cartinha de natal

Ninguém acertou o último Proseando. O nome da pianista é FÁTIMA: (irmão do pai sem a última letra (TI-o); sílaba do regente da orquestra (MA-estro); quarta nota musical (FÁ). No Proseando de hoje vamos fazer diferente? Se o texto tocar o seu coração, que tal você presentear alguma família carente?

O sol começava a se esconder atrás do morro. Precisava caminhar mais depressa, subir pelas vielas até chegar à casa de madeira e lata. O saco com latinhas não era pesado, mas incomodava quando batia nas costas. De vez em quando encontrava um restinho de refrigerante e matava a vontade.
Tianinha era um fiapo de gente, nem parecia ter nove anos. Morava com a mãe e os três irmãos menores. O pai perdera a vida numa briga de bar. A mãe ficara paraplégica depois de atropelada por um grã-fino embriagado. Desde então, a menina passou a catar recicláveis. Com o dinheiro comprava algum alimento para a sobrevivência da família. Mas havia dias de pratos vazios e outros em que jejuava para não faltar à mãe e aos irmãos.
Enquanto subia o morro, o coração da menina chorava. Era noite de Natal e ela queria ter comprado presentes para a mãe e cada irmão. Mas cadê dinheiro? As lojas estavam decoradas com alegria. Pessoas bem vestidas carregando sacolas e caixas. Coitadinho dos irmãos. Mais um Natal sem presentes.
Empurrou a porta e os irmãozinhos correram para abraçá-la.
— Hoje tem papá?
Tianinha enxugou os olhos, colocou pratos na mesa e neles partiu pedaços de pães amanhecidos. Em seguida, despejou o restinho do leite de anteontem. Amassou o pão e deu aos irmãos. Em seguida, foi ao quarto, umedeceu pão no leite e colocou na boca da mãe. Beijou-a e disse que a amava muito.
Enquanto a mãe comia, sua barriga roncava. “Não estou com fome não, mãe. São gases”. Dos olhos da mãe escorriam lágrimas.
Depois de alimentar a mãe, cobriu-a e foi se debruçar na janela. Era um ritual. Conversava com Deus pedindo dias melhores, pedindo o fim da miséria.
Ela havia escrito cartinhas com o nome de cada irmão, da mãe, e o dela também, endereçadas ao Papai Noel. Embora soubesse que o velhinho fosse uma invenção comercial, esperançava-se.
Conversou com Deus, relendo cada pedido. Carrinhos para os irmãos, cadeira de rodas para a mãe e, para ela, uma bicicleta.
— Bicicleta, pra quê? — pensou ela — Tenho pernas.
Pegou outra folha de caderno e escreveu:
“Papai Noel. Papai do Céu.
Eu não quero nenhum presente pra mim. Eu não preciso de nada. Eu já ganhei os mais lindos presentes que são meus irmãozinhos e minha mãezinha.
Troque, por favor, a bicicleta por pratos de comida”.