História : A Tribuna e uma rivalidade entre bandas musicais
Retornamos aos fatos policialescos que teriam ocorrido em Pindamonhangaba e divulgados no jornal Tribuna do Norte na primeira década dos anos 1900.
Trazemos hoje um acontecimento envolvendo a quase bicentenária Corporação Musical Euterpe. Em agosto de 1907, quando a entidade já era uma octogenária, aconteceu uma disputa que, infelizmente não foi nenhuma competição musical entre bandas…
Euterpe x Sete de Setembro
Em sua edição de agosto de 1907, como título “Agressão”, a Tribuna vinha com essa notícia policialesca e politiqueira:
“Conforme prevíamos, e fizemos sentir com outro lugar do nosso jornal, foi ontem às 8 horas da noite agredido traiçoeiramente por um grupo de músicos que fazem parte da Banda Sete de Setembro, o eleitor Alexandre de Paula Santos, quando este acompanhava a Banda Euterpe”.
E aqui, na matéria da referida edição, a Tribuna assume um lado: “Não precisamos dizer que a banda Sete de Setembro conta com a proteção da polícia, e nem se pode atribuir senão a isso a audácia com que se conduzem os membros desta corporação, sempre que se apresentam em público”
E cobra providências, “Pedimos a atenção do Dr. Secretário da Segurança Pública que, se não chamar a ordem a polícia local, corre risco de, amanhã ou depois, receber a notícia de algum grande conflito, em que algumas vidas venham a perecer…”
Chega até a apontar o possível agressor: “…dizem-nos que o ofensor se chama Antônio de tal, filho de Manoel Carpinteiro”.
Indo mais longe ainda, acusa a autoridade policial local: “Informamo-nos que o dr. delegado de polícia, propositalmente manda desarmar os que acompanham a Euterpe, permitindo porém, que os da Sete de Setembro a acompanhem perfeitamente armados”.
Comprovando a sua condição de entidade solidária e amiga da Banda Euterpe, a Tribuna acentua: “É uma tristeza andar a polícia a proteger músicos dando razão a quem não a tem”.
Era um tempo em que a Tribuna vivia às turras com a polícia local e a Câmara Municipal. Também nessa edição foi publicada uma queixa sobre o mesmo assunto, enviada por um de seus assinantes:
“Pedimos que se chame a atenção do doutor delegado de polícia para as constantes provocações dirigidas pelos admiradores da banda Sete de Setembro aos músicos da Corporação Euterpe sempre que esta tem ocasião de aparecer em público.
Já por 2 vezes a Euterpe tem tido necessidade de revestir-se de muita prudência para evitar conflitos.
Isto depõe muito contra a imparcialidade do dr. delegado a cujo partido se acha ligada a banda provocadora.
Qualquer dia pode aparecer por aí grande conflito, e depois a polícia é que não venha dizer que não sabia.
Fazemos desde já a polícia responsável pelas consequências das provocações que a banda Sete de Setembro dirigir a Euterpe que não há razão para ter menos garantia do que a outra.”
Concordando com o leitor, o jornal volta a alertar: “Fica a reclamação de todo ponto justa; pois a polícia não deve tomar parte em questões de rivalidades de corporações musicais, senão para manter entre elas mútuo respeito”.
Banda Sete de Setembro. No livro de Atahyde Marcondes, Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos (Tipografia Paulista 1922), encontramos esta entidade musical grafada ainda como Fanfarra: “Sociedade musical dirigida por José Marcondes de Oliveira e Gregório J. Esteves, sob a regência do hábil musicista João Maria Pires. Prestou bons serviços à igreja e nas festas patrióticas e populares”.