Nossa Terra Nossa Gente : UM PASSEIO PELA PINDAMONHANGABA DE BALTHAZAR
São 11 horas da manhã e eu corro para a Estação para esperar a chegada do Rápido. Balthazar de Godoy Moreira salta do primeiro vagão. De terno e uma pequena maleta à mão, vou ao seu encontro, cumprimento-o e agradeço-lhe por ter aceitado o convite de revisitar sua terra natal, terra que ele cantou em prosa e verso…
O grande poeta e educador, gentilíssimo, aperta minha mão, e, juntos, descemos da plataforma em direção ao Grupo Escolar Dr. Alfredo Pujol, escola em que ele foi diretor, aposentando-se em 1950. O portão, em ferro fundido, com arabescos belíssimos, abre-se para nós, e, na calçada que nos leva à pequena escada de entrada, vamos conversando sobre suas lembranças…
É manhã de domingo, e, por isso, as salas de aula, os corredores e o pátio estão silenciosos. Balthazar conta sobre as escolas que ele criou nos mais distantes bairros de Pindamonhangaba, contribuindo para a democratização do ensino primário no município, levando o saber às crianças que não teriam acesso à educação se não houvesse escolas perto de suas casas.
Digo-lhe o quanto somos gratos pela riqueza que ele nos legou e que a sua história jamais pode ser esquecida! Seguimos proseando em direção ao sobrado em que nasceu aos 13 de janeiro de 1898, em frente à Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Ao atravessarmos o Jardim da Cascata, o poeta comenta como está modificado e que as casas de comércio agora ocupam todas as ruas do seu entorno. Para surpresa dele, o antigo sobrado dos Godoy Moreira também abriga lojas de comércio no andar térreo.
Balthazar tira do bolso uma chave misteriosa que, ao dar meia volta na porta, o passado reluz! A porta se abre, e sou convidada a adentrá-la. Percorremos salas, quartos, corredores e alcovas. A escada nos conduz ao piso superior. O poeta deseja me mostrar a imponente Serra da Mantiqueira, o altar mor e a nave da matriz, o sino repicando as badaladas do meio-dia: blém-blém-blém…
Para tristeza minha, Balthazar confessa que precisa regressar no trem das 13 horas! Com os olhos rasos de lágrimas, ele me diz: “Não volto a Pindamonhangaba, nunca, sem me comover. Ouço-lhe as vozes. Até as pedras de suas calçadas me falam. Em cada esquina, mesmo naquelas que o progresso mudou – não sou contra o progresso – encontro o passado e juntos, cavaqueamos. E como são doces as nossas conversas. As ruas foram calçadas. Residências de um apurado gosto artístico foram construídas; jardins embelezaram as praças; novos bairros estenderam o aranhol das ruas; e novas casas de ensino; e um novo alento. A cidade cresce e se impõe. É assim que a queremos”.
Suas palavras reverberam em mim. Tenho pela Princesa do Norte idêntico sentimento de amorosidade e pertencimento. Na estação, Balthazar estende a mão para despedir-se. Assim como o poeta, estou profundamente comovida. Ele sabe o que me é indizível. Ainda posso sentir a mão dele desprendendo-se das minhas e, por fim, seus pés se afastarem ligeiros. Na minha mão, Balthazar deixa de lembrança a chave mágica que abre as portas da sua história…