Vanguarda Literária : INFÂNCIA: POR UMA COMPREENSÃO HISTÓRICA

O indivíduo,dentro do processo do desenvolvimento humano cresce num contexto de interação constante com as instituições da sociedade, as quais estabelecem limites às suas oportunidades pessoais e sociais dando, sem sombra de dúvida, origem às experiências próprias que irão modelar a sua vida.
Para que enriqueçamos o nosso cabedal de conhecimento desses limites torna-se necessária forças produziram essas mudanças consideráveis. Anderson, em 1956,ao se referir ãs perspectivas históricas do desenvolvimento infantil, chama-nos a atenção para as descobertas a respeito da criança como sistema biológico, no que concerne às tremendas mudanças, dando-nos a idéia de que o homem chega a cada idade da vida como um principiante.
Há três séculos, a infância (enquanto conceito) não existia nos países do velho mundo para a grande maioria da população, pois após um período curto de dependência, elas já passavam direto para a sociedade adulta: faziam o mesmo trabalho, jogavam os mesmos jogos, enfim, eram miniaturas de adultos. Naquela época havia menos pessoas idosas (poucas ultrapassavam os 50 anos de idade), poucas escolas e a grande massa populacional era analfabeta.
A idéia de família nuclear como unidade definida e separada, provendo as necessidades emocionais de pais e filhos simplesmente não existia. Não se falava sobre o problema de relacionamento de grupos de crianças e adultos, porque não estavam divididos, e a questão de orientação vocacional, por exemplo, sequer era tocada, pelo fato de que as tarefas futuras já serem determinadas desde o nascimento.
De trezentos anos para a época atual, assistimos a extraordinária expansão das escolas, do desenvolvimento da família nuclear, e as noções de infância, adolescência e juventude (esse termo último só passou a ser conhecido a partir de 1968, com os trabalhos de Keniston, pasmem!) dentro dos estágios do desenvolvimento vital. Ariés, em 1962, em monumental obra: “Centuries of Childhood” cuidadosamente elaborada, em suma, descreveu o surgimento da infância e sua associação com a ESCOLA MODERNA e a FAMÍLIA BURGUESA, chegando a afirmar: “Os estágios do desenvolvimento individual reconhecidos pela convenção cultural dependem da existência de instituições sociais específicas”. Não podemos, em nenhuma hipótese, olvidar que a Revolução Industrial transformou a sociedade no que se refere a reorganização dos padrões educacionais e da vida familiar, tanto é que Ivan Illich, em 1972,resaltou em relação à infância: “Como a maioria das pessoas vive fora dos centros industriais urbanos, a maior parte delas não experimenta hoje a infância. Sòmente com o advento da sociedade industrial se tornou exequível a produção em massa da infância que passou a estar ao alcance das massas”.
Quando, em rápidas reflexões tentamos retomar a questão da infância, dentro do prisma histórico-social, temos certeza de que nós, pediatras, que tanto nos instrumentalizarmos dentro do referencial crono – biológico, carecemos desse entendimento altamente importante para o desenvolvimento do nosso papel na sociedade hodierna. Importante e essencial, sob pena de permanecermos sempre com uma visão fragmentada da infância, e atuarmos simplesmente como “especialistas em doenças da infância”, sem entendê-la, o que seria lamentável e trágico!.