Lembranças Literárias : A filha do coveiro
Publicada dia 21 de setembro de 2021
(do cancioneiro espanhol)
Presa de um mal traiçoeiro,
acabara de expirar
a filhinha do coveiro
exclusivo do logar.
Ele mesmo a filha amada
ao cemitério levou,
abriu-lhe a final morada,
co’as próprias mãos e enterrou.
Só quando a tarde desceu
do Campo santo saiu:
Numa das mãos o chapéu,
n’outra a pá que lhe servia.
Porque baixa o rosto e chora.
Diz-lhe alguém: – Que tem Simão?
— Sou coveiro e venho agora
de enterrar meu coração…
Mário Rey, Tribuna do Norte, 21/9/1930