Nossa Terra Nossa Gente : “TAR E QUAR” A RUA DO MEU IRMÃO

A Rua José Benedito Salgado, no centro de Pindamonhangaba, foi o primeiro endereço da Princesa do
Norte a que eu tive acesso. Nela residiam os pais do meu melhor amigo de faculdade, Elydio dos Santos
Neto. Éramos colegas na Faculdade Salesiana de Lorena e, para continuarmos a prosa sobre os livros de
Teilhard de Chardin que líamos avidamente, a troca de cartas durante as férias era imprescindível.

Como tudo na vida está misteriosamente entrelaçado, aquela jovem universitária não poderia imaginar que, após três décadas, a vida se encarregaria de levá-la a morar em Pindamonhangaba e, lá, estreitar laços mais fortes com esse “tar” José Benedito Salgado, assim como com o seu irmão Vicente de Paula
Salgado (1917 – 1999), o “quar” foi meu patrono quando ingressei na Academia Pindamonhangabense de
Letras!

Os irmãos José e Vicente, nos idos de 1940, formaram a dupla caipira TAR E QUAR, sucesso estrondoso nos meios radiofônicos (Rádios Ipanema, Nacional, Cruzeiro do Sul e Mayrink Veiga) e na gravadora
de seus discos, a Colúmbia. “Musga internacionar”, “Disco quebrado”, “Vida na Roça”, “Meu Rio Grande”, “O Carreiro”, “Foi a Rosa” e “Adeus Pindamonhangaba” eram tocadas nas rádios da Princesa do Norte e de todo o Brasil!

Infelizmente, a carreira da dupla TAR E QUAR esmoreceu quando José sofreu um grave acidente
doméstico, vindo a falecer aos 26 anos. Pindamonhangaba e o Brasil perdiam não só José, mas a pioneira dupla de música regional sertaneja que encantou o país!

Vicente, sem o irmão e o companheiro de viola e de voz, encontrou na arte, na poesia e, sobretudo, no
exercício do Magistério (Professor de Desenho), motivos para seguir sua jornada sem o José! E Pindamonhangaba, ao homenagear o filho ilustre, conferindo a um de seus logradouros o nome de José Benedito Marcondes (1919 – 1945), o imortalizou.

Recentemente, lendo um poema de Vicente, “A rua do meu irmão”, percebi a amorosa história que unia  os irmãos Salgado e a poesia escondida nessa rua pequenina, travessa da Rua Dr. Alfredo Valentini, que tanto fala ao meu coração!

A RUA DE MEU IRMÃO
Era uma tarde luminosa
da minha terra saudosa.
A Mant queira toda azul
misturando-se com o céu azul.
(…)
Numa dessas tardes
fui conhecer a rua do meu irmão.
Que ruazinha bonita,
pequenina, silenciosa, carinhosa.
É a rua do meu irmão.
Se meu irmão ainda t vesse vida,
aquela seria
a sua rua preferida.
Aquela rua tem poesia.
Aquela rua tem melodia.
Aquela rua tem fé.
Foi feita para você, JOSÉ.
Ao vê-la com emoção,
sent o meu irmão presente
a convidar-me todo sorridente:
“Venha conhecer, meu irmão, a rua do seu irmão”