História : Em defesa da Pinda antiga…
Pindamonhangaba, cidade conhecida por conquistar e tornar seus cidadãos os naturais de outras cidades, possui inúmeros e lindos casos de pessoas que para cá
vieram para trabalhar e defender a cidade com amor, garras e dentes!
Página de História desta edição vai relembrar um fato relacionado não à incontestável “prataria da casa” (essa extensa galeria de filhos ilustres), mas a uma “prata de fora” (era de Taubaté), que aqui se tornou “ouro”… e por aqui ainda reluz: José de Athayde Marcondes, o “professor Thayde”, como era conhecido.
Era o início da década de 20 do século passado. Athayde, embora tivesse deixado a direção do jornal Tribuna do Norte, continuava firme o representando, assim como também representava Pindamonhangaba em quaisquer contendas, as quais o escritor sentisse intenções em diminuí-la.
Foi na edição de 27 de fevereiro de 1921. Escritor, musicista, poeta, político e jornalista acostumado a responder ataques com a maestria de um defensor, Athayde, desta vez, respondia, no artigo intitulado “Defendendo”, a alguém que andara falando aquilo que não deveria de sua bela “Princesa do Norte”…
E começava já, o velho professor, mostrando as garras: “Há dias nos chegou aos ouvidos que um moço leviano, pouco educado e sem compostura que o recomende ao respeito e à consideração de quem quer que seja, anda lá pelas bandas do oeste a dizer mal de nossa Escola e a dizer de nossa terra inverdades”. A “Escola” da qual se referia era a Escola de Farmácia e Odontologia que andara sendo alvo de maledicentes.
Denunciava aos leitores da Tribuna aquilo que ouvira, o jornalista historiador: “Dentre as asneiras que brotaram espontaneamente dos lábios do novo papagaio, palrador sem critério destacam-se estes asneirões: – que Pindamonhangaba é uma cidade muito feia e sem higiene; que os pindanos são muito ignorantes e mal educados; que é lugarejo atrasado; que as moças daqui são muito feias (!!!) e que as velhas são muito carolas!”.
E o tinha por conta de um salafrário que saira da cidade fugido: “Mas que grande pândego esse que tem a petulância de nos julgar desta maneira. Hão de ver que esse desconhecido, cujo nome não nos disseram, fez por aqui alguma falcatrua e daqui saiu à francesa!”.
E questionava, inconformado: “Uma cidade que sustenta um Club Literário há quarenta anos; um jornal há 39; que tem trezentos e setenta e sete formados em direito, medicina, engenharia, farmácia, em pedagogia, em odontologia etc. etc. é uma terra de ignorantes?!!!
Uma terra onde se vê trançados por toda a parte de seu município fios telegráficos, telefônicos, elétricos e que tem uma estrada de ferro que percorre grande parte ou a maior parte do município é lugar atrasado? Um lugar que tem carros de praça, autos, bicicletas é então lugarejo atrasado?”.
Os exemplos de urbanização e encantos que poderiam ser encontrados nesta cidade nas primeiras décadas de 1900, ele enumerava: “Os nossos ricos e suntuosos palacetes e outros prédios elegantes de arquitetura moderna dão à cidade uma extraordinária beleza. A nossa matriz, que é um dos mais belos templos do Estado ou da Diocese; os demais templos elegantes como igrejas do Rosário, São José, São Benedito, Santa Rita – todos, enfim denotam que tudo aqui é feito com elegância, e isso prova que o nosso povo não é atrasado”.
Athayde Marcondes não omitiu em sua animada descrição as ruas da Pinda antiga, a água vinda da serra: “As nossas ruas são varridas diariamente e as principais duas vezes; a nossa cidade é abastecida pela água da serra do Trabijú, e é excelente; o escoamento das águas é feito naturalmente graças à colocação da cidade; onde pois uma cidade sem higiene, como diz o mau informante?”.
Concluindo, feito advogado encarnado na defesa dos seus, o bom pindamonhangabense se coloca à frente de sua querida Escola de Farmácia e Odontologia…
“Não contente o palrador de nos deprimir ainda teve a ideia infeliz de dizer para os que lhe deram ouvidos que a nossa Escola de Farmácia é uma quitanda e que ali se vendem diplomas a quem quiser compra-los! Desafiamos a esse blefador que declare pela imprensa da capital quem é a pessoa que comprou diplomas falsos.
Daremos um prêmio a esse palrador, se o provar. Se for capaz cite um só caso ao menos.
Debalde inimigos de nossa terra e de nossa Escola tentam deprimi-la; debalde as revistas de reclame dão notícias para desmoralizar a nossa Escola, o seu diretor e o corpo docente, cada vez mais se firma o conceito da Escola e a nossa cara Pindamonhangaba progride, marcha altiva sempre, não consentindo que esses labéus a atinjam…”
E assina seu artigo, acreditamos tenha sido, com orgulho imenso.