Nossa Terra Nossa Gente : MÚSICA E MUSICISTAS: O LIVRO INÉDITO DE ATHAYDE MARCONDES
Na Pindamonhangaba de 1922, Athayde Marcondes (1863 – 1924) finalizou uma vasta pesquisa em dicionários, livros, jornais, artigos de revistas nacionais e internacionais para compor“Música e Musicistas – Histórico da Música do ano 37 da Era Cristã até 1922”.
O célebre historiador intencionava publicar o manuscrito de 788 páginas no Centenário da Independência do Brasil, entretanto, em decorrência do grande porte da obra, não foi possívelmaterializar seu sonho…
Em 2016, essa raridade, que estava sob a guarda da família, foi doada por seu neto, o publicitário José Luiz Gândara Martins, ao Centro de Memória Barão Homem de Melo, e, graças ao primoroso trabalho do Departamento de Cultura de Pindamonhangaba, tive acesso à obra, que se mantém impecável apesar da centenária existência.
Antes de abrir o manuscrito, um ritual particular: agradeço ao autor e lhe peço licença para adentrar esse universo de sonho e de vida – nem sempre legível entre as páginas a serem consultadas. Só depois, com profundo respeito e cuidado, abro o volume em capa dura azul anil e letreiro dourado. O papel utilizado por Athayde foi o quadriculado de meio centímetro, escritocom caneta-tinteiro e caligrafia impecável, sendo os títulos em caixa alta e os textos em letra cursiva.
Na página de rosto do manuscrito, há informações preciosas sobre o autor e sua obra:
“ATHAYDE MARCONDES, do Instituto Histórico e Geograhico de São Paulo, da Sociedade de Geographia do Rio de Janeiro, da Associação Brasileira de Imprensa e do Instituto Geographico e Histórico da Bahia”.
“MÚSICA E MUSICISTAS: Historico da musica, Biografias e Bibliografias. COMMEMORATIVO DO CENTENÁRIO DA INDEPÊNDENCIA contendo vocabulos e phrasesmusicaes, com exemplos no texto, nomes de instrumentos antigos e modernos; História da Musica de diversos paizes; Biographias de cantores, compositores e musicographos; Títulos de Operas Antigas e Modernas, Época de sua representação; Hymnos de Diversas Nações, Músicas Imitativas, Canções e Notícias desde o Anno 37 da Era Christã até o Anno de 1922”.
No final da página, o desenho de uma harpa e a inscrição do ano em que foi concluída: MCMXXII.
A obra foi dedicada “à memória de Lulú Mariano e à de meu pae, meus primeiros professores de musica. O.D.C.” e “à memoria de A. Carlos Gomes, a maior gloria da arte nacional”(O.D.C. está grafada em todas as obras de Athayde e significa Ofereço, Dedico e Consagro).
Da primeira à última página, o manuscrito é um primor: da caligrafia aos registros de partituras, à colagem das imagens dos biografados, dos recortes de livros e revistas.
Nos verbetes, em ordem alfabética, estãoos compositores Carlos Gomes, Guiomar Novaes, João Gomes de Araújo, dentre outros. Em “MUSICA”, Athayde cita Plutarco: “a musica é filha do Amor” e Dante Alighieri: “a musicaattrahe para si os espíritos humanos”.
Ao finalizar a pesquisa, confesso que esse extraordinário compêndio “Música e Musicistas – Histórico da Música do ano 37 da Era Cristã até 1922” tem o dom de nos comover profundamente – nele está impregnado o amor de Athayde pela arte das musas! – e de nos atrair para o sonho adormecido de nosso musicólogo e, nesse tempo e lugar – Pindamonhangaba, 2022, Bicentenário da Independência – indagarmos: o que nos falta para trazermos à luz essa obra de riqueza ímpar para a Princesa do Norte e para o Brasil?
Infelizmente, Athayde faleceu dois anos depois de seu tão sonhado projeto nacional, em setembro de 1924… E, o mais incrível, seu sonho permanece vivo e soberano por um século!