda César (1912/1992) relata a preocupação que havia naquele tempo com a piscosidade do rio Paraíba. Conta Lacerda que em 1945 haviam sido soltos no rio Paraíba, no município de Pindamonhangaba, meio milhão de douradinhos provenientes daDivisão de Caça e Pesca.
Contrariando as opiniões que essa espécie não se adaptaria a um rio com característico de planície, pouco profundo e sem obstáculos em seu curso médio, o dourado ambientou-se perfeitamente.
Segundo a lei da natureza que os obriga a procurar lugares adequados para a época da piracema, os dourados subiam o rio em busca de trechos com cachoeiras e corredeiras. No entanto, não ficaram só ali, passaram a ser encontrados em abundância em qualquer parte do rio nos meses de dezembro a março.
Dez anos depois, em janeiro de 1955, conforme havia prometido, o agrônomo Felisberto Pinto Monteiro no lançamento da campanha de reflorestamento realizada pelo Rotary Clube de
Pindamonhangaba, o rio Paraíba, na altura de Jacareí, recebeu aproximadamente 18 mil exemplares de mandiuva e pintado.
Os mandiuvas, que em média chegam a atingir 4 quilos, não possuíam na época do lançamento ao rio mais que 20 cm e pesavam 150 gramas; já os pintados, também chamados de surubins, que podem atingir peso superior a 50 quilos, pesavam de 1 a 1,5 quilo e mediam entre 30 e 50 cm. Bons tempos, bons tempos…