Vanguarda Literária : PERCEBENDO A VIOLÊNCIA NA ESCOLA
A escola, assim como a família, está inserida em uma comunidade específica, sofrendo as influências desse ambiente. Desta forma, no que diz respeito à estrutura material, em geral a situação das escolas é muito precária, especialmente nas localidades mais pobres. Usualmente, são de difícil acesso, possuem turnos reduzidos e turmas cheias, apresentando elevada evasão e distorção série-idade, faltam materiais de uso diário, as dependências e mobiliário não tem manutenção e apresentam grande lacuna no quadro de pessoal. Este quadro de escassez se associa à situação dos profissionais que nelas se inserem, que recebem baixos salários e se submetem a condições indignas de trabalho.
Quanto aos alunos, estes se autorreferem como cumpridores de seus “deveres” não costumando faltar às aulas nem chegar atrasados. A relação emocional aluno-escola, aparentemente, é mais fortalecida entre os alunos mais pobres. Gostam de estar no espaço da escola, valorizando as amizades que ali se formam e as atividades recreativas e esportivas desenvolvidas. Por outro lado, o relacionamento com os professores, no geral, não é muito bom, apontando para um frágil diálogo. Os alunos possuem uma autoimagem negativa, gerando, consequentemente, um sentimento de menos-valia e frágil autoestima. Observam-se ainda comportamentos destrutivos na escola como: quebrar objetos, bater e machucar os colegas. Percebem-se como únicos culpados pelo fracasso escolar. A visão limitada e idealizada que têm do processo educacional, a que estão submetidos, é muito semelhante àquela que têm da família. Ambos os espaços são vistos como isentos de violência, evidenciando uma visão de submissão. A percepção de violência na escola se restringe às brigas entre os colegas, que, entretanto, consideram normais.
Embora os alunos não nomeiem a violência na escola, não se pode deixar de conceber as deficiências do sistema educacional como prova da violência estrutural, que não oferece, para a grande população, nem infraestrutura adequada, nem qualidade de ensino digna. Por outro lado, o professor é também vítima dessa engrenagem em que a violência se manifesta e se reproduz. O processo de recuperação da escola só poderá se dar a partir da própria escola quando educadores, famílias e comunidades envolvidas se articularem, de distintas formas, pressionarem os governos por uma melhoria radical de ensino. Contudo, algumas soluções estão dentro da própria escola, Repensar o seu papel na construção do autoconceito de seus alunos, estimular a sua consciência, acenar com a possibilidade de ultrapassar limites estimulando sua autoestima é tarefa que, sem dúvida, contribuiria para a melhoria do desempenho escolar e individual.
O processo de sensibilização e conscientização da necessidade de lutar contra a violência é função que a escola pode e deve assumir, engajando-se junto com a sociedade na busca de sinais de vida para enfrentar a destruição e a morte. Se a escola conseguir dialogar consigo mesma e com a sociedade em seu redor, internalizando a noção de que a violência não é só do outro, mas também nossa,poderá contribuir para um novo momento,em que se enfrente comprometidamente o problema-escola, educadores, família e sociedade, buscando em conjunto a prevenção da violência.